Foto – Divulgação/Ambiens
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Ações ocorrem em parceria com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil e a prefeitura de Rio Branco do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, e busca mitigar os riscos a que as pessoas que vivem no local estão sujeitas, além de dar autonomia para as participantes, muitas, mães solteiras
“Até o projeto chegar aqui, eu achava que só sabia cuidar dos filhos e da casa; lavar, passar, cozinhar. Hoje, depois de aprender tudo o que já aprendi, é como se um novo livro tivesse sido aberto pra mim, e eu passasse a escrever outra história de vida. Hoje, me olho no espelho e enxergo outra mulher, mais forte e independente. Tenho muito orgulho de mim”.
O depoimento de Rosângela Cordeiros dos Santos, de 28 anos, mãe de três filhos (de 13, 10 e oito anos) define o que vem sendo a experiência de participar de oficinas de capacitação em construção civil para mulheres. Cerca de sete meses já foram suficientes para Rosângela ressignificar por completo o olhar que ela tem sobre a própria vida e a da família, que divide, em cinco pessoas, uma casa no bairro Madre, no município de Rio Branco do Sul, na região metropolitana de Curitiba (PR).
Rosangela mora com o marido e os filhos em um local onde a maioria dos moradores são mulheres: 56%. Muitas, mães solos e que residem com os filhos em moradias precárias e com necessidades de melhorias estruturais.
Atentos a isso, a Ambiens Sociedade Cooperativa, que atua no desenvolvimento de trabalhos de planejamento territorial e com projetos de impacto socioambiental, em parceria com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) e a prefeitura de Rio Branco do Sul, vêm desenvolvendo o Projeto Morar Bem – Madre, uma iniciativa que trabalha para capacitar mulheres moradoras da região conhecida como “Pinheiros”, no bairro Madre, a desenvolver conhecimentos em construção civil para melhorar as condições das próprias moradias.
O bairro tem um total de 159 moradias e abriga 608 moradores. A área é caracterizada por apresentar elevado grau de vulnerabilidade socioeconômica e de infraestrutura e estar sujeita a impactos severos ocasionados por desastres ambientais, como deslizamentos, desmoronamentos, enchentes, e incêndios, por exemplo.
Por meio de oficinas, o projeto busca capacitar até 20 mulheres para a execução de pequenos reparos e manutenção em suas próprias residências. A capacitação vem ocorrendo desde janeiro deste ano, em duas fases: teórica e prática. Já o projeto, tem três etapas: a primeira, que aconteceu entre os meses de janeiro a março, de preparação, envolveu a mobilização, inscrição das participantes e vistoria nas casas das moradoras. A segunda, desde março, de capacitação teórica sobre projeto, levantamento e diagnóstico das suas moradias. A partir do dia 15 de abril, se iniciaram as intervenções físicas (sempre aos sábados). Elas estão programadas para ocorrer até o final de julho, abrangendo desde pequenas até grandes obras. E a terceira e última fase, de agosto a outubro, de sistematização e fechamento do projeto, quando as participantes vão receber diplomas de conclusão do curso, em uma cerimônia de formatura e fechamento das atividades.
A equipe responsável pela execução do projeto conta com profissionais qualificados da Ambiens, em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência Social e Habitação (SMASH), além da Prefeitura de Rio Branco do Sul. Arquitetos, engenheiros e consultores externos participam das diferentes etapas da iniciativa. A proposta é patrocinada pelo CAU/BR, por meio do Edital de Chamamento Público de Apoio Institucional nº 005/2022, o Projeto Morar Bem.
“A equipe chegou como se fossem anjos, ensinando a gente com tanto carinho, amor e paciência, que contamos nos dedos os dias para chegar sábado e termos os nossos encontros. Antes, olhávamos para a nossa casa de um jeito. Agora, tudo é diferente. Já começamos a fazer planos, sonhar com ainda mais melhorias. Vimos que, com conhecimento e ajuda, podemos fazer o que quisermos. Além de dar mais segurança para as nossas moradias, este projeto mudou muito a minha vida”, diz Rosângela.
A área de Pinheiros, onde o projeto acontece é uma ocupação, mas que, na visão dos envolvidos no projeto, merece intervenções para mitigar os riscos a que as pessoas que vivem no local estão sujeitas. “O projeto busca oferecer um pouco mais de dignidade para pessoas que precisam ainda viver ali. Além disso, é muito motivador ver o fortalecimento de redes entre as pessoas do local e a união feminina que a iniciativa promove”, diz Adriane Nunes Ferreira, coordenadora do projeto e presidente da Ambiens.
A expectativa é de que, além de capacitar as 20 mulheres, a iniciativa beneficie diretamente até 20 moradias e 72 pessoas. Até hoje, mais de 25 mulheres já participaram de alguma capacitação do projeto.
Para Adriane a participação direta das moradoras proporciona oportunidades de qualificação profissional e autonomia financeira, fortalecendo os processos de autogestão e autoconstrução presentes no cotidiano desse estrato social. “A desigualdade sempre me incomodou muito. E o projeto busca provar para as mulheres participantes que elas podem ter a autonomia e a independência que desejarem. Que não precisam se submeter a determinadas relações por necessidade, nem serem colocadas onde outras pessoas possam vir as a colocar. Nossa intenção com as atividades de capacitação é mostrar que o projeto é capaz de oferecer melhorias físicas às suas condições de moradia, mas que, a partir delas, podem ir além e construir o que desejarem para as próprias vidas”, diz.
Para Gisele Aparecida Cordeiro de Almeida, de 38 anos, mãe de três filhos (de 18, 17 e 15 anos), a experiência também está sendo transformadora. “Esses dias, fiz toda a instalação elétrica da casa da minha amiga aqui no bairro, e funcionou muito bem. A gente aprende muito e se ajuda também. Este projeto é uma benção na vida da gente e veio para mostrar que nós mulheres não somos o sexo frágil. Somos capazes de fazer muita coisa!”, diz. A casa atual de Gisele tem menos de 18 m² e será totalmente reformada, em razão das urgentes necessidades que acumula.
Karime Fayad, prefeita de Rio Branco do Sul, a importância do Projeto Morar Bem – Madre está na promoção da habitação de interesse social e no empoderamento das mulheres. Segundo ela, “a parceria entre a Ambiens e a Prefeitura é fundamental para fortalecer as ações voltadas à melhoria das condições habitacionais em nossa cidade, oferecendo capacitação e autonomia para as mulheres da região da Madre”, diz.