O número de candidatos a serem votados pode confundir os eleitores – Foto: Agência Brasil
POR – JORNAL DA USP / NEO MONDO
Segundo Glauco Peres, a grande questão da eleição no Brasil é serem muitos cargos ao mesmo tempo, cinco funções diferentes e com importância distinta
O horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão tem início hoje, dia 26 de agosto e as propagandas podem ser úteis para o eleitor decidir seu voto. Para Glauco Peres, do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, o eleitor precisa dedicar tempo para pensar em quem ele irá escolher para ocupar o Congresso, principalmente os cargos de deputado federal e senador. De acordo com ele, o Congresso agora tem um papel mais central do que o eleitorado costuma atribuir.
Qual a importância do horário eleitoral?
Outra questão pertinente nesse contexto é o número de candidatos a serem votados, fator que pode confundir os eleitores: “A grande questão da eleição no Brasil é serem muitos cargos ao mesmo tempo. A gente tem que votar em cinco cargos diferentes, cinco funções diferentes e com importâncias distintas”. Assim, “é natural” que a população dê mais atenção ao cargo da Presidência em detrimento dos demais, o qual ainda domina os debates políticos.
“Essa é uma das razões pelas quais a gente vê no Brasil uma taxa muito alta de pessoas que não se lembram em quem votou depois da eleição, muito mais que em outros países. Uma razão possível é o fato de que a gente tem muitos cargos para pensar para o mesmo dia”, pensa Peres. É por essa razão que o horário eleitoral pode auxiliar na escolha, visto que ele mostra os candidatos e informações a seu respeito, instigando também os eleitores a irem atrás de saber mais sobre os candidatos em evidência.
Além disso, uma cadeia de fluxo de informações vai se formando, pois uma pessoa que assiste às propagandas eleitorais pode comentar com amigos e familiares, ou mesmo na internet, sobre o que ouviu na televisão e no rádio a respeito das eleições. “O que acontece muito é a gente se informar através de familiares e amigos, perguntar ‘em quem você vai votar?’ e usar essa fonte de informação como critério para decidir”, afirma o pesquisador.
O outro lado da moeda
Apesar dessas contribuições, Peres argumenta que o debate nem sempre é saudável, do ponto de vista da concorrência nesse período. As afirmações passadas, tanto pelos candidatos quanto por seus seguidores, nem sempre são verdadeiras, e o excesso de debates e notícias pode criar uma avalanche de informações que toma o eleitor: “Temas clássicos e recentes vão aparecer. A economia, a gestão da pandemia, assuntos sobre corrupção e a Lava Jato. O Bolsonaro diz que no governo dele não houve nenhum caso de corrupção, o Lula vai ter que se defender das acusações todas que sofreu”.