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ARTIGO
Por – Fábio Zukerman* e Ailin Aleixo*, para Neo Mondo
Atualmente, cerca de 811 milhões de pessoas em todo mundo estão passando fome ou em condições de subnutrição, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). É inegável que a mudança do clima causada pelo homem vem impactando negativamente a segurança alimentar e nutricional da população, uma vez que temperaturas muito altas, estresse hídrico, desertificação e outros processos decorrentes de questões ambientais afetam o direito humano à alimentação, tanto no que concerne à quantidade quanto à qualidade.
Para se ter ideia, segundo a ONU, no final deste ano a população mundial chegará a 8 bilhões de pessoas. Em 2050 a expectativa é de chegarmos a 10 bilhões de pessoas, passando da casa dos bilhões sem acesso a comida, número muito acima dos dias atuais. Consequentemente, teríamos que aumentar em pelo menos 70% a produção de alimentos, porém, não seremos capazes de atingir essa meta, uma vez que as práticas da agropecuária consomem a maior parte dos recursos naturais disponíveis no planeta. Há alguns anos órgãos mundiais já sinalizavam a necessidade de tomar providências com relação ao consumo humano e, agora, os índices não atingem apenas o estômago, como também a economia.
A prova disso é que já em 2020, os problemas com a seca causaram uma quebra de 45,8% na produção de soja do Rio Grande do Sul. Um ano antes, em 2019, 16 milhões de toneladas de soja foram perdidas devido à falta das chuvas. Pesquisadores das universidades federais de Minas Gerais e de Viçosa garantem que nos próximos 25 anos as mudanças climáticas vão afetar diretamente a produção das lavouras. Na prática, o agronegócio pode perder até R$ 5,7 bilhões por ano com o desmatamento.
Não podemos, no entanto, apontar “culpados” e nem nos ater somente a um ou outro lado. De fato, toda a cadeia produtiva de alimentos e o setor da gastronomia precisam estar envolvidos em ações que vão além da cozinha e do prato na mesa. Em termos de tempo, já passamos daquele ponto de apenas discutir melhorias, do marketing sustentável, do canudo de papel, da sacolinha biodegradável. Isso ajuda? Sim, e muito – não invalido estas ações necessárias, mas em termos de tempo estamos atrasados. Nosso problema começa lá na base, no modo que se extrai o que irá ser consumido.
Cerca de ¼ do sul da Amazônia – nos estados de Acre, Amazonas, Rondônia, Pará, Tocantins e Mato Grosso do Sul – atingiram o limite crítico de redução das chuvas por perda de floresta. Em algumas dessas regiões, essa redução já comprometeu 48% do volume de chuvas anuais. Nesse ritmo, perderemos produção de alimentos, investimentos e lucro, e ganharemos escassez, fome, desnutrição e pobreza, que atingirá tanto animais quanto pessoas. A pergunta que fica é: o quanto realmente estamos preparados para este cenário? O quanto realmente pequenos negócios, produtores e restaurantes, têm lutado para mudá-lo? É preciso fazer mais e correr sem se emaranhar nas próprias pernas.
*Fabio Zukerman e *Ailin Aleixo são co-fundadores da Akuanduba, primeira consultoria ESG de soluções estratégicas e iniciativas que impactem positivamente o planeta.