Pesquisa feita com 188 estudantes paulistas entre 14 e 15 anos buscou descobrir os principais interesses em relação à temática da biodiversidade. Resultados podem subsidiar a constituição dos currículos e materiais didáticos – Foto: Pixabay
POR- AGÊNCIA FAPESP / NEO MONDO
Compreender os interesses dos jovens em relação à ampla temática da biodiversidade tem sido o objetivo de alguns projetos de pesquisa conduzidos no âmbito do Programa BIOTA-FAPESP. Estudo publicado recentemente no periódico Sustainability revela que, no Estado de São Paulo, aspectos relacionados com a saúde – como uso de plantas medicinais, desenvolvimento de novos fármacos ou a relação direta entre biodiversidade e doenças – foram os que mais chamaram a atenção dos jovens.
O levantamento foi conduzido pela pesquisadora da Universidade Federal do ABC (UFABC) Fernanda Franzolin no segundo semestre de 2019 e envolveu 188 estudantes (com idades entre 14 e 15 anos) de dez escolas localizadas em diferentes regiões do Estado de São Paulo.
Segundo a autora, compreender com profundidade o que interessa aos estudantes – e também o que não interessa – é um passo essencial para a construção de caminhos pedagógicos. “Pesquisas como essas são baseadas no pressuposto de que é preciso dar mais atenção às vozes dos alunos na constituição dos currículos e materiais didáticos, além de fomentar a relevância e a atratividade do ensino de ciências”, explica.
Quando perguntados a respeito da diversidade de organismos, os estudantes demonstraram maior interesse em temáticas relacionadas à saúde e à sua utilidade para os humanos, mais do que um interesse no valor intrínseco da diversidade biológica. Outros estudos realizados no mundo demonstraram o mesmo tipo de resultado: os jovens também estão mais interessados em temas relacionados ao corpo humano, saúde e doenças em países como a Suécia, Finlândia, Eslováquia e Itália.
O interesse por aspectos relacionados à saúde, em especial ao uso de plantas medicinais, não se relaciona especificamente ao contexto da pandemia. Pesquisas anteriores realizadas no Estado de São Paulo já demostravam o interesse dos jovens na temática.
Os resultados do estudo evidenciaram uma relação antropocêntrica entre ser humano e natureza, isto é, focada na utilização da natureza pelo e para o ser humano. Apesar disso, para os pesquisadores envolvidos, o estudo reforça a ideia de que para aprender sobre biodiversidade nas escolas é importante endereçar as preocupações dos alunos em relação à preservação ambiental. E uma forma de estimular esse interesse entre os jovens é conectar os temas da biodiversidade com a saúde.
“É importante tratar o viés da saúde humana como meio e não como fim na educação em biodiversidade, considerando o valor da biodiversidade para a saúde como uma forma de promover o valor intrínseco da biodiversidade”, ressalta Franzolin. “Esse é um caminho que abre possibilidades de diferentes conexões tanto com a questão da conservação ambiental quanto com o interesse dos jovens”, completa.