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Por – Amanda Stelitano, pesquisadora do Instituto Propague, especial para Neo Mondo
Com o crescente aumento da responsabilidade corporativa em relação a metas e atividades alinhadas às práticas ESG (sigla para ambiental, social e de governança), as empresas do setor financeiro estão enfrentando um novo desafio no mundo dos negócios sustentáveis: a geração e obtenção de dados de qualidade, precisos e transparentes sobre métricas ESG.
O investimento na melhoria da captação e compartilhamento de uma base de dados ESG é uma estratégia fundamental para garantir a credibilidade e eficiência do negócio perante investidores e clientes, além de construir uma reputação positiva junto aos colaboradores, consumidores e a sociedade em geral, evitando casos danosos de greenwashing. Além disso, essa abordagem auxilia na medição do progresso das empresas em relação às metas de sustentabilidade globais.
Atualmente, a falta de padronização de critérios e métricas para a geração e registro de dados ESG afeta os pilares de transparência e confiança para os agentes envolvidos. Um estudo promovido pela IBM comprova essa necessidade, ao apontar que padrões inconsistentes e baixa qualidade de dados associados aos critérios ESG são as principais barreiras que afastam potenciais investidores e clientes.
A padronização das informações ambientais, sociais e de governança é vista por reguladores, autoridades e representantes corporativos como o possível ‘divisor de águas’ para impulsionar o mercado e as metas ESG no Brasil e no mundo. Esse processo tem como objetivo auxiliar a análise de negócios e a tomada de decisão, além de minimizar riscos desnecessários para investidores e clientes.
Padronização de dados ESG: solução e desafios
Para atender à demanda de um mercado mais transparente, estabeleceu-se como objetivo desenvolver uma estrutura de captação e divulgação de métricas e dados ESG por meio de relatórios padronizados, com linguagem comum e atualização constante. Esses padrões facilitam a comparação de informações consistentes e confiáveis relacionadas à sustentabilidade. Com base nesses dados, é possível criar ferramentas de acompanhamento, análises e recursos para os mercados de capitais e empresas.
Assim, a criação de uma linguagem universal e comum, juntamente com metodologias de classificação e identificação para critérios ESG, ganhou força entre os principais debates internacionais. Um ecossistema colaborativo entre autoridades monetárias, representantes governamentais e atores do setor corporativo fomentou o desenvolvimento de mecanismos de divulgação e contabilidade, permitindo que os agentes do mercado possam participar de negócios sustentáveis sem correr riscos reputacionais, de responsabilidade e financeiros
Além da mobilização internacional, diversos países têm apresentado avanços na preocupação com a transparência e responsabilidade na divulgação dos padrões ESG, visando garantir um mercado sustentável. O Reino Unido e a China, por exemplo, já desenvolveram suas próprias taxonomias verdes, que consistem em classificar atividades econômicas alinhadas aos pilares ambientais, sociais e de governança em conformidade com as metas globais de sustentabilidade. Além disso, ambos os países também têm implementado diversos projetos de incentivo e financiamento para empresas e instituições financeiras se adequarem aos novos padrões ESG.
O Brasil ainda não possui uma taxonomia sustentável ou um padrão oficial para a divulgação de suas métricas e resultados ESG. No entanto, reguladores, atores empresariais e organizações têm amadurecido a proposta, e até mesmo um projeto de lei já foi elaborado com esperanças de avançar o tema no debate nacional. Isso não significa que no Brasil não haja divulgação de relatórios ESG no mercado financeiro ou corporativo, mas a ausência de padronização e obrigatoriedade na divulgação e transparência das atividades amplia o desafio do mercado sustentável
A conscientização da agenda sustentável, social e de governança nos negócios deve ser vista como uma oportunidade de benefícios para as empresas e para o fortalecimento do mercado sustentável, e não como uma barreira de competição e desempenho para os agentes do setor financeiro e do ambiente corporativo, principalmente para pequenas e médias empresas. A criação de um conjunto de regras padronizado, transparente e de fácil entendimento para compreender os benefícios e oportunidades do alinhamento ESG nos negócios tem o potencial de ser a virada de chave para alavancar ainda mais o crescimento e o cumprimento das metas de sustentabilidade financeira e corporativa.