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POR – OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
O Redemar Brasil, a CRG Bahia e o Movimento Nacional MESC emitiram um alerta sobre a situação dos catadores (a maioria negros) durante o carnaval de Salvador
Em meio à animação, surge a pergunta: onde estão os negros? Em um evento que deveria ser inclusivo, o carnaval de Salvador, o maior do mundo, carece de justiça social. Não é desconcertante que, ao chegar, você se pergunte onde estão os habitantes da cidade mais negra fora da África? Para muitos brancos, a resposta é evidente: os negros raramente estão nos camarotes de luxo ou nos blocos mais renomados; estão muitas vezes em papéis de servir ou cuidar, como cordeiros, catadores de materiais recicláveis, policiais militares, motoristas de trios elétricos ou vendedores ambulantes de cerveja e água mineral.
A segregação durante a folia é evidente e flagrante. Dentro da comunidade de catadores de materiais recicláveis, a situação é ainda mais desumana: falta infraestrutura e preocupação com o bem-estar físico, especialmente durante o calor intenso provocado pelas mudanças climáticas. O Redemar Brasil e a CRG Bahia estão profundamente imersos nesse problema, buscando mudar esse paradigma. Segundo Rita de Cássia, diretora da CRG, “é essencial melhorar as condições de trabalho dos catadores, começando pela infraestrutura e cuidados com sua saúde física, já que muitos são idosos que buscam uma renda durante o carnaval”.
O Redemar Brasil, junto com outras organizações, propõe o programa de tecnologia social PACTO2050, que inclui a Escola para Catadores de Materiais Recicláveis. Após uma reunião com o Ministério Público da Bahia, buscam cooperação técnica para humanizar e melhorar o trabalho desses profissionais, que não só fortalecem a economia criativa, mas também contribuem para a proteção ambiental e combate às mudanças climáticas.
William Freitas, presidente do Redemar Brasil, compara os catadores aos “tigres” escravos que retiravam os resíduos das casas grandes, ressaltando que os catadores são invisibilizados e necessitam de reconhecimento como agentes ambientais. Ele questiona por que a atividade dos catadores não é reconhecida no mercado de créditos de carbono, sendo essencial para a descarbonização.
Tião Santo, presidente do Movimento Nacional Eu Sou Catador MESC, denuncia que a prática de trabalho dos catadores assemelha-se à escravidão, violando os direitos humanos e explorando de forma desumana. Ele enfatiza que a luta contra essa exploração exige ação coordenada dos governos, empresas e sociedade civil.
Sobre a reciclagem e o racismo ambiental, é alarmante constatar que cerca de 80% dos catadores são negros. O racismo ambiental se manifesta quando comunidades negras são desproporcionalmente afetadas por problemas ambientais, como poluição e falta de acesso a recursos naturais. Para combater essa injustiça, é necessário promover políticas públicas que garantam condições de trabalho dignas e conscientizar a população sobre a importância do trabalho dos catadores e da equidade racial na gestão ambiental.
Enfrentar o racismo ambiental na reciclagem é um passo em direção a uma sociedade mais justa e sustentável, onde todas as pessoas, independentemente de sua raça ou origem, tenham igualdade de oportunidades e acesso aos benefícios ambientais.