Vista aérea de floresta estacional semidecidual no Parque Estadual Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio, Estado de São Paulo – Foto: Edmar Jr/Wikimedia Commons
POR – AGÊNCIA FAPESP / NEO MONDO
Em estudo recentemente publicado na revista Nature Ecology & Evolution, um grupo internacional de pesquisadores buscou compreender quais aspectos do funcionamento das florestas tropicais podem garantir maior ou menor resiliência às mudanças climáticas globais.
Como explicam os autores, em um ecossistema todos os organismos interagem entre si e com diversos fatores ambientais, como temperatura e disponibilidade de água, por exemplo. Essas interações são influenciadas tanto pela diversidade de espécies como pela diversidade de grupos de espécies com funções específicas dentro de um mesmo ecossistema, ou seja, pela diversidade funcional. Outro conceito importante para a compreensão da pesquisa é a redundância funcional – que ocorre quando em um mesmo ecossistema existem várias espécies que desempenham a mesma função. Nesse caso, se uma delas desaparecer, sua função ecológica não estará perdida.
No trabalho, os pesquisadores analisaram as relações entre a diversidade funcional e a redundância funcional das florestas tropicais com sua capacidade de adaptação a mudanças. A análise levou em consideração um conjunto de dados sobre 16 características morfológicas, químicas e fotossintéticas de 2.461 árvores individuais amostradas em 74 locais, distribuídos em quatro continentes. Também foram avaliados dados climáticos registrados nesses mesmos locais nos últimos 50 anos.
Para a região da Mata Atlântica e da Amazônia, foram usadas informações coletadas em três projetos vinculados ao Programa BIOTA-FAPESP (12/51872-5, 12/51509-8 e 03/12595-7).
As descobertas sugerem que áreas com alta diversidade funcional e alta redundância funcional tendem a manter melhor o funcionamento do ecossistema após eventos climáticos extremos, ou seja, são mais resilientes às mudanças climáticas. As florestas tropicais mais secas possuem menor diversidade funcional e menor redundância funcional em comparação com florestas mais úmidas, o que pode deixá-las em risco frente aos declínios de disponibilidade de água que têm sido identificados nas regiões tropicais.
Para o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Carlos Joly, um dos autores do artigo, os resultados ressaltam a importância de conservar as florestas deciduais (caracterizadas pelo clima com duas estações bem marcadas: uma seca e outra chuvosa) e semideciduais do interior do país.
“Essas florestas são parte da Mata Atlântica, ocupam o espaço entre a zona úmida costeira e interior mais árido e têm como característica a perda das folhas ou parte das folhas no período mais seco”, explica o pesquisador.
Joly também destaca o recém-lançado Plano de Ação Climática 2050 do Estado de São Paulo, que prevê a restauração das áreas de florestas semideciduais e a conexão entre essas áreas para aumentar a resiliência a mudanças climáticas. “Os resultados encontrados nesse artigo reforçam a importância dessa ação”, afirma.
Os autores ressaltam que as mudanças climáticas estão alterando as condições da Terra, afetando o clima regional e, em um futuro próximo, o aquecimento global provavelmente causará o surgimento de condições climáticas sem precedentes nas regiões tropicais. Portanto, determinar a distribuição das florestas tropicais mais ou menos resilientes a um clima em mudança e entender os mecanismos envolvidos é fundamental para a conservação da biodiversidade e do funcionamento dos ecossistemas.