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Por – Ricardo Muniz, Agência FAPESP / Neo Mondo
Em experimento com camundongos, pesquisadores da Unicamp observaram alterações no consumo alimentar, maior ganho de peso, comportamento ansioso e aumento de marcadores inflamatórios no sistema nervoso central, tecido adiposo e fígado
Artigo publicado no Journal of Functional Foods demonstrou que camundongos com a alimentação suplementada com óleo de coco apresentaram alterações importantes no consumo alimentar, maior ganho de peso, comportamento ansioso e aumento de marcadores inflamatórios no sistema nervoso central, tecido adiposo e fígado. Os pesquisadores também observaram que a capacidade da leptina e da insulina (dois hormônios centrais para o metabolismo) de ativar mecanismos celulares responsáveis, por exemplo, pela saciedade e controle da glicemia, estava prejudicada. Além disso, os mecanismos bioquímicos envolvidos com a síntese de gordura estavam estimulados.
“Os dados sugerem que, embora o processo seja lento e silencioso, a suplementação com óleo de coco por longos períodos pode levar a alterações importantes no metabolismo que contribuem para o desenvolvimento de obesidade e comorbidades associadas”, afirma Marcio Alberto Torsoni, do Laboratório de Distúrbios do Metabolismo (LabDiMe) da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (FCA-Unicamp). O LabDiMe é vinculado ao Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP – e ao Metabolic Programming and Perinatal Management Center (MPPM) dos National Institutes of Health (NIH, Estados Unidos).
O consumo excessivo de gordura de origem animal está relacionado ao aumento no risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, além de obesidade e diabetes. Um dos componentes dessa dieta é o colesterol, mas esse tipo de gordura também apresenta ácido graxo saturado (AGS) na composição – popularmente conhecido como “gordura saturada”. Esses ácidos graxos são capazes de ativar processos inflamatórios, por meio de receptores conhecidos como Toll like receptor-4 (TLR-4), que podem levar ao desenvolvimento de doenças.
Os ácidos graxos saturados também podem ser obtidos de outras fontes, mesmo de origem vegetal, como é o caso do óleo de coco – no qual os AGS representam 90% dos lipídeos presentes. Embora parte importante desses lipídeos seja de AG pequenos, chamados de ácidos graxos de cadeia curta, a gordura saturada presente no produto tem potencial para ativar vias inflamatórias e causar danos em diferentes tipos celulares.
“O consumo de óleo de coco como componente da dieta usual ou como suplemento alimentar aumentou muito na população”, diz Torsoni, que é doutor em biologia funcional e molecular, com pós-doutorados na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e na Universidade de Michigan (Estados Unidos). O problema é que, na maioria das vezes, esse consumo é realizado sem o acompanhamento de um nutricionista, que pode ajustar a inclusão diária desse lipídeo de acordo com recomendações individualizadas.
Modelo experimental
Para investigar se o consumo diário de óleo de coco durante longo período poderia causar danos à saúde, o grupo de pesquisa empregou modelos animais, no caso camundongos saudáveis que foram suplementados com óleo de coco diariamente. A dose diária em calorias oferecida durante oito semanas aos camundongos pode ser comparada ao consumo de uma colher de sopa, cerca de 13 gramas de óleo ao dia. Essa dose equivale à suplementação de cerca de 5% na quantidade de caloria proveniente de gordura saturada da dieta de um indivíduo adulto com peso dentro da faixa de adequação para a idade.
Torsoni ressalta que o Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda que o óleo de coco seja utilizado em pequenas quantidades, como parte de preparações culinárias para temperar ou cozinhar alimentos, preferencialmente aqueles in natura ou minimamente processados, dentro de um perfil balanceado de consumo seguindo os princípios da quantidade, qualidade, harmonia e adequação.
“Além disso, ele não é recomendado como suplemento para tratamento de doenças ou recuperação da saúde”, alerta o cientista, cujas pesquisas têm sido apoiadas pela FAPESP (16/23484-1, 18/01863-6, 19/07615-7 e 21/11772-0).