Roberta Cipoloni Tiso, “a COP28 trouxe um marco muito importante para a economia global” – Imagem: Freepik
Por – Roberta Cipoloni Tiso*, especial para Neo Mondo
A Conferência das Partes deste ano (28ª Conferência do Clima da ONU – COP28), que se encerrou no último dia 13 de dezembro, trouxe um marco muito importante para a economia global: pela primeira vez, em trinta anos, as maiores lideranças do planeta assinaram um pacto formal que prevê uma transição para longe dos combustíveis fósseis – algo que vai exigir ações práticas coletivas efetivas para que possamos avançar nesse caminho.
O evento, que aconteceu em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (EAU), provocou discussões acaloradas entre ambientalista antes mesmo começar, já que EAU é um dos maiores maiores produtores de petróleo do mundo. No entanto, essa região também nos traz uma lição importante: a necessidade de se reinventar, algo que será essencial se quisermos vencer essa maratona rumo ao fim do uso de combustíveis fósseis. Dubai passou de um vilarejo de pescadores no início do século XX, para uma potência globalmente conhecida, que nas últimas décadas apostou fortemente na diversificação das suas atividades econômicas, como o turismo, a aviação, o mercado imobiliário e serviços financeiros. E hoje, essa localidade virou um verdadeiro símbolo de inovação e progresso.
A mudança dos combustíveis fósseis para fontes de energia renovável é um desafio significativo, dada a sua importância crítica na economia mundial. Prefiro adotar uma perspectiva otimista, acreditando que os esforços recentes estão focados na busca por um equilíbrio e consenso entre nações de interesses diversos, todos em direção ao fortalecimento do bem comum.
Para dimensionar o desafio da transição energética, um relatório publicado em agosto pela Agência Internacional de Energia (IEA), elaborado pelas consultorias KPMG, Kearney e pela Universidade Heriot-Watt, revela que o consumo global de combustíveis fósseis ainda constitui 82% do total das fontes de energia utilizadas. Em contrapartida, as fontes de energia renovável, incluindo solar, eólica, biomassa, biogás e hidrogênio verde, representam 7,5% do mercado, marcando um tímido aumento de 1% em 2022.
E com relação aos resultados, a COP28 delineou diretrizes específicas que ressaltam a urgência e a necessidade de ações concretas para a transição energética. Essas diretrizes, estabelecidas no documento final da conferência, refletem um consenso sobre as ações necessárias para enfrentar a crise climática. As Partes reconhecem a necessidade de reduções profundas, rápidas e sustentadas das emissões de gases com efeito de estufa, em consonância com as trajetórias de 1,5 °C.
Entre as recomendações descritas no Capítulo 28 do documento final, destaca-se a meta de triplicar a capacidade global de energia renovável e de duplicar a média anual global de melhoria em eficiência energética até 2030, refletindo um compromisso crucial para a transição para fontes de energia mais sustentáveis e eficientes. Além disso, o documento traz a necessidade de acelerar os esforços para a redução progressiva do uso de carvão não controlado, reconhecendo o papel significativo desse insumo como uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa e como fundamental para alterar o panorama energético global.
Ademais, enfatiza a aceleração dos esforços globais no sentido de sistemas energéticos com emissões líquidas zero, utilizando combustíveis de zero e baixo carbono bem antes ou por volta de meados deste século, alinhando-se com o objetivo de atingir o Net Zero, até 2050. O documento também sublinha a importância de acelerar a redução das emissões do transporte rodoviário, através do desenvolvimento de infraestrutura e da implantação rápida de veículos com emissões zero ou baixas, em consonância com as metas científicas do Acordo de Paris.
São metas bastante desafiadoras principalmente para países que dependem essencialmente dos combustíveis fósseis. De acordo com o pesquisador Guy Prince, da Carbon Tracker – empresa independente que realiza análises sobre o impacto da transição energética nos mercados de capitais – essa é a realidade de países como Venezuela e Iraque, por exemplo, onde o petróleo e o gás representam quase 100% da receita federal.
Nessa jornada rumo a migração para fontes de energia renováveis, o Brasil tem a oportunidade de se tornar um celeiro de energia verde para o mundo (economia global). Temos uma grande abundância de matéria-prima renovável para a produção de hidrogênio verde e já foram anunciados aportes para o país que somam mais de US$ 27 bilhões. Isso possibilitará que, a partir de 2025 sejam produzidas mais de 16,1 milhões de toneladas de hidrogênio verde por ano e 2,8 milhões toneladas de amônia verde, para atender não só o Brasil mas, principalmente, o mercado externo.
Neste momento decisivo, a tecnologia emerge como um aliado fundamental, oferecendo soluções inovadoras para a eficiência energética, indústria e o desenvolvimento de energias renováveis. Paralelamente, o investimento em transporte público sustentável torna-se imprescindível, não apenas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas também para promover uma mobilidade urbana mais eficaz e inclusiva.
Além disso, a diversificação econômica é um passo estratégico crucial para países dependentes de combustíveis fósseis. Ao diversificar suas economias e investir em novos setores e mercados, estas nações podem fomentar um crescimento sustentável, diminuindo a vulnerabilidade às oscilações do mercado energético e fortalecendo a resiliência econômica global. Estes elementos, embora não exclusivos, são fundamentais para o êxito na transição energética e para atingir as metas do Acordo de Paris.
*Roberta Cipoloni Tiso, diretora de Sustentabilidade e Comunicação da green4T e coordenadora do Grupo de Sustentabilidade da International Association of Public Transport (UITP).