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POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Quarta edição do evento reunirá painéis, exposições, espetáculos, mostra de cinema, workshops e encontros com ONGs, ambientalistas e personalidades decisivas para a conservação dos oceanos. A programação, que contará com uma participação exclusiva da cantora Teresa Cristina, também inclui celebrações para Iemanjá, a Rainha do Mar
Criado em 2019 como Marina Week, o festival anual em celebração à cultura oceânica chega à quarta edição com novo nome, SP Ocean Week, e uma programação ainda mais consistente e diversa de atividades multidisciplinares gratuitamente espalhadas no Memorial da América Latina, entre os dias 30 de agosto e 03 de setembro de 2023. O evento possui patrocínio das empresas Repsol Sinopec Brasil, Instituto Aegea, Sebrae, Santos Brasil, L´Occitane au Bresil e Cirúrgica Fernandes.
O espetáculo de abertura – um talkshow com uma hora e meia de duração, reunindo os navegadores David Schurmann e Aleixo Belov, a surfista de ondas gigantes Maya Gabeira e Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil – será realizado no Auditório Simon Bolívar, com capacidade para mil pessoas, às 19h30. O evento gratuito será transmitido ao vivo pela internet e, posteriormente, terá exibição na grade de programação da TV Cultura, coprodutora do evento.
Notórios para o grande público, David e Maya dividirão suas experiências com um veterano na arte da vela. Aos 80 anos, Aleixo Belov, ucraniano radicado na Bahia, recentemente atingiu um feito extraordinário: a travessia da chamada Passagem Noroeste, uma difícil rota formada por estreitos na região norte da América, localizada próxima ao Círculo Polar Ártico, possibilitando a junção do Estreito de Bering ao Estreito de Davis, e conectando dois oceanos: o Pacífico e o Atlântico.
Em meio à roda de conversas, apresentações musicais com repertório em exaltação à Iemanjá, divindade do candomblé cultuada como Rainha do Mar, e o orixá mais popular do Brasil, de grande influência na literatura e na música do País, terão a participação da cantora Teresa Cristina. O espetáculo também contará com a apresentação do Coral da USP, das cantoras Grazzi Brasil e Adriana Moreira e de um grupo de Candomblé.
Ao longo dos cinco dias subsequentes, no foyer do Auditório Simon Bolívar do Memorial da América Latina, o público terá acesso a uma série de atividades no Cais do Porto, um espaço expositivo com mais de 2 mil m² que reunirá: estandes de ONGs de conservação marinha e institutos de pesquisa; oficinas com atividades experimentais orientadas por especialistas de diversas áreas; o Palco Mar Aberto, espaço de apresentações artísticas, contação de histórias, palestras e oficinas; um espaço dedicado a sessões de autógrafos e bate-papo com autores de títulos consagrados com temas ligados ao mar; exposições de fotografia, conquiliologia (área da zoologia que estuda conchas e moluscos) e a exposição Barcos do Brasil, com maquetes de barcos artesanais do acervo do Museu Nacional do Mar de São Francisco do Sul. O espaço também sediará a Marina Shop, loja de souvenirs da SP Ocean Week, com camisetas e canecas customizadas, livros, miniaturas e objetos náuticos em geral.
No Estúdio da Sala dos Espelhos, a série de encontros Gente do Mar reunirá grandes personalidades do mergulho, da vela, do remo, da náutica e do surf, colocando o público do festival em contato com diferentes formas de interação e vivência do mar, abordadas em entrevistas sobre práticas esportivas e de lazer. As conversas terão duração de 1h30, e serão conduzidas por jornalistas especializados, com transmissão em tempo real no formato de podcast. Na mesa Wilhelm Schurmann e Erika Ternex, as novas vozes dos oceanos, o novo capitão do veleiro Kat, da família Schurmann, e sua companheira, Erika Ternex, falarão ao público, direto da Polinésia Francesa, sobre os rumos e desafios do projeto Voz dos Oceanos. O painel de entrevistas também reunirá, entre outros assuntos, temas como: A Náutica do Século XXI: visões do futuro; Surf e Sustentabilidade; Surf Feminino: mulheres ao mar; Optimist: a classe de entrada na vela.
No mesmo espaço, o festival também promove o painel Ideias Azuis, um ciclo de conversas com renomados especialistas, que apontarão caminhos para atingir as metas da Década do Oceano e do ODS 14, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável – Vida na Água, que pretende entregar um oceano saudável, seguro, produtivo e sustentável para as futuras gerações.
Com a mediação de jornalistas especializados, cada um dos 12 painéis que compõem o ciclo reunirá de dois a três convidados. Além da plateia presencial, os debates terão transmissão em formato de videocast, ficando posteriormente disponíveis nos canais da SP Ocean Week. Totalizando 18 horas de atividades, Ideias Azuis discutirá cinco temas fundamentais: Cultura Oceânica, Economia Azul, Oceano Limpo, Conservação da Biodiversidade, Pesca Sustentável e Aliança para o Futuro do Oceano.
No Cais do Porto o público terá ainda acesso á Barraca do Peixe, um ponto de encontro para o conhecimento sobre o consumo responsável de pescados, por meio de duas atividades: Que Peixe é esse?, que vai apresentar as espécies mais comumente encontradas no mercado brasileiro e a situação em que se encontram em nossa natureza; e o Workshop Pescado Sustentável, que abordará formas de escolher corretamente as espécies certas nas épocas certas, ou seja capturadas com origens conhecidas e de acordo com as boas práticas da pesca.
Ao longo de três dias, a SP Ocean Week 2023 também apresenta a mostra Cinema Comentado, uma seleção dos melhores documentários brasileiros sobre o oceano. Após as exibições, especialistas de diversas áreas – biologia, oceanografia, antropologia e ciências sociais – irão aprofundar a inteligibilidade dos temas abordados. Em sessões contínuas de 1h de duração, os filmes serão projetados em um auditório com capacidade para 300 espectadores. No sábado (2), diretores dos documentários exibidos na mostra terão um encontro de 2h com o público.
A SP Ocean Week 2023 também reserva ao público uma atração que ficará instalada no Memorial da América Latina ao longo de 30 dias: a exposição Barcos do Brasil. Idealizada em 2005, pelo navegador Amyr Klink e o arquiteto Dalmo Vieira Filho, a coleção que deu origem à exposição foi desenvolvida pelo Museu Nacional do Mar – Embarcações Brasileiras, com a produção de uma série de réplicas fidedignas de embarcações que exaltam a rica engenhosidade e o repertório de soluções e técnicas ancestrais do saber tradicional das populações litorâneas do Brasil.
Origens do evento
A gênese da SP Ocean Week remete a 2009, com o encontro entre dois apaixonados pelos encantos e desafios do mar: um experiente jornalista especializado no tema, Alfredo Nastari, que então editava a revista Scientific American Brasil, e um renomado biólogo, Alexander Turra, fonte de Nastari e Professor Titular do Instituto Oceanográfico da USP (IO-USP).
Em uma ação conjunta do projeto Mídia Mar Comunicação, capitaneado por Nastari, e a Cátedra Unesco Para a Sustentabilidade do Oceano, coordenada por Turra e vinculada à Universidade de São Paulo (USP), por meio de seus institutos Oceanográfico (IO-USP) e de Estudos Avançados (IEA-USP), em 2019 foi concretizada a ideia de realizar anualmente, em São Paulo, a Marina Week. Com edições em 2021 e 2022, o evento foi agora rebatizado de SP Ocean Week, um grande festival para celebrar o oceano e discutir as questões cruciais para a preservação e a exploração sustentável de seus recursos.
“O movimento que temos hoje na SP Ocean Week vem sendo amadurecido há muito tempo. Alfredo sempre trouxe a perspectiva de criação de um grande evento para discutir o futuro do oceano. Dentro do Instituto Oceanográfico, em encontros que eu chamava de ‘Seminários de Políticas Públicas’ ou de ‘Oceano e Sociedade’, eu também vinha buscando aproximar o oceano de uma realidade mais aplicada”, explica Turra. “Nesta edição também abordaremos a questão da espiritualidade, com a homenagem à Iemanjá, o que faz todo sentido porque acreditamos que o oceano tem de estar na cabeça, no coração e na alma das pessoas. É isso que a SP Ocean Week visa fazer”, defende o biólogo, diretor de conteúdo do festival.
A Década do Oceano
Os oceanos compõem o principal ecossistema da Terra: ocupam 70% do território e são inestimáveis para o equilíbrio ambiental do planeta; distribuem temperaturas ao redor do globo terrestre; produzem mais de 50% do oxigênio que respiramos; provém proteína, por meio da pesca, para ao menos um bilhão de pessoas no mundo; são a grande via de comércio marítimo e uma fonte primordial de riquezas minerais, como o petróleo; a biodiversidade dos oceanos; é também uma fonte inesgotável de princípios ativos para fármacos, para a indústria de cosméticos e matérias-primas diversas.
“Além disso, o oceano é parte essencial do que nos fez humanos. Temos uma ligação atávica com o mar, que é também uma potente fonte de lazer e de espiritualidade. O mar permeia toda a história da humanidade. Sem ele, não seríamos o que somos”, defende Nastari, diretor executivo da SP Ocean Week.
A despeito dessa importância vital, a humanidade ainda acredita que o oceano é uma fonte de recursos renováveis. Algo evidente em estudos que comprovam o quanto o mar está sujo, cansado, cada vez mais quente e poluído, com suas riquezas continuamente sendo destruídas. Para reverter esse cenário de iminente colapso, a Assembleia Geral da ONU nomeou a década de 2021-2030 como a Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica Para o Desenvolvimento Sustentável.
“O braço para se executar a Década do Oceano é a UNESCO. No bojo dessas questões colocou-se também como objetivo a difusão da cultura oceânica, chamada de ‘ocean literacy’, letramento oceânico, e a criação de uma ‘geração azul’. Tudo o que fazemos, direta e indiretamente, acaba no mar e ele devolve isso de forma malcriada, com eventos extremos”, adverte Nastari.
Nesse sentido, o principal objetivo da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano é promover a integração do oceano com a sociedade, como explica Turra.
“Temos buscado uma tríade que é a tradução do movimento que a gente pretende estimular no país e fora dele: entenda, conecte-se e transforme. Nesse contexto, temos uma iniciativa bem específica que é a Aliança Para o Futuro do Oceano, que vai ocorrer na tarde de sexta-feira (1), quando diversas instituições ligadas a essa temática e que assinaram o Compromisso Para o Futuro do Oceano, poderão atualizar suas atividades e propostas para o futuro, para que a gente consiga ter uma visão clara dos avanços que estão sendo buscados em relação ao oceano”, conclui.
