Fotomontagem com imagens PxHere – Arte: Jornal da USP
Por – Fernanda Real, para Jornal da USP / Neo Mondo
Especialistas comentam sobre relevância do estudo que traz ineditismo por tratar da possibilidade de se plantar em locais extremos, como a Lua
Pela primeira vez na história, cientistas plantaram amostras retiradas do solo lunar. O experimento, realizado em laboratório, contava com aproximadamente 12 gramas retirados das missões Apollo 11, 12 e 17, e tem como pano de fundo os estudos sustentados pela nova corrida espacial e a tentativa de facilitar as idas ao espaço.
Assim como comenta o professor Fábio Rodrigues, do Instituto de Química da USP: “A um passo do futuro de o ser humano conseguir viver longos períodos fora da Terra, seja numa estação espacial, plantando seu próprio alimento, mesmo apresentando condições distintas, tanto o solo lunar quanto o solo marciano têm potencial em termos de produção de alimentos fora da Terra”. A relevância do estudo traz ineditismo por tratar da possibilidade de se plantar em locais extremos, como a Lua.
Para a realização do estudo foram utilizados exemplares de Arabidopsis thaliana, uma espécie de “mosca de fruta” na área da botânica, muito utilizada em experimentos. A escolha se deu justamente por ela ser de menor porte, correspondendo ao volume de amostra de solo disponível para a realização da pesquisa. No entanto, Carlos Takeshi Hotta, também professor do Instituto de Química da USP, diz que haveria a possibilidade de cultivar plantas como espinafre, que são mais “tolerantes a sais minerais”.
Foi justamente essa tolerância que se levou em conta durante a pesquisa, na qual se observou que as plantas “cresciam muito estressadas”, em função da composição química do solo lunar, bastante rico em minerais como o ferro e tóxica para plantas. Em um paralelo com o solo marciano, o professor Hotta até destaca que substâncias como o perclorato acabam dificultando ainda mais o plantio extraplanetário. “A questão é conseguir descobrir quais plantas sobreviveriam nas condições lunares, para depois também buscar e desenvolver plantas que sejam mais resistentes” a esses ambientes, complementa ele.
A possibilidade de cultivo em solos extraplanetários não se resume ao solo do satélite natural da Terra, como parte de um estudo maior, que busca aumentar o conhecimento em botânica espacial e o lançamento de bases para o cultivo, visando ao fornecimento de oxigênio e comida fora do planeta. A previsão é que a Lua seja um dos primeiros ambientes a serem explorados, para depois chegar em outros ambientes, como o solo marciano.
Importância do estudo
O estudo é de grande relevância. Mesmo com esses desafios, os professores explicam a importância de pesquisas como esta. Hotta afirma que, “quanto mais a gente consegue aprender sobre as plantas, mais estaremos preparados para garantir a nossa segurança alimentar. Então é uma pesquisa que não é só importante para olharmos o futuro. Essa pesquisa pode garantir a nossa sobrevivência num futuro distópico”.
Expandir pesquisas e levar o conhecimento técnico-científico da possibilidade de produção de alimentos em locais extraplanetários aumenta à medida que novas tecnologias surgem nesse campo.
Pelo lado da física, o professor Fábio Rodrigues dá um panorama diferente. Para ele, além do feito ser grandioso, já que outros vieses virão a partir do desenvolvimento dessa pesquisa, destaca ”a possibilidade de produção de alimentos em locais extraplanetários, de CO2 e de oxigênio, para respirarmos e para a produção de bioinsumos”.