Nos primeiros dez dias de setembro, número de incêndios no Cerrado já ultrapassa total registrado ao longo de todo o mês de setembro do ano passado – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
ARTIGO
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Por – Leonardo Sanches Previti*, para Neo Mondo
Bioma vive pior seca em 700 anos e foi o mais desmatado em 2023; queimadas impactam comunidades guardiãs do Cerrado
Um novo levantamento do MapBiomas, divulgado no último mês, revela que o Brasil já perdeu 33% de toda sua vegetação nativa. Desse total, 13% foram desmatados nos últimos 39 anos, com a conversão de uso do solo ocorrendo principalmente para a expansão da pecuária e da agricultura. Desde 1985, a superfície dedicada à pecuária cresceu 79%, enquanto a área agrícola aumentou 228%.
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Embora a Amazônia tenha sido a região mais desmatada em termos absolutos nos últimos 39 anos, a situação no Cerrado é ainda mais preocupante. Proporcionalmente, o bioma perdeu cerca de 27% de sua vegetação natural desde 1985, uma área equivalente ao tamanho do Estado de Goiás. Dados recentes mostram que, enquanto o desmatamento na Amazônia vem sendo controlado em velocidade recorde, já o Cerrado segue em direção oposta. Entre 2022 e 2023, o desmatamento na região aumentou cerca de 68%, em grande parte devido a legislações estaduais mais flexíveis.
A situação torna-se ainda mais alarmante quando se considera que o Congresso Nacional possui uma série de pacotes de lei aguardando votação, que podem flexibilizar ainda mais a legislação ambiental vigente. O desmatamento acompanha a história do desenvolvimento econômico brasileiro desde o período colonial, com a exploração predatória do pau-brasil, seguida por ciclos econômicos igualmente danosos, que deixaram marcas socioambientais profundas na sociedade.
Atualmente, as áreas com maior índice de desmatamento também apresentam as maiores desigualdades sociais e concentração de renda, perpetuando um modelo de desenvolvimento que não contribui para a melhoria da qualidade de vida. Esse cenário é agravado pelo processo contínuo de mudanças climáticas, que intensificam eventos extremos, como calor intenso, estiagens e enchentes, afetando principalmente as populações mais vulneráveis.
As enchentes no Rio Grande do Sul, em abril de 2024, exemplificam os desafios que o país enfrentará nas próximas décadas. O modelo de desenvolvimento atual está esgotado e não oferece um legado positivo em um mundo em transição. É urgente implementar uma moratória ao desmatamento e desenvolver novas formas de produção que priorizem o bem-estar das populações urbanas e rurais. A vegetação nativa é essencial para proteger contra estiagens prolongadas, enchentes e a redução do calor nas cidades.
Os municípios brasileiros precisam, agora mais do que nunca, investir em economias regenerativas que preservem e restaurem florestas e outras formações naturais, garantindo assim a adaptação necessária para proteger a integridade de todos os habitantes.
Leonardo Sanches Previti é coordenador dos Laboratórios de Engenharia Civil e Arquitetura do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) e é membro do comitê do ECOA, núcleo de ESG da Instituição.