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ARTIGO
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Por – Eder Campos*, especial para Neo Mondo
O Brasil ocupa a posição 86 no ranking do World Giving Index 2024, uma pesquisa que avalia em 142 países o percentual de adultos que tiveram hábitos de generosidade nos últimos 30 dias (doando recurso para caridade, se voluntariando para uma organização ou ajudando pessoas que desconhecia e precisavam de ajuda). Na média, 38% dos brasileiros têm tais hábitos de generosidade. A média global é de 40% e os países que lideram o ranking apresentam quase o dobro desse indicador em relação ao Brasil.
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O que me chama atenção quando vejo esse indicador envolve sua relação com outra métrica: a confiança das instituições. Afinal, entendo que grande parte da ausência do hábito deriva da desconfiança cultural. Observando o Edelman Trust Index, constatamos uma correlação positiva entre o indicador de confiança e generosidade ao ver o painel de países pesquisados por ambos os índices. Tais evidências demarcam a importância de olharmos para a confiança como caminho para melhoria de nossa sociedade.
Ao pensarmos nas organizações e os desafios de sua jornada de criação de confiança, inevitavelmente iremos lidar com o tema da governança. Isso é válido para organizações públicas ou privadas, bem como para o Terceiro Setor. O estudo World Giving Index inclusive traz como recomendação direta que as OSCs precisam garantir boa governança e transparência sobre impactos para construir confiança pública.
O desafio da governança do Terceiro Setor tem suas peculiaridades, principalmente diante do contexto da função efetiva dos conselhos, figura obrigatória a ser desempenhada de modo voluntário. Eis uma agenda de desenvolvimento institucional específica que tem muito valor para aumentar a confiança e ajudar na jornada de sustentabilidade dessas organizações (inclusive, mas não somente, financeira). A reputação das OSC estará diretamente relacionada aos seus conselheiros e, por sua vez, isso terá efeito direto na capacidade de atração de recursos.
Pense em quantos serviços são realizados pelo Terceiro Setor na sociedade brasileira. Observe como muitas cidades têm uma altíssima dependência da rede de amparo desse tecido social para questões relacionadas a serviços de assistência social, saúde, educação e cultura. O potencial de um ciclo virtuoso entre desenvolvimento institucional das OSC, ampliação da confiança da sociedade e maior generosidade é imenso para o desenvolvimento socioeconômico de cidades e para a sociedade.
Minha provocação nesse artigo é que o passo inicial para essa engrenagem virtuosa reside na governança como caminho para desenvolvimento institucional.
Governança não no aspecto formal, mas prático e efetivo. Não é sobre ter conselheiros, mas sobre ter conselho efetivo, engajado, que participa de fato das reuniões no seu papel de monitorar e zelar pelos direcionamentos estratégicos. Ter participação que agregue valor não só emprestando o nome ou ostentando o título de conselheiro, mas dedicando-se à pauta e ao papel da governança no sucesso da vida da OSC.
Destravar essa agenda em busca de um conselho efetivo envolve criar pontes entre pessoas que muitas vezes estão em universos diferentes. É conectar executivos que, muito mais do que suas carteiras, possam doar tempo, dedicação, relacionamento e expertise para as OSC.
É despertar nas OSCs, imersas em suas causas com fundadores, apaixonados e empenhados até o último fio de cabelo, na forma de se relacionar com executivos de DNA diverso. Conexões com visões de mundo distintas que podem ser complementares, mas exigem romper trincheiras que estamos cavando para defender nossos territórios.
A jornada de governança efetiva passa muitas vezes por uma revitalização de seus conselhos. Essas pontes e conexões dependem de ambientes nos quais esses mundos se encontram. Pontes com credibilidade para incentivar que sejam percorridas de um lado a outro.
Isso é parte de uma agenda de desenvolvimento institucional feita com intencionalidade, que pode, e deve, ser promovida inclusive pelos investidores. Afinal, um pequeno investimento em promover a governança efetiva pode destravar muito mais valor para a sociedade.
Na Educação Social da FDC, pilotamos uma iniciativa pioneira exatamente nessa linha: promover um encontro entre potenciais conselheiros de um lado e OSCs de outro. Criamos um ambiente de confiança para esse “match” com curadoria durante nosso 3º encontro anual do Terceiro Setor promovido em julho, e estamos com revitalização de alguns conselhos em curso. Conectamos universos distintos usando nossa reputação e credibilidade com esses dois públicos (os executivos formados em nosso ecossistema e as OSC atendidas em nosso programa de apoio à gestão).
Um primeiro passo de uma jornada ampla que queremos assistir, replicar, inspirar e potencializar, com ainda mais as conexões. Uma agenda que pode promover muito valor para toda a sociedade por meio do fortalecimento da governança nas OSC. Uma agenda de confiança que irá construir desenvolvimento institucional e gerará impacto social.
*Eder Campos, Diretor de Educação Social da Fundação Dom Cabral.