A Embrapa tem histórico de parceria com a União Europeia em iniciativas relativas a pesquisas e ações sobre desperdício de alimentos e consumo sustentável – Foto: Divulgação
Por – Gustavo Porpino, Embrapa Alimentos e Territórios, para Neo Mondo
Cinco cidades da comunidade LUPPA serão selecionadas para integrar a iniciativa
Incentivar a troca de experiências sobre políticas e programas de alimentação urbana entre cidades brasileiras e europeias, além de engajar mais cidades brasileiras na implementação de sistemas alimentares circulares que abordam a diminuição do desperdício de alimentos, é o escopo da nova parceria entre a Embrapa Alimentos e Territórios e a Delegação da União Europeia no Brasil por meio do projeto “Cidades e alimentação: governança e boas práticas para alavancar sistemas alimentares urbanos circulares”. A iniciativa faz parte dos Diálogos União Europeia – Brasil e conta com o apoio do Instituto Comida do Amanhã, da rede global ICLEI América do Sul e do WWF Brasil.
Assim, será realizado estudo de caso sobre sistemas alimentares urbanos sustentáveis em cinco cidades brasileiras considerando a maior diversidade territorial possível, incluindo ao menos uma cidade de cada um dos quatro grupos de estados definidos no estudo “Mensuração da sustentabilidade dos sistemas alimentares em países heterogêneos: aplicabilidade da versão atualizada do índice multidimensional brasileiro”, que analisou os clusters de sistemas alimentares no Brasil. Essas cinco cidades nacionais também vão participar de atividades de intercâmbio com algumas cidades alvo europeias. A seleção está sendo feita por meio de chamada específica com critérios pré-estabelecidos em edital disponível aqui.
A Embrapa tem histórico de parceria com a União Europeia e, dentre as iniciativas já financiadas pelos Diálogos União Europeia – Brasil, destacam-se a pesquisa quantitativa sobre desperdício de alimentos em famílias brasileiras, a criação de uma estratégia de comunicação educacional sobre consumo sustentável para alunos de ensino fundamental, com envolvimento do Instituto Mauricio de Sousa, e o projeto Bem Diverso.
Além do estudo de caso, uma análise da composição gravimétrica de resíduos em feiras livres de três cidades, dentre as cinco selecionadas, complementará a geração de dados para apoiar as políticas alimentares. “Ainda há carência de dados sobre desperdício em feiras livres, e temos a oportunidade de delinear estratégias que contribuam com o aproveitamento dos resíduos orgânicos ou mesmo redistribuição de parte do excedente para bancos de alimentos, por exemplo”, explica Gustavo Porpino, analista da Embrapa e responsável pela iniciativa.
Para Porpino, a continuidade da parceria com a União Europeia (UE) é uma oportunidade para as cidades brasileiras participarem de redes globais, tais como o Pacto de Milão, e conhecerem também as boas práticas já existentes no Brasil por meio da rede do Laboratório Urbano de Políticas Públicas Alimentares (LUPPA). “Desde 2017, quando a Embrapa recebeu a visita do ex-comissário de segurança alimentar da União Europeia, Vytenis Andriukaitis, temos procurado cooperar na temática de economia circular dos alimentos, e neste novo projeto vamos envolver as cidades na discussão sobre governança da agenda de alimentação urbana e boas práticas para termos sistemas alimentares mais sustentáveis nas cidades”, conta.
A Delegação da UE no Brasil, que lidera a iniciativa em parceria com a Embrapa, almeja fortalecer as parcerias entre cidades brasileiras engajadas com iniciativas de fomento a sistemas alimentares urbanos circulares e contrapartes europeias. Neste sentido, algumas cidades de países membros da UE serão convidadas a interagir com as brasileiras, a exemplo daquelas envolvidas em projetos como o “EU Food Trails”, que busca fortalecer políticas públicas alimentares seguindo as diretrizes do Pacto de Milão para Políticas de Alimentação Urbana.
“O Pacto Ecológico Europeu é o roteiro estabelecido pela UE para atingir a neutralidade climática até 2050. Nesse empenho, a estratégia “From farm to fork” (da fazenda à mesa) visa encorajar as cidades e seus habitantes na circularidade dos sistemas alimentares, e, portanto, no desenho e implementação de agendas urbanas que lhes tornem vetores de mudança e inovação ao tempo que se promove uma transformação global mais justa, saudável e sustentável. Além disso, garante-se a melhoria da qualidade de vida não só dos cidadãos, mas das gerações futuras, seja no estilo de vida seja nas estruturas das cidades”, comenta Zahra Piñero-Lozano, adida-civil na Delegação da UE no Brasil.
Segundo Zahra, a parceria com a Embrapa promove interações entre as cidades brasileiras e europeias para dinamizar o intercâmbio de conhecimentos e transferência de capacidades que permitam a transformação de sistemas alimentares.
Agendas alimentares urbanas
A experiência do LUPPA, com a colaboração do Instituto Comida do Amanhã, ICLEI América do Sul e WWF Brasil, será importante para incentivar iniciativas em andamento, que podem ganhar escala por meio da intercâmbio e da troca de conhecimento, além de servir de modelo para encorajar mais cidades a iniciarem planos de ação para fortalecer as agendas alimentares urbanas, com atenção especial a sistemas alimentares circulares.
A Embrapa Alimentos e Territórios e o Instituto Comida do Amanhã firmaram um acordo de cooperação técnica para o fortalecimento de políticas públicas alimentares. As instituições vão desenvolver conjuntamente atividades de apoio técnico em análise de pesquisas para dietas com menos impacto ambiental associado, além de apoio, participação e organização de eventos e divulgação de materiais educativos relacionados à temática de sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis.
“Para as cidades LUPPA será uma oportunidade de continuar avançando na agenda dos sistemas alimentares urbanos circulares; além disso, participar de uma cooperação com cidades europeias, que possuem realidades bastante distintas das nossas, pode trazer novas perspectivas para todos os envolvidos. Nós, do Comida do Amanhã, estamos muito orgulhosos de estar entre as organizações que ajudam a construir essas pontes”, ressalta Juliana Tângari, diretora do Instituto Comida do Amanhã.
A promoção e o fortalecimento da adoção de dietas saudáveis e sustentáveis estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relativos ao combate à pobreza (1), fome zero (2), saúde e bem-estar (3), educação de qualidade (4), igualdade de gênero (5), consumo e produção sustentáveis (12) e mudanças climáticas (13). Avançar na temática de sistemas alimentares circulares, nas cidades brasileiras, é uma alternativa para ampliar a oferta de alimentos saudáveis aos cidadãos, gerando impactos positivos para a segurança alimentar e nutricional e reduzindo os impactos ambientais dos processos de produção e consumo de alimentos.