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POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Cadelas saudáveis que fugiram de casa e foram encontradas em rodovia são mortas por clínica conveniada da concessionária Rota das Bandeiras
Dara e Frida teriam sido eutanasiadas pela clínica veterinária Steckvet sob alegação de suposta piora no quadro de saúde, mas, tutora e resgatistas contestam a versão da clínica e o laudo apresentado pelo veterinário
Um verdadeiro pesadelo teve início para Dana Prado e sua família, no último domingo (07), quando suas duas cadelas acabaram fugindo de casa.
Logo que começaram a procurar pelos animais a tutora viu a postagem em uma rede social do veterinário Diego Arruda, da Ong SOS Pantanal e de sua esposa, a bióloga Juliana Badari que haviam encontrado as duas cachorras na rodovia Pedro I, na altura do município de Atibaia, que fica a 60 km de São Paulo.
Logo após conversar com o casal, Dana, imediatamente buscou contato com a concessionária Rota das Bandeiras que administra a rodovia para que pudesse buscar seus animais. E, na segunda-feira (08) as informações iniciais recebidas por ela seriam de que Dara e Frida haviam sido encaminhadas para a clínica veterinária conveniada Steckvet, situada no município de Louveira, a aproximadamente 40 km de Atibaia para receberem atendimento.
Os contatos permaneceram por parte da família de Dana, de modo a acertarem o retorno dos animais para casa. Porém, na quarta-feira (10) Dana foi surpreendida com dois atestados de óbito que constatavam a eutanásia de suas cadelas.
Ao serem informados do ocorrido pela tutora, Diego e Juliana ficaram extremamente surpresos, já que tinham estado com os pets presencialmente no domingo e, as justificativas relatadas no documento apresentado pela clínica se mostravam incompatíveis com o estado dos animais quando foram entregues ao funcionário da concessionária no domingo (7).
Logo, então, o casal também começou a fazer indagações aos responsáveis e acionaram a veterinária, resgatista e coordenadora do grupo de resgate de animais em desastres – GRAD, que também é formada em direito, Carla Sássi que concordou com as dúvidas levantadas por Diego e Juliana que haviam registrado por vídeo a condição dos animais ao serem resgatados e entregues para a concessionária.
A partir deste momento a hostilidade por parte dos interlocutores da Rota das Bandeiras e da clínica Steckvet com a tutora e os resgatistas se intensificou, sem esclarecimentos reais dos fatos, o que levou o caso a vir a público chegando ao conhecimento, inclusive, de legisladores que atuam pela causa animal como o deputado estadual Rafael Saraiva (União Brasil) e o deputado federal Fred Costa (Patriota) que começaram a acionar os órgãos competentes em busca de respostas.
Muitos pontos permanecem controversos como o laudo apresentado pelo veterinário que seria filho do prefeito de Louveira, Estanislau Steck (PSD) que, por sua vez, teria sido o proprietário da referida clínica conveniada com a concessionária Rota das Bandeiras, até 2019, antes de tomar posse. O fato de a eutanásia das cadelas ter sido realizado sem o consentimento da tutora, contrariando lei federal (14.228/21) que legisla sobre o assunto quando envolve órgãos públicos e a falta de clareza sobre o estado real dos animais, entre outros.
Em live realizada nesta quinta-feira (11) Sassi, Diego, Juliana e o deputado Rafael Saraiva esclareceram mais detalhes do caso. O deputado relatou que o prefeito Estanislau também foi bastante agressivo ao ser procurado pelo legislador se preocupando apenas em esclarecer que não seria mais proprietário da clínica Steckvet e, vociferando que se o veterinário Diego havia encontrado as cadelas, caberia a ele e sua esposa terem providenciado o resgate numa total mostra de desconhecimento e ignorância quanto às atribuições de um Ente Público, no que diz respeito à tutela e garantia do bem-estar de animais em situação de risco ou aparente abandono.
Em nota publicada em sua página da rede social do Instagram a concessionária Rota das Bandeiras apresentou a sua versão da história informando que, após ser acionada, por meio de seu 0800, no dia 07 de janeiro, o centro de controle operacional enviou uma viatura de tráfego até o local recebendo as duas cadelas por um usuário que teria sido identificado como representante de uma ong em Joanópolis e que os animais foram conduzidos na mesma data para um pátio de apreensão parceiro, onde na segunda feira (08) o estado clínico de Dara e Frida teria se agravado, sendo assim conduzidas para a clínica conveniada para atendimento. Ainda, de acordo com a nota, as cadelas teriam tido uma rápida deterioração em seu quadro, afirmando ser o fato relativamente comum em casos de traumas ou infecções provocados por choque, que não poderiam ser facilmente identificados a olho nu.
Para Carla Sássi, entretanto, as informações publicadas nesta nota não trouxeram grandes esclarecimentos.
” A nota informa que uma das cadelas que teria parido recentemente exalava um odor muito forte e tinha infecção no útero, o que só poderia ser detectado por meio de um ultrassom, que ainda não foi apresentado. Além disso, que esta mesma cadela também tinha secreção purulenta na vulva e tumores nas mamas, o que nos leva a perguntar por que, então, o animal não foi levado no próprio domingo para a clínica, lembrando que o Diego é veterinário e a Juliana bióloga e, certamente teriam identificado este quadro ao resgatar os animais” Sássi também questiona a situação apresentada pela nota para a segunda cadela que estaria desorientada por choque. ” Se alguém conseguir entender o que isso significa, por favor me esclareça. Que choque? Isso não ficou claro pra mim“
A tragédia que afetou a família de Dana e tirou a vida de Dara e Frida trouxe à tona um problema crônico adiado pelas autoridades competentes brasileiras há tempos e ameaça, diariamente, a vida de humanos e animais. O acesso de animais silvestres e domésticos às rodovias e estradas do país é uma realidade perigosa, em que não se percebe efetivamente ações conjuntas e providências por parte dos órgãos responsáveis e as empresas privadas que assumem a administração destes perímetros.
Basta acessar as páginas de entidades e orgãos não governamentais que atuam na causa animal pelo país para entender o tamanho do problema e a ausência de soluções viáveis por parte dos responsáveis.
O deputado Rafael Saraiva informou na live que pedirá também a instauração de uma CPI para apuração dos contratos e convênios firmados no estado de São Paulo com as concessionárias que, muito embora sejam empresas privadas, prestam um serviço público à sociedade.
A advogada de Brasília, Ana Paula Vasconcelos, que é especialista em direito animal, membro da Comissão de Direito Animal da OAB-DF e advogada do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal – FNPDA já declarou que entrará com ação na justiça para que o caso seja apurado de forma exemplar.
“Nós iremos ajuizar uma ação civil pública (ACP) para apurar a responsabilidade da concessionária, da prefeitura e da clínica veterinária, uma vez que todos eles têm reponsabilidade civil nesta situação. Então, pediremos também ao Ministério Público para apurar possíveis práticas de crime, tanto de maus-tratos como de falsidade ideológica, uma vez que, tudo indica, ao que parece, que há um problema sério nesses relatórios e laudos que eles emitiram e, pediremos também dano moral coletivo, em razão da repercussão e do abalo na sociedade que este caso está causando”
Agora, para Dana e sua família resta apenas dor, revolta e a lembrança de suas meninas Dara e Frida que foram vítimas da irresponsabilidade e da atuação duvidosa dos agentes que deveriam prezar por sua segurança e dignidade.
Link da Live: https://drive.google.com/file/d/1ICBTJzmrPsjE4KccRQtqbKJ-PkOHdtiM/view
Links da denúncia: https://www.instagram.com/reel/C17DSjOLQt5/?igsh=YmN0bno5Zml0eWhm
https://www.instagram.com/reel/C175sOOvvhv/?igsh=MWhkdTRtb2Y2Ynd2Yw==