Família que vive no Quilombo Sobara prepara a Sola receita ancestral – Foto: Ricardo Alvez
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
O Dia da Consciência Negra, em novembro, é um marco da resistência do povo negro e quilombola brasileiro, e de sua cultura e ancestralidade e, assim como as histórias, as receitas remontam a origem das comunidades e suas manifestações culturais. Filha de Cornélio José da Silva e Dona Julita, Rosiele Conceição, 35 anos, experimentou pela primeira vez a Sola quando ainda era criança, na comunidade quilombola Sobara, em Araruama, no Rio de Janeiro. A receita, que faz parte da culinária local, é uma das comidas típicas que integram o livro digital “Receitas e Histórias das Colônias de Pescadores e Comunidades Quilombolas do Norte Fluminense e Sul Capixaba”, publicado pelo CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável).
Rosiele conta que a Sola começou a ser preparada devido à fartura de plantações de amendoim na região, produzidas por moradores da comunidade, como seus avós e bisavós, que viviam do que plantavam e a farinha estava sempre presente na mesa. Com o avanço da indústria no entorno da comunidade, situada a cerca de 40 km do centro de Araruama, Região dos Lagos do Rio, muitos moradores começaram a trabalhar fora e, por isso, precisaram se afastar da agricultura.
“O livro permite a disseminação dessas receitas ancestrais e ajuda a inspirar outras pessoas e comunidades, evitando assim que as tradições se percam para as gerações futuras. O resgate da culinária local permite também uma alimentação mais segura, com opções mais nutritivas e variadas, além de possibilitar geração de renda e contribuir para a preservação do meio ambiente”, destaca Rosiele.
A comida, preparada com a mandioca extraída da região, leva na receita: massa de farinha, tapioca, amendoim, açúcar e sal. Todos os ingredientes são enrolados na folha de bananeira e, em seguida, a Sola é assada no forno. O prato, que remonta tradições ancestrais da comunidade, é usado principalmente para alimentação da família, no café da manhã e no lanche da tarde, mas, quando há sobra na colheita da mandioca, os moradores também vendem a Sola para aumentar a renda das famílias.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem 1,3 milhão de quilombolas em 1,6 mil municípios brasileiros. No estado do Rio de Janeiro, são mais de 20 mil quilombolas, sendo que a capital é a 3ª cidade no estado com mais integrantes. No Espírito Santo, dos 78 municípios do estado, 26 têm população quilombola, totalizando mais de 15 mil pessoas.
“Durante a pandemia, promovemos uma ação de impacto coletivo por meio do Programa Pessoas e Negócios Saudáveis, que entregou comida pronta para as famílias locais e, ao mesmo tempo, fortaleceu organizações de base comunitária e pequenos empreendimentos, ambos extremamente afetados. Ofertamos comida num momento em que a fome cresceu no país; comida é direito e também memória. O livro é uma forma de não esquecermos isso”, conta Vandré Brilhante, diretor presidente do CIEDS.
Além de reunir o passo a passo dos preparos, a publicação traz a origem das receitas e as histórias das pessoas e famílias em torno de cada uma delas, uma mistura de aromas e sabores afetivos, autoestima e emoção.
O livro digital está disponível para leitura e download gratuito, acessando o link.