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ARTIGO
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POR – FABIO RUA*, PARA NEO MONDO
Cunhado em 2004, em um documento conjunto do Banco Mundial, Pacto Global da ONU e mais 9 instituições financeiras, o conceito de ESG surgiu como proposta para a obtenção de respostas dos bancos sobre como integrar fatores ambientais, sociais e de governança ao mercado de capitais. Ao estabelecer as bases do investimento sustentável, a publicação obteve diversos desdobramentos ao longo dos anos, até que o termo ganhasse destaque nos fóruns de organismos internacionais, lâminas dos fundos de investimento, termos e condições para a obtenção de financiamento e, mais recentemente, nas rodadas de investimento de startups.
A partir daí, forjou-se um consenso que virou um mantra no mundo dos negócios: lucro e sucesso de longo prazo só são consistentes se trouxerem impacto positivo para as empresas, para a economia, para a sociedade e para o planeta.
Entre o hype e as ações necessárias para demonstrar o real comprometimento socioambiental das empresas, existe um longo caminho que, em meu entendimento, só pode ser percorrido por meio de 3 pilares interdependentes e igualmente importantes: valores, métricas e tecnologia.
O primeiro se faz presente também nas principais decisões organizacionais, que incluem as relacionadas às pessoas, carreira e liderança das empresas. Mais diversidade nos conselhos e nos cargos de liderança. Mais pessoas pretas, asiáticas, com deficiência e neurodiversas. Mais programas de contratação e progressão verdadeiramente comprometidos em equilibrar as vagas preenchidas com pessoas de diferentes nacionalidades, religiões, orientações sexuais, gerações, profissões e habilidades diversas.
E o que antes era visto como puro assistencialismo, hoje tem sido cada vez mais encarado como parte de uma estratégia de inovação, crescimento, desenvolvimento e, não vejo exagero em dizer, de sobrevivência. E não apenas das empresas, já que estamos falando de questões sistêmicas, cujas soluções só sairão do modo “enxuga gelo” quando construídas verdadeiramente em rede.
Justiça seja feita, algumas das respostas coletivas pelas quais procuramos têm sido construídas tanto por movimentos globais (como o já mencionado Pacto Global, o B Team e o Fórum Econômico Mundial) , como também por iniciativas locais altamente meritórias e dignas de engajamento, como a Maturi (plataforma que reúne oportunidades de trabalho para pessoas maduras e experientes), a + Diversidade (consultoria em diversidade e inclusão), a Todxs (ONG que promove a inclusão de pessoas LGBTI+) e tantas outras.
Olhando agora para as métricas, elas são fundamentais para comprovar o resultado que as empresas dizem registrar em suas estratégias ESG e, por consequência, para afastar o fantasma do Greenwashing, ou “Maquiagem Verde” – utilizadas por algumas companhias para passar uma imagem diferente do seu real compromisso socioambiental, normalmente não tão virtuoso quanto suas comunicações e discursos fazem parecer.
No mundo todo, o tema métricas em ESG é um dos assuntos em maior ebulição, já que não existe um consenso em relação ao que e como os indicadores devem ser reportados. Mesmo assim, cada vez mais as organizações têm ido a público para formalizar seus compromissos *socioambientais* por meio de relatórios e comunicações diversas, o que é excelente. Mas, sem uma definição de padrões minimamente aceita, fica difícil comparar.
Infelizmente, não vejo em lugar nenhum do mundo um esforço verdadeiramente global para garantir que tenhamos bases de comparação uniformes. Só para ilustrar, nos últimos meses já tivemos ao menos 3 conjuntos de regras para a divulgação de informações de sustentabilidade sendo propostas por órgãos reguladores diferentes. A Securities and Exchange Commission (SEC), dos Estados Unidos, a European Financial Reporting Advisory Group (EFRAG) e o International Sustainabilty Standards Board (ISSB) vêm trabalhando para emplacar o seu padrão de relatório, que passará a ter validade, alcance e custos diferentes a depender da jurisdição do órgão.
Enquanto não se chega a uma conclusão em relação à melhor metodologia para métricas em ESG, é fundamental que cada organização siga se comprometendo seriamente e implementando ações concretas nas principais práticas de sustentabilidade existentes.
Para além dos relatórios e desejo sincero de adoção de boas práticas que posicionem a empresa de forma cidadã, responsável e sustentável e, ao mesmo tempo, fortaleçam sua marca, atraiam clientes, novos talentos e aumentem a lucratividade, um dos maiores aliados que temos é a tecnologia.
Por meio do uso da inteligência artificial, já conseguimos integrar sistemas, criar relatórios, capturar indicadores financeiros e não-financeiros, além de gerar insights com dados estruturados sobre consumo energético, diversificação de mão de obra e de fornecedores, reciclagem de lixo, descarte sustentável de resíduos, pegada de carbono, reaproveitamento de água das chuvas e muito mais.
A modernização da infraestrutura de TI (substituição de equipamentos obsoletos), a busca por investimentos na geração ou compra de créditos de energia renovável (solar e eólica) para o abastecimento de fábricas e escritórios, a transformação digital, a internet das coisas, o uso de soluções na nuvem e o investimento em automação também reforçam o ponto sobre como a adoção tecnológica se conecta com as metas ESG e, principalmente, como o compromisso socioambiental das empresas.
Mas este é um desafio que vai muito além do uso da tecnologia já disponível para incentivar a responsabilidade empresarial e diz respeito às escolhas que a sociedade precisa fazer o quanto antes para evitar um verdadeiro desastre climático em algumas poucas décadas.
O mundo lança atualmente o equivalente a 51 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera todos os anos, o que, dispensável dizer, está acelerando as mudanças climáticas e impactando cada vez mais a vida no planeta. E mais uma vez, o maior aliado capaz de nos conduzir por uma jornada em que a redução substancial dessas emissões seja a meta é a tecnologia.
Tecnologias que ainda não existem em escala ou condições imediatas de uso vão demandar investimentos bilionários para o seu desenvolvimento. Algo nunca antes imaginado e que, para dar certo, necessitará de fontes de financiamento, proteção e incentivo, capital de risco em empresas com ideias promissoras e verbas para pesquisa em energia limpa.
Também será necessário um consenso global de que os países também precisam fazer um enorme esforço na construção de políticas públicas que criem o ambiente regulatório necessário para impulsionar o desenvolvimento em escala de geração e armazenamento de eletricidade livre de carbono, mas também, mecanismos de captura deste mesmo carbono antes que ele chegue à atmosfera, o que já existe, mas ainda com desafios de custo importantes.
Por mais complexo e desafiador que seja sair do hype à prática do ESG, minha mensagem final é de otimismo, com a constatação de que existem grandes avanços sendo feitos em todos os pilares mencionados e, o que é melhor, uma mudança de mentalidade e atitudes crescente entre os principais líderes empresariais e governamentais.
No prefácio do excelente livro Impacto Positivo, de Paul Polman (ex-CEO da Unilever) e Andrew Winston (um dos principais pensadores sobre estratégia empresarial sustentável), há uma frase de Guilherme Leal (Cofundador da Natura) que diz “não podemos nos contentar em obedecer ao que está previsto em leis ou promover melhorias incrementais. Os negócios têm que ir além da lógica de fazer menos mal e das promessas de ações em um futuro distante… Mais do que nunca, é tempo de agir… e ninguém muda nada sozinho”.