Advogado Leonardo Braga Moura, sócio do escritório Silveiro Advogados e um dos mentores de alunos do projeto – Foto: Divulgação/Silveiro Advogados
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Projeto Incluir Direito, já presente em MG, RJ e SP, chega ao Rio Grande do Sul com objetivo de aumentar participação de negros e negras no mercado de trabalho
Um projeto premiado de inclusão e diversidade, que tem como principal objetivo aumentar a participação dos negros e negras nos grandes escritórios de advocacia, chega ao Rio Grande do Sul. Idealizada pelo CESA (Centro de Estudos das Sociedades de Advogados), a iniciativa tem a parceria da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e conta com o apoio de sociedades de advogados.
O Projeto Incluir Direito oferece capacitação profissional e pessoal, por meio de mentorias gratuitas, para que universitários de Direito negros e negras participem, em condições de igualdade, de processos seletivos para ingressar nas sociedades de advogados. O projeto também gera mudanças na estrutura e cultura organizacional com o rompimento de paradigmas e preconceitos, ao contribuir para a composição de equipes de trabalho mais diversas.
“Infelizmente, a sociedade brasileira ainda é muito racista e isso acaba por se refletir dentro dos escritórios, que precisam se conscientizar sobre eventuais barreiras internas em suas estruturas e reorganizá-las”, afirma o advogado Carlos José Santos da Silva, o Cajé, idealizador do projeto e presidente do Conselho do CESA. “O Incluir Direito é um projeto transformador não apenas para os jovens participantes, mas para a vida de cada um de nós.”
O estagiário jurídico Luiz Roberto Santiago, 23 anos, que cursa Direito na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), confirma que o projeto muda vidas. Morador da favela Senador Camará, ele sempre estudou em escola pública e, ao entrar na universidade por meio de vestibular social, deparou-se “com uma realidade totalmente diferente”.
“Eu percebi que, diferentemente de outros colegas, eu não tinha todas as ferramentas possíveis para estudar. Isso me deixou muito angustiado. O estudante negro e pobre não tem a experiência inicial exigida pelos escritórios de advocacia para estágios, e é essa é a primeira forma de segregação”, diz Santiago.
“As pessoas sempre me falavam ‘você tem que estudar’, mas nunca ninguém me mostrava o caminho: como estudar”, lembra. “O Projeto Incluir Direito me ajudou e tem ajudado outros estudantes na mesma situação a ocupar os lugares que os negros e negras merecem, mas que não são nossos atualmente.”
Aulas e mentorias
O professor Lúcio Almeida, coordenador-adjunto do projeto na Faculdade de Direito da UFRGS, explica que o Incluir Direito terá início com um projeto piloto, com uma turma inicial de 10 estudantes da própria universidade, escolhidos por meio de concorrência. As aulas serão realizadas no campus da faculdade, no centro de Porto Alegre.
Os participantes terão aulas aos sábados, durante um semestre, com uma carga total aproximada de 90 horas, além de encontros com mentores. Os universitários receberão capacitação de especialistas em diversos temas, como elaboração de currículos, dinâmica do processo seletivo em escritórios, português jurídico, oratória, exposição em redes sociais e inglês.
Almeida confirma que ainda há um gargalo para egressos negros da faculdade conquistarem novos espaços em grandes escritórios de advocacia. “Percebemos, na academia, que a passagem do estudante para a condição de profissional muitas vezes não se dá de forma adequada devido a barreiras impostas pela raça e cor. Por isso decidimos participar desse grande projeto.”
Sobre a decisão da participação da Faculdade de Direito da UFRGS no Incluir Direito, o professor afirma: “Temos uma diretora mulher, a professora Claudia Lima Marques, uma vice-diretora mulher, a professora Ana Paula Motta, e este coordenador-adjunto negro, um perfil pró-diversidade do projeto em sua própria existência, que mostra a disposição nesta parceria de alto nível.”
Ações práticas
“A promoção da diversidade étnica-racial exige atitudes práticas das empresas na busca de um ambiente de trabalho mais democrático, diversificado e amigável”, afirma o advogado Leonardo Braga Moura, sócio do escritório Silveiro Advogados e um dos mentores de alunos do projeto. “A adesão de escritórios de advocacia ao Projeto Incluir Direito é mais uma prova de que, apesar do grande caminho que temos pela frente, já demos os primeiros passos no combate ao racismo estrutural”, diz Braga, que é negro.
Atualmente, o Incluir Direito conta com o apoio de 50 sociedades de advogados e está consolidado em 5 universidades do país: USP (Universidade de São Paulo), Universidade Mackenzie (SP), PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
O projeto já reúne importantes reconhecimentos, como: vencedor da categoria advocacia da 18ª edição do Prêmio Innovare (2021); Prêmio de Iniciativa para a Diversidade, da Latin Lawyer (2018); Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade, da Prefeitura de São Paulo (2021-2022); e X Prêmio Dr. Benedicto Galvão, da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP (2021).
Escritórios de advocacia e outros players do mundo jurídico interessados em participar do projeto no Rio Grande do Sul ou em qualquer outro lugar do país podem entrar em contato com a secretaria do CESA pelo telefone 55 (11) 3104-8402.