Abelha Jandaíra tem cerca de um terço da espécie em extinção – Foto: Hiara Meneses
ARTIGO
Por – Kayla Maria Alves Fagiole*, especial para Neo Mondo
O Brasil abriga uma grande diversidade de polinizadores essenciais para o desenvolvimento e equilíbrio dos ecossistemas. Polinizadoras por excelência, as abelhas nativas são os principais agentes do processo de perpetuação de espécies arbóreas e agrícolas, agindo em cerca de 30% a 90% tipos delas (KERR 1996). Dessa forma, conseguimos sementes e frutos mais vigorosos, garantindo a conservação de espécies não só da flora como também da fauna que se alimenta de folhas e frutos.
Vale ressaltar que quando nos referimos às abelhas nativas, não estamos falando da Apis mellifera, a famosa abelha Européia ou Africanizada, mas sobre as abelhas sem ferrão, que conta com uma grande diversidade de espécies, algumas cultivadas por meio da Meliponicultura, que é a criação racional de abelhas nativas.
As abelhas nativas são conhecidas por construir pequenos potes de cera onde depositam o mel e pólen para a sua própria sobrevivência. A produção, coloração, textura e o sabor do mel varia de espécie para espécie. O mel das abelhas nativas é mais nutritivo, tem uma característica mais líquida em relação ao mel da Apis mellifera, além de apresentar um sabor característico.
Divididas em dois grandes grupos, as Melíponas e as Trigonas são conhecidas por não ferroar, pois têm ferrão atrofiado, o que não significa que não sabem se proteger, já que cada espécie desenvolveu uma forma especial de preservar seu enxame. Abelhas mais robustas, em geral, as Melíponas constroem seus ninhos em ocos de árvores com a entrada da sua morada feita em barro. Já as Trigonas, são abelhas menores e produzem a entrada da sua moradia em formato de tubo feito com cera.
O rápido declínio da população de abelhas-sem-ferrão tem chamado a atenção de cientistas, sendo os principais fatores para essa diminuição no número desse tipo de inseto: as queimadas, o uso indiscriminado de inseticidas, os desmatamentos entre outros. Com o estímulo à Meliponicultura, conseguimos incentivar a criação e preservação dessas espécies.
Mesmo com a Meliponicultura ainda em fase de popularização, segundo Rodrigues (2005), as abelhas nativas já eram criadas pelos Maias e por indígenas. Hoje, a cada dia, as abelhas-sem-ferrão vêm atraindo a atenção de produtores rurais, pois a procura e venda de colmeias tem se tornado uma atividade lucrativa para os que querem diversificar a produção em suas propriedades, movimentando um mercado promissor.
Só preservamos quando realmente conhecemos os impactos positivos que esse ser tão pequeno pode nos oferecer. Com isso, destaco alguns benefícios que o produtor pode obter na sua propriedade com a criação de abelhas-sem-ferrão que são:
- Diversificação agropecuária, podendo ser criada em áreas de preservação permanente, matas ou até em consórcio com algumas culturas, desde que não haja aplicação de inseticidas;
- Polinização de espécies agrícolas, elevando assim a qualidade e produtividade destas culturas;
- Abelhas nativas não ferroam, ao contrário da Apis mellifera, com ferrões atrofiados as abelhas nativas podem ser criadas até em áreas residenciais;
- Produção de mel de alta qualidade;
- Produção de própolis;
- Venda de enxames e serviço de polinização.
Em 2022, iniciamos a reestruturação do Meliponário Escola do Instituto Terra, organização civil sem fins lucrativos localizada em Aimorés, Minas Gerais, referência em reflorestamento na região do Rio Doce. Sem dúvida, trata-se de um projeto de grande importância, pois conseguimos romper as fronteiras da nossa instituição, levando conhecimento às escolas municipais de Aimorés, como forma de engajar e incentivar pais e alunos a fazer a criação racional de Melíponas. Mais de 600 estudantes já puderam assistir às palestras ministradas por mim para tratar do tema. No Meliponário Escola do Instituto Terra criamos de forma racional seis espécies de abelhas nativas da mata atlântica. Neste espaço, trabalhamos a educação ambiental, sendo nossos estudantes, protagonistas de todas as atividades relacionadas à Meliponicultura como, por exemplo, a multiplicação e manutenção de enxames.
*Kayla Maria Alves Fagiole – Assistente de Educação do NERE (Núcleo de Estudos em Restauração Ecossistêmica) do Instituto Terra.