Imagem – Divulgação
POR – CLIMAINFO
Em algum lugar da floresta, em alguma dimensão da realidade que infelizmente não é a que vivemos aqui, Bruno e Dom seguem sua jornada de barco. Olhando para o horizonte tomado pelo verde, Bruno matuta sobre como proteger seus amigos indígenas no Vale do Javari. Já Dom rabisca algumas frases em seu caderno para aproveitar depois na redação de seu livro sobre a Amazônia. Dois amigos, que nem um oceano inteiro de distância conseguiu separar, unidos pelo amor à floresta e pela luta em Defesa dos Povos Tradicionais que lá vivem.
A floresta não se desfaz de quem a ama. De alguma maneira, Bruno e Dom seguem com ela, em sua defesa. Abraçados pela natureza que tanto admiraram, agora eles são seres encantados dela, lendas perpétuas das quais os netos dos nossos netos contarão uns para os outros com respeito e assombro. Respeito pelo trabalho e pela luta que deixaram conosco. Assombro pelo fato de a floresta, esse gigante verde, um dia ter sido ameaçada.
“Como é possível que existissem pessoas que queriam destruir a floresta?”, perguntarão. “Por que os avós de nossos avós não reagiram para defendê-la?”. Alguns reagiram, como Bruno e Dom. Outros viraram o rosto para o outro lado. E outros poucos, mas poderosos, encontraram na destruição um caminho para o enriquecimento particular e o poder político. Foi contra esses poucos, mas poderosos, que Bruno e Dom deram suas vidas. Para evitar que a floresta fosse destruída. Para acordar os demais do perigo e mobilizá-los em sua defesa. Para garantir que ela pudesse sobreviver para ser admirada pelos netos de nossos netos.
“Deu certo?”. Não sabemos a resposta. Mas cabe a nós, a quem ficou neste plano, não apenas a dor da perda, mas a gana da luta, a vontade e a dedicação para que essas mortes não tenham sido em vão. Os suspeitos detidos podem ser os responsáveis materiais pelo crime, mas sabemos muito bem que a responsabilidade moral está nas costas de outras pessoas – aquelas poucas, mas poderosas, que se escondem por trás da miséria e da desolação que espalham na floresta, e que permitiram que esse crime ocorresse. Cabe a nós, nas urnas e na Justiça, honrar a memória de Bruno, Dom e de tantas e tantos defensores da Amazônia e de seus Povos Indígenas, ribeirinhos e extrativistas que padeceram ao longo das décadas. Que possamos dar a resposta aos netos dos nossos netos: “Sim, deu certo”.
O ClimaInfo e seus colaboradores se solidarizam com as famílias de Bruno Pereira e Dom Phillips. Que tenham toda a força do mundo para superar essa dor. E que os criminosos sejam responsabilizados e penalizados com toda a força da Lei.