A jornalista Eleni Gritzapis e o convidado Leandro Campos de Faria gravando para o greenTalks – Imagem: Divulgação/Canta
Por – Eleni Gritzapis, especial para Neo Mondo
No episódio nº 12 do greentalks, entrevista exclusiva com Leandro Campos Faria sobre a sustentabilidade na indústria de alumínio
Você sabia que o alumínio é 100% reciclável? Por outro lado, sua produção consome muita energia e provém de operações de extrativismo mineral. Para abordar a sustentabilidade na indústria de alumínio, entrevistamos Leandro Campos de Faria, gerente de Sustentabilidade da CBA. Ele responde pela estratégia, implementação e governança das iniciativas ESG em todas as Unidades da CBA no Brasil e representa a empresa como coordenador do Comitê de Sustentabilidade da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL). Participa, ainda, do Comitê da Indústria de Baixo Carbono junto ao governo Federal.
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Faria é formado em Engenharia de Alimentos pela Uni BH e pós-graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho pela FEAMIG, em Engenharia Econômica e Financeira pela CIESA e em Responsabilidade Social Empresarial e Sustentabilidade pelo SENAC-SP.
O greenTaks é uma iniciativa pioneira entre a green4T e NEO MONDO para discutir o papel fundamental da tecnologia na promoção de um futuro mais sustentável.
Confira os principais trechos da entrevista e não deixe de assisti-la na íntegra no link abaixo, ou no canal do Instituto Neo Mondo no Youtube e no spotify e canal do Youtube da Green4T:
(greenTalks) – Vamos começar já falando de um tema que sempre está na cabeça de muitas pessoas: de forma geral, a produção de alumínio consome muita energia e provém de operações de extrativismo mineral. A CBA, no entanto, produz um alumínio de baixo carbono e ao longo de anos tem investido na redução das emissões de gases de efeito estufa, sendo hoje uma referência mundial. Você pode nos contar como a empresa chegou neste patamar?
Esse é um excelente ponto, porque grande parte da indústria que produz alumínio, que é mais intensiva em carbono, usa carvão. Acho que, antes de mais nada, é importante dizer que sustentabilidade para nós, na CBA, é o ponto de partida que orienta nossa tomada de decisão, as nossas ações, planejamento, estratégia, visão de futuro.
E é com essa visão de futuro que a gente pensa em produzir soluções de alumínio que transformam vidas. Desta forma, não é simplesmente produzir o alumínio de baixo carbono, isso acaba sendo uma consequência da forma como nós trabalhamos. E essa conexão com sustentabilidade vem de longa data, desde a nossa fundação em 1955. Os nossos fundadores trouxeram então a ideia de que produzir alumínio e ter energia disponível, energia renovável era fundamental. E é daí que vem nosso principal diferencial.
Nós temos 21 usinas hidrelétricas que produzem a própria energia e que são capazes de enviar para nossas plantas essa energia limpa para produzir alumínio. Então veja a diferença. Podemos comparar um resultado global que está aproximadamente entre 11 toneladas de CO2 por tonelada de alumínio produzido com um desempenho de 3,2 toneladas, que é o da CBA. Nossa diferença é mais de 3,5 vezes menor que a média mundial.
Toda nossa produção de alumínio de baixo carbono acontece por tomadas de decisões acertadas ao longo do tempo e por causa de uma governança muito forte estabelecida com esse olhar que o ponto de partida é a sustentabilidade.
Além das 21 usinas hidrelétricas, nós criamos uma parceria em 2022 para a instalação de dois parques eólicos. A gente vem diversificando uma matriz energética que já é 100% renovável, para continuar sendo 100% renovável, mas com fontes de energias diversificadas.
(greenTalks) – Vamos falar então um pouco da tecnologia. Qual o papel da tecnologia para o alumínio de baixo carbono?
Ela é fundamental para a produção desse alumínio de baixo carbono ou para um futuro ainda mais descarbonizado. Um exemplo é a reciclagem, que é uma outra linha de atuação da CBA. Investimos em energia renovável e na ampliação da nossa capacidade de reciclagem. Lançamos, no último ano, uma linha de reciclagem capaz de reciclar 100 mil toneladas de alumínio no estado da arte de reciclagem. O que isso significa? Primeiro, é importante dizer que o alumínio é 100% reciclável, infinitamente reciclável. Isso é uma grande vantagem e diferencial competitivo porque ele pode ser reciclado infinito, às vezes sem perder a sua característica. Porém, isso não é tão simples, porque o alumínio possui composições ligadas ao próprio alumínio, como determinado tipo de material para uma janela, ou para uma esquadria, que pode ter ferro, pode ter borracha, pode ter associado outros materiais que, ao tentar reciclar sem que haja a devida separação, você contamina a produção do novo alumínio.
E a nossa nova linha é capaz de fazer todo esse processo de separação e separar o alumínio para que ele seja reciclado e as outras matérias-primas para que também voltem para as suas cadeias de circularidade, ou seja, para que a borracha volte a ser outro produto de borracha, o ferro idem e o alumínio, um novo produto de alumínio.
Sabe o que é importante dizer também? O alumínio reciclado consome 5% da energia necessária para produzir o mesmo metal numa cadeia completamente integrada, ou seja, economiza 95% da energia.
(greenTalks) – Você mencionou a cadeia de produção. Quais são os principais desafios enfrentados pela cadeia de valor do alumínio em termos de sustentabilidade?
São inúmeros os desafios, porque a CBA é uma companhia de cadeia integrada. Aliás, são pouquíssimas no mundo que são assim, inclusive. No nosso caso, significa dizer que a gente minera a bauxita, transforma essa bauxita em um produto intermediário que se chama óxido de alumínio, depois transforma isso em alumínio líquido – é essa etapa que é eletrointensiva ,- depois produz um alumínio primário que atende diversos segmentos e ainda tem uma etapa seguinte que você transforma esse alumínio primário em chapas, em perfil, em folha que vai em embalagens até a última etapa que é a própria reciclagem.
Então quais são esses desafios? Vamos começar por mineração. Minerar de forma sustentável é inegociável para a CBA. E o que significa minerar de forma sustentável? A bauxita é um tipo de minério que aparece na superfície do solo, é diferente de outros que estão na profundidade. Nas nossas minas de bauxita isso acontece, no máximo, em 6 metros de profundidade, na média 3,4 metros. Então, à medida que você remove esse minério, você remove primeiro a camada orgânica, remove o minério, depois volta com a camada orgânica e faz a reconformação. Nós usamos técnicas hoje que garantem que, ao voltar com a superfície orgânica por cima e fazer todo o tratamento, o solo volta mais rico, mais produtivo.
O outro desafio está ligado à matriz energética. Produzir alumínio é eletrointensivo. Se você não tem ou não consegue uma disponibilidade de energia renovável, você certamente vai produzir um alumínio carbono intensivo. Portanto, nesta etapa, o desafio está como é que você mantém a sua matriz renovável no longo prazo.
Da perspectiva de reciclagem, há um outro desafio, que é como você acessa, coleta e faz o tratamento dessa sucata sem tecnologia, sem uma linha capaz de fazer isso. Tem um dado interessante do International Aluminium Institute que diz que 75% do alumínio utilizado no mundo ainda está disponível para ser reciclado. Então, como é que a gente acessa esse alumínio? Como é que traz ele de volta e elimina toda essa etapa carbono intensiva, de mineração para trás, entrando com o alumínio diretamente ali no processo de reciclagem? Fazendo a economia circular acontecer.
E, por último, mas não menos importante, o desafio é como é que você engaja a cadeia seguinte, que são os clientes. E a gente vem trabalhando nesse sentido para demonstrar para os nossos clientes as vantagens competitivas de ter um produto de baixo carbono nas suas metas de descarbonização e na exigência dos seus clientes.
Nós temos visto pressão regulatória de governo, tanto de países para países, quanto internamente do próprio governo com seus produtores, com seu mercado doméstico, e a partir disso nós lançamos selo Alennium , que é um selo que demonstra, com rastreabilidade e com confiabilidade, por meio de auditoria de terceira parte, como o nosso alumínio de baixo carbono pode ser representativo no produto do nosso cliente. Desta forma, os nossos clientes podem usar o nosso selo para demonstrar essa transparência e esse engajamento da cadeia para o cliente dele, haja visto que tem aumentado a pressão e a demanda de produtos de baixo carbono pelos consumidores.
(greenTalks) – Quais são as previsões da CBA para o papel do alumínio nos próximos 10 anos, especialmente em relação à sustentabilidade e novas tecnologias? Podemos sonhar com o alumínio net zero?
É um caminho, um desafio e tanto, porque, dentro da tecnologia existente, há um caminho ainda de desenvolvimento para que o net zero seja tecnicamente e financeiramente viável e, portanto, possível. Mas é um caminho que já vem sendo trilhado e é um caminho que naturalmente vai acontecer. Nós, da CBA, acreditamos que vai acontecer. Temos o nosso compromisso de traçar essa trajetória net zero até 2050. Nós acreditamos que vai dar certo, mas que depende de uma articulação setorial. E isso só faz sentido se formos juntos, portanto, colaboração é fundamental.
(greenTalks) – Vamos pensar daqui a 10 anos, qual seria uma nova aplicação de alumínio?
O alumínio está presente em quase tudo que a gente lida, no iPad, no meu telefone, na estrutura dos prédios… E o alumínio vai continuar sendo um facilitador da transição energética e de um futuro cada vez mais sustentável. Por exemplo, em construções: o alumínio tem sido usado para reduzir o peso da construção e, portanto, usar menos concreto, menos matéria-prima. O alumínio pode ser usado em aplicações aeroespaciais. Tudo isso depende da inovação e da tecnologia que vem avançando ao longo do tempo.
Então, eu vejo que o futuro é feito de alumínio pelas suas características, pela sua capacidade de circularidade e por ter elementos essenciais da sua natureza que tem tudo a ver com sustentabilidade: 100% reciclável, leve, versátil, dentre outras características.
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