Claudia Andujar ao centro – Foto: Divulgação
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Nos 30 anos da demarcação da terra indígena, os yanomami encontram-se em situação grave com ataques do garimpo. Diretora pernambucana Mariana Lacerda revela com crítica e poesia relatos de Andujar, Davi Kopenawa e Carlo Zacquini
A fotógrafa suíça Claudia Andujar, de 90 anos, atravessou a guerra na Hungria, fugiu da perseguição nazista em Viena e, depois de se exilar no Brasil, acolheu e foi acolhida pelos Yanomami, a quem dedicou grande parte de sua vida a salvaguardar. A ligação entre a artista de origem judia e a população índigena – que têm em comum a luta pela sobrevivência – está presente no documentário “Gyuri”, primeiro longa-metragem da diretora pernambucana Mariana Lacerda, que ganhou o trailer oficial hoje, quarta-feira, 25 de maio, quando se completam 30 anos da Demarcação da Terra Indígena Yanomami, que sofre com os ataques do garimpo ilegal.
“Optei por viajar com o mínimo de equipamento possível e uma equipe que me fosse muito familiar, porque queria causar o menor impacto na aldeia e criar um ambiente de afeto entre todos. O filme tem o menino Gyuri enquanto espírito-guia, para contar como Claudia viu os nazistas ocuparem sua cidade e se despediu para sempre, aos 13 anos, de seu pai, deportado para Auschwitz. Seu exílio a trouxe ao Brasil, onde abraçou a causa yanomami e fez deste o seu povo, sua casa”, conta a diretora Mariana Lacerda.
Nos primeiros minutos do filme, exibido no 25º É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, Claudia narra em húngaro – com dificuldade – para o filósofo Peter Pál Pelbart cenas de sua infância e os horrores da Segunda Guerra Mundial. A fotógrafa conta a história de seu primeiro beijo, o único que lhe deu o menino judeu Gyuri. Logo depois, ele e seu pai foram levados para Auschwitz. Hoje com 90 anos, Claudia mostra a Pelbart que ainda guarda consigo a foto de Gyuri e de seu pai.
No segundo momento, o longa-metragem acompanha o reencontro de Claudia com os Yanomami, registrado pela diretora em 2018. No local, a fotógrafa é recebida pelo xamã, escritor e líder político Davi Kopenawa e pelo ativista Carlo Zacquini, missionário católico defensor dos povos originários. No filme, Kopenawa relata a admiração que sempre nutriu pela capacidade de Claudia em compreender a alma do outro. Em contraposição, critica o governo brasileiro, que nunca se importou com os indígenas.
Nos últimos quatro anos, os Yanomami sofreram diversos ataques do garimpo, agravado em 2020 com a Covid-19, levada pelo garimpo. Em abril de 2022, garimpeiros ilegais foram denunciados pelo estupro e morte de uma menina Yanomami. Em maio, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos solicitou à Corte Interamericana de Direitos Humanos uma intervenção de medidas provisórias para proteger os direitos à vida do povo Yanomami devido à “situação de extrema gravidade e urgência de danos irreparáveis aos seus direitos no Brasil”.
“Gyuri” tem recursos do Rumos Itaú Cultural, do Prodecine e do Funcultura Audiovisual, além de contar com apoio do ISA – Instituto Socioambiental, Hutukara Associação Yanomami e Galeria Vermelho. O filme é produzido por Jaraguá Produções (de Carol Ferreira e Luiz Barbosa) e Bebinho Salgado 45 (de Mariana Lacerda, Flávia Lacerda e Marcelo Lacerda). A estreia nos cinemas está marcada para 7 de julho com distribuição da Descoloniza Filmes.
Assista ao trailler abaixo em primeira mão: