Foto – Divulgação
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Proteção Animal Mundial, em parceria com a Mighty Earth e outras organizações, reivindicam que, apesar dos enormes impactos climáticos das operações da JBS, incluindo o aumento do desmatamento, o grupo de divulgação ambiental CDP elevou a pontuação sobre Mudanças Climáticas da gigante brasileira da carne
A Proteção Animal Mundial faz parte de coalizão global de quase vinte grupos da sociedade civil para pedir ao CDP (conhecido anteriormente como Carbon Disclosure Project) revogue a recente pontuação “A-” e o status de “Liderança” concedido à gigante de processamento de carne JBS por seu desempenho no enfrentamento das mudanças climáticas. Liderados pela organização Mighty Earth, alguns dos maiores e mais atuantes grupos, incluindo também o Instituto de Agricultura e Política Comercial (IATP), a Compassion in World Farming, a Soil Association e a Rainforest Foundation Norway, uniram forças para chamar a atenção para a alta classificação.
Para a Mighty Earth, a JBS está longe de ser uma liderança no combate às mudanças do clima, a classificação concedida pelo CDP é errada e enganosa. Ainda assim, a JBS vem promovendo essa desacreditada pontuação como forma de atrair novos investidores. “Ao invés disso, a empresa deveria estar mais preocupada em divulgar para a sociedade as suas emissões de gases de efeito estufa dentro do ´Escopo 3´, que concentra a maior parte de seu impacto climático, e o número de bovinos e outros animais que abate anualmente, trazendo transparência para as suas alegadas emissões”, afirma o diretor da Mighty Earth no Brasil, João Gonçalves, lembrando que desde 2017 a JBS não divulga os seus números de abate.
Em carta enviada ao fundador do CDP, Paul Dickson, as organizações signatárias listam uma série de fatores que justificam o rebaixamento da JBS. Entre eles, está a falta de um plano significativo de descarbonização, apesar do comprometimento da empresa em zerar as suas emissões líquidas até 2040. Pela falta de transparência da JBS, a Divisão Nacional de Publicidade do Better Business Bureau (BBB), nos Estados Unidos, considerou que as promessas da empresa são infundadas. Além disso, inúmeros relatórios de organizações como o realizado em parceria com a Repórter Brasil (disponível aqui), Global Witness, Greenpeace, Environmental Investigation Agency, entre outras, relatam as contínuas ligações da JBS com o desmatamento ilegal na Amazônia e no Cerrado, operações ilegais em Terras Indígenas (TI) e compras ligadas a abusos de direitos humanos. Veja aqui todas as alegações contidas na a carta.
Para a Proteção Animal Mundial, as mudanças climáticas devem ser combatidas com a diminuição da produção animal e a criação com alto nível de bem-estar. Pontos que claramente não são adotados pela JBS. “Hoje, aproximadamente dois terços da soja produzida no Brasil, uma das principais causas do desmatamento, e consequentemente das emissões brasileiras de gases de efeito estufa, é destinada à alimentação de animais, principalmente aves e suínos. Sendo a JBS um dos principais clientes dos fornecedores de grãos”, afirma a diretora-executiva da Proteção Animal Mundial no Brasil, Lisa Gunn.
Enquanto isso, a JBS promove a melhora da sua nota de mudanças climáticas no CDP para investidores e outras partes interessadas. Sistema de divulgação global usado por investidores, empresas e governos para medir e agir sobre seus impactos climáticos e ambientais, o CDP é amplamente reconhecido pelo seu alto padrão em relatórios ambientais, mas sua abordagem depende de respostas autodeclaradas, levantando preocupações sobre a precisão das pontuações concedidas às empresas.
De acordo com o CDP, as empresas que obtêm pontuação nível de “Liderança” devem “demonstrar liderança ambiental, divulgando ações sobre mudanças climáticas, desmatamento ou segurança hídrica” e as empresas premiadas com A- estão “implementando as melhores práticas atuais”. No caso da JBS, isso não poderia estar mais longe da verdade. Diferentes análises mostram que a JBS é a empresa que mais emite gases de efeito estufa no setor de pecuária e a maior impulsionadora do desmatamento no Brasil. Assim, a classificação equivocada dada pelo CDP, que não reflete com precisão o impacto ambiental e climático da JBS, coloca em risco a própria reputação do grupo, além de implicações mais amplas dessas pontuações desacreditadas para investidores e outras partes interessadas.
Confira os links para análise do desempenho e das práticas da JBS:
Emissões
- Uma análise recente do Instituto de Política Agrícola e Comercial (IATP) e da Changing Markets Foundation estima que as emissões totais da JBS sejam de 288 MtCO2e, superando todas as emissões da Espanha em 2021.
- A JBS lidera a lista de 15 das maiores empresas de carne e laticínios do mundo por suas emissões de metano, posição de topo
- Atualmente, a JBS não informa suas emissões completas do “Escopo 3”: produzir carne onde está a maior parte de seu impacto climático.
- A Mighty Earth diz que a JBS não divulgou o número de bovinos e outros animais que abate anualmente desde 2017, o que é crucial para avaliar suas reivindicações de emissões.
- A JBS é a empresa com pior desempenho noRastreador de Desmatamento de Soja e Gado da Mighty Earth, alcançando apenas um ponto em 100 possíveis.
- A Chain Reaction Research estimou que a pegada de desmatamento da JBS no Brasil é de até 200 mil hectares em sua cadeia de suprimentos diretos e 1,5 milhão de hectares em sua cadeia de suprimentos indireta desde 2008.
- A Global Witness,o Greenpeace e aEIA (Agência de Investigação Ambiental) destacaram as ligações contínuas da JBS com o desmatamento ilegal, operando ilegalmente em terras indígenas protegidas e/ou fazendo compras ligadas a abusos de direitos humanos.
- Apesar das inúmerasligações com o desmatamento, algumas das quais a JBS admitiu recentemente, a JBS informou que “0 hectares de desmatamento/conversão conhecidos ou estimados” ocorreram para produtos pecuários desde 2008 em sua divulgação CDP Forests 2022 Link, para a qual obteve um B.
- A JBS não planeja eliminar o desmatamento em toda a sua cadeia de suprimentos global até 2035 — dando aos fornecedores mais 13 anos para seguir com o desmatamento.
Metas de emissões e alegada lavagem verde
- Em 2021, a JBS se comprometeu a se tornar “Net Zero” em toda a sua cadeia de valor até 2040, mas o verdadeiro escopo do compromisso não está claro, uma vez que a empresa subestima grosseiramente suas emissões de Escopo 3.
- A Divisão Nacional de Publicidade do Better Business Bureau (BBB) divulgou uma conclusão de que as múltiplas alegações da JBS de que está no caminho para atingir emissões “líquidas zero” até 2040 são infundadas e que a empresa deve interrompê-las.
- A meta de redução de emissões da JBS para 2030 para os Escopos 1 e 2 é altamente ambígua e enganosa, pois não está claro se a empresa visa reduções absolutas ou de intensidade de emissões.
- A JBS cita o logotipo da iniciativa Metas Baseadas na Ciência (SBTi) na página Conquistas e Certificações de seu site, apesar de a SBTi não ter validado suas metas. A falta de medição e de relatórios da JBS sobre as emissões do Escopo 3 contradiz o Link
- Uma queixa à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) apresentada pela Mighty Earth acusa a JBS de enganar os investidores e pede uma investigação completa sobre US$ 3,2 bilhões em “títulos verdes” emitidos pela empresa. As evidências destacam que os “Títulos Vinculados à Sustentabilidade” da JBS eram enganosos para os investidores e supostamente fraudulentos.
Sem planos de descarbonização
- Uma avaliação das promessas climáticas das empresas feita pelo New Climate Institute e pelo Carbon Market Watch classificou a JBS como “Muito baixa” em transparência e integridade. A avaliação não encontrou evidências de nenhuma medida de descarbonização profunda planejada pela JBS — mas diz que a JBS planeja continuar o crescimento em uma indústria intensiva em emissões de GEE.
- Em vez de a pegada de emissões da JBS encolher à medida que se aproxima do “Net Zero”,estimativas recentes da IATP e da Changing Markets continuam a mostrar que ela cresceu no mínimo 17% entre 2016 e 2021.
- A JBS não possui nenhum plano de ação de metano que se alinhe ao Global Methane Pledge, nem informa suas emissões de metano, conforme preconizado no relatório da ONU sobre Compromissos Líquidos Zero.
Sobre a Mighty Earth
A Mighty Earth é uma organização global, com sede nos Estados Unidos, que trabalha para defender um planeta vivo. Nosso objetivo é proteger metade do planeta Terra para a natureza e garantir um clima que permita que a vida floresça. Somos obcecados por impacto e aspiramos ser a organização de defesa ambiental mais eficaz do mundo. Nossa equipe já alcançou mudanças transformadoras persuadindo as principais indústrias a reduzir drasticamente o desmatamento e a poluição climática em todas as suas cadeias de suprimentos globais em óleo de palma, borracha, cacau e ração animal, ao mesmo tempo em que melhora os meios de subsistência das comunidades indígenas e locais.
Sobre a Proteção Animal Mundial
A Proteção Animal Mundial é a voz global do bem-estar animal, com mais de 70 anos de experiência em campanhas por um mundo no qual os animais vivam livres de crueldade e sofrimento. Temos escritórios em 12 países e desenvolvemos trabalhos em 47 países ao todo. Colaboramos com comunidades locais, com o setor privado, com a sociedade civil e governos para mudar a vida dos animais para melhor. Nosso objetivo é mudar a maneira como o mundo trabalha para acabar com a crueldade e o sofrimento dos animais selvagens e de produção. Por meio de nossa estratégia global de sistema alimentar, vamos acabar com a pecuária industrial intensiva e criar um sistema alimentar humano e sustentável, que coloca os animais em primeiro lugar. Ao transformar os sistemas falhos que impulsionam a exploração e a mercantilização, daremos aos animais silvestres o direito a uma vida silvestre. Nosso trabalho para proteger os animais desempenhará um papel vital na solução da emergência climática, da crise de saúde pública e da devastação de habitats naturais.