Arquipélago de São Pedro e São Paulo – Foto: Fernanda Azevedo
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Mais de 1 milhão de registros sobre organismos foram compilados até agora pelo programa científico
A biodiversidade marinha da costa brasileira e ilhas oceânicas é uma das maiores do oceano Atlântico. Para registrar como estão distribuídos os organismos marinhos e investigar os seus padrões de biodiversidade, o Programa BioGeoMar está analisando informações de bases de dados organizada por pesquisadores de 12 universidades públicas do Brasil. Até o momento, o grupo de pesquisa trabalhou com 1.092.027 de registros. Esses registros são um conjunto de informações sobre onde foi encontrada cada espécie. O estudo, que será concluído em 2023, tem a intenção de mapear a biodiversidade marinha, localizar quais locais precisam de mais estudos e indicar áreas prioritárias para a conservação, integrando pesquisa, divulgação científica e ações de extensão.
Os primeiros resultados irão embasar uma publicação científica que buscou identificar quais locais são menos conhecidos em relação à biodiversidade e quais locais são recorrentemente estudados por diversos pesquisadores. Esses resultados poderão servir para direcionar estudos futuros para os locais menos conhecidos e ajudar na compreensão dos fatores que limitam a pesquisa científica sobre a biodiversidade marinha brasileira.
“Essa publicação faz parte da dissertação de mestrado de uma das pesquisadoras envolvidas, defendida no curso de pós-graduação em Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Assim, essa primeira publicação irá contribuir para o desenvolvimento científico e embasamento de políticas públicas relacionadas às coletas científicas e à conservação de espécies marinhas, além de contribuir para a formação científica de uma aluna de mestrado”, explica a bióloga Fernanda Azevedo, coordenadora e responsável técnica pelo Programa BioGeoMar, que tem o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Nesse estudo estão sendo usadas as bases de dados do Global Biodiversity Information Facility (GBIF), do Ocean Biodiversity Information System (OBIS) e acrescentados os dados dos laboratórios envolvidos no Programa BioGeoMar. “Para aprimorar o sistema, decidimos ir além do que estávamos prevendo no início do BioGeoMar, ampliando para áreas extra à costa brasileira no Atlântico e para outros grupos de organismos não previstos no projeto. Esse aumento da amplitude geográfica foi importante para que fosse possível comparar áreas extremamente bem monitoradas, como a costa sul dos EUA, com áreas do território brasileiro”, explica o biólogo Ubirajara Oliveira, também coordenador do projeto, que desenvolveu um conjunto de ferramentas de análises de biodiversidade na plataforma Dinamica EGO, desenvolvida pelo Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Esponja silicosa (Dysidea etheria) – Foto: Eduardo Hajdu
Década da Ciência Oceânica
O Programa BioGeoMar está alinhado às metas do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 14 “Vida na Água”, um dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, e com a Década da Ciência Oceânica, ambos no escopo das ações globais da UNESCO-ONU. A atuação se dá em duas frentes principais que são a pesquisa e a divulgação científica, auxiliando na promoção da ciência cidadã e da cultura oceânica. “Com o BioGeoMar pretendemos trazer contribuições efetivas para a ciência e a sociedade, reunindo uma equipe executora multidisciplinar”, avalia Fernanda Azevedo.
Ela destaca a importância de diferentes setores da sociedade compartilharem os resultados de suas iniciativas, para a superação de um dos 10 desafios da Década da Ciência Oceânica, que é: “Garantir um sistema sustentável de observação dos oceanos em todas as bacias oceânicas, que forneça antecipadamente, e a todos os utilizadores, informações e dados acessíveis que permitam implementar ações”.
A série educativa “Mergulho no Oceano” foi lançada em julho deste ano com matérias publicadas no site institucional do Espaço Ciência Viva (ECV), organizada em três temporadas que expressam os objetivos da Cultura Oceânica: “Lixo no Mar”, “Da Costa ao Abismo” e “Clima e Oceano”. Essa empreitada de construção de materiais educativos virtuais está gerando frutos relevantes graças à parceria entre as equipes do ECV e da IFRJ, da participação de licenciandas da USP, e da assessoria do Programa BioGeoMar. É uma iniciativa que se soma às ações da Década da Ciência Oceânica, que se conecta também aos grupos de trabalho da Liga das Mulheres pelo Oceano e do Grupo de Apoio à Mobilização do Sudeste (GAM-SE).
Saiba o que é o Programa BioGeoMar
Com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, o Programa BioGeoMar foi criado em 2019. Ele tem como objetivo analisar, ao longo de 4 anos, o estado de conhecimento da biodiversidade marinha do Brasil, como a biodiversidade se distribui pela costa e apontar áreas prioritárias para a conservação e para se realizar estudos futuros. Estão envolvidos 18 pesquisadores, de diversas especialidades, integrantes de 12 universidades públicas, e 9 estudantes bolsistas e 6 pesquisadores como apoio técnico. Tem como gestor a Fundação Educacional Ciência e Desenvolvimento (FECD), e fazem parte da rede colaborativa: UFRJ, UFMG, UFPR, Museu Nacional/UFRJ, UEL, UFAL, UFF, UNESP, UNIRIO, UFPE, UFSC e USP. Estão sendo utilizadas plataformas globais que contém a informação de distribuição geográfica das espécies e inseridos dados inéditos para a ciência a partir das coleções zoológicas e botânicas dos laboratórios dos pesquisadores. Por fim, o projeto disponibilizará as informações em diferentes plataformas públicas. Entre as metas do BioGeoMar está também contribuir para a Década da Ciência Oceânica, que ocorrerá entre 2021 e 2030, conforme estabelecido pela ONU.