Brasil é considerado um ator relevante na agenda ambiental global – Imagem: Freepik
ARTIGO
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Por – Kamila Camilo*, especial para Neo Mondo
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 (COP28), reuniu presidentes, cientistas e sociedade civil, ao longo de quase duas semanas, para debater, refletir e encontrar soluções sustentáveis para o futuro. Entre painéis, negociações, promessas e conversas, aconteceram avanços significativos em alguns setores, mas em outros nem tanto assim. Considerado um ator relevante na questão ambiental, o Brasil esteve no evento e, durante a sua participação, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, lançou o Plano de Transformação Ecológica, que tem como finalidade incentivar investimentos de desenvolvimento sustentável.
No entanto, o mesmo país que lança um plano sustentável (agenda ambiental) também leiloa, um dia após o encerramento da COP, novos campos de exploração de petróleo – aqui vale destacar que a queima de combustíveis fósseis contribui para a emissão de gases de efeito estufa. Firmado na COP 21, o Acordo de Paris tem como uma das principais metas reduzir as emissões de gases de efeito estufa e manter o aumento da temperatura do planeta abaixo dos 1,5 ºC. Desse modo, observamos que as decisões não parecem estar exatamente alinhadas com as metas e propósitos acordados.
Aliás, o grande desafio desta COP foi, de fato, a liderança, já que é preciso que as autoridades estejam comprometidas com o cuidado do planeta e essa é uma questão que não é de benefício individual, mas sim coletivo. Por isso, é necessário não pensar somente nos próprios interesses — algo que parece acontecer com frequência — para que as mudanças e propostas sejam eficazes.
Por outro lado, a Conferência deste ano também ficou marcada pelas grandes discussões sobre agricultura e, neste caso, nosso país também tem uma papel relevante no tema. De acordo com um estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), divulgado em 2021, o agronegócio brasileiro é responsável pela alimentação de cerca de 800 milhões de pessoas, ou aproximadamente 10% da população global — o levantamento mediu dados a partir da produção básica de grãos e oleaginosas do país. Aqui encontramos mais uma contradição: o mesmo país que tem grande capacidade de produção de alimentos, tem um número elevado de pessoas em situação de fome.
Segundo o relatório “Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI)”, publicado neste ano por cinco agências especializadas das Nações Unidas, o país tem 21 milhões de pessoas que não possuem o que comer todos os dias e 70,3 milhões em insegurança alimentar. Por isso, outro desafio será como equilibrar a balança entre prover alimentos internamente e fortalecer o agro.
Por fim, esta foi uma COP com participação massiva entre sociedade civil e iniciativa privada. De acordo com o relatório produzido pela Kick Big Polluters Out, coalizão de grupos ambientais formada por entidades como o Greenpeace e o 350.org, 2.456 pessoas ligadas às indústrias de carvão, petróleo e gás conseguiram acesso às negociações da COP 28. Diante deste cenário, nos resta saber se a presença destes indivíduos foi para avançar nas negociações ou para impedir que acordos fossem firmados. Após a finalização do evento, concluo que o resultado que chegamos está longe de ser o ideal, mas é o início que precisávamos. Daqui em diante, caberá a cada stakeholder (governo, iniciativa privada e sociedade civil organizada) comprometimento, entrega e transparência.
*Kamila Camilo é ativista ambiental, empreendedora social e fundadora da Creators Academy, projeto que conecta influenciadores de conteúdos aos biomas brasileiros.