Lobo-guará Canelina – Foto: Gustavo Figueirôa
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Sob os cuidados de profissionais da instituição e de entidades parcerias, a tamanduá-bandeira Aurora e o lobo-guará Canelinha estão quase aptos à soltura em seus hábitats de origem
O que a filhote de um tamanduá-bandeira e o de um lobo-guará, ambos com dois anos de idade, têm em comum, apesar de estarem separados por pouco mais de 1 mil quilômetros de distância? Tanto Aurora, a tamanduá, quanto o lobinho Canelinha, são sobreviventes das tragédias diárias que afetam a fauna silvestre, como atropelamentos, maus-tratos, tráfico e queimadas. Aurora teve sua mãe morta por um veículo em uma estrada do Mato Grosso do Sul, nas proximidades de Bonito. Canelinha foi salvo de um incêndio nas redondezas de Mococa, cidade do interior de São Paulo. Hoje eles vivem, respectivamente, na Reserva Particular do Patrimônio Natural Santuário (MS) e no Mantenedor de Porto Feliz (SP), onde recebem contínuos cuidados de biólogos e veterinários do Instituto Libio, do Instituto Tamanduá e do Instituto Pró-Carnívoros para que sejam reintegrados a seus hábitats. Já praticamente recuperados e com boa saúde, estão quase aptos à soltura na natureza.
De acordo com a fundadora do instituto, a médica, conservacionista e ambientalista Raquel Machado, o processo de recuperação é lento, gradual e envolve uma grande equipe de profissionais. “Muitos cuidados são necessários para o retorno dos animais ao seu ambiente natural. Por isso, em conjunto com outras entidades, pensamos cuidadosamente na criação dos recintos para acolhê-los, assim como em diversas outras estratégias, como alimentação e tratamento para o sucesso das reabilitações e das solturas”, diz.
Segundo Rogério Cunha de Paula, biólogo e analista ambiental do ICMBio, Canelinha foi resgatado de uma área incendiada em agosto de 2021 por um morador da zona rural de Mococa, com idade estimada em três meses. Um mês depois, uma equipe do projeto Lobos do Pardo, desenvolvido na região pelo Instituto Pró-Carnívoros em parceira com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP) do ICMBio, foi informada do ocorrido e se deslocou até a residência em que o lobinho se encontrava, para avaliar sua situação. Foi constatado que estava sendo mantido em condições sanitárias inadequadas. Após diversos exames clínicos realizados, Canelinha foi levado para uma fazenda, onde recebeu os primeiros cuidados e teve início seu processo de recuperação para os procedimentos de reintrodução.
“Em dezembro do mesmo ano, o Instituto Libio aceitou o desafio de receber o Canelinha e todas as instituições competentes foram acionadas para que ele fosse destinado a um cativeiro temporário enquanto os trâmites oficiais fossem concluídos”, recorda o biólogo. Ainda segundo ele, o projeto de reabilitação vem sendo executado então pelo instituto com coexecução do Instituto Pró-Carnívoros e supervisão técnica do ICMBio/CENAP. “Canelinha vem sendo treinado para ser liberado por meio de uma soltura abrupta (quando a soltura não é realizada na área do treinamento) no local de onde foi removido. Depois, será monitorado pela equipe do Projeto Lobos do Pardo e caso seja identificada qualquer dificuldade de adaptação e sobrevivência, ele será recapturado, reconduzido ao recinto de treinamento e avaliado”, explica Rogério. Antes da soltura, prevista para a segunda quinzena de abril, o lobinho receberá uma coleira com GPS e transmissor de satélite para que sua reintrodução seja acompanhada diariamente.
Aurora rumo à liberdade
Tamanduá-bandeira órfã encontrada sozinha em 2021, em uma rodovia próxima a Bonito (MS), Aurora, após ser resgatada, passou por longa reabilitação na Base Pantanal, do Instituto Tamanduá, e, desde abril de 2022, vive na RPPN Reserva Santuário, do Instituto Libio, que é parceiro do Instituto Tamanduá no Projeto Órfãos do Fogo, que também conta com o Fundo Internacional Para o Bem-Estar Animal.
De acordo com a veterinária Flávia Miranda, presidente do Instituto Tamanduá e professora da Universidade Estadual de Santa Cruz (BA), Aurora vive, atualmente, a última etapa de reabilitação para posterior soltura, também prevista para a segunda quinzena de abril, próxima ao local onde foi encontrada. “Ela já recebeu um colete com radiotransmissor, para que tenha seus passos rumo à liberdade em meio à natureza devidamente monitorados”, afirma Flávia. Ela explica que o GPS enviará pontos de localização de Aurora a cada seis horas, além de dados de sua atividade, como, por exemplo, se está em repouso ou caminhando, permitindo o monitoramento pós-soltura que deve se estender por um ano.