Foto – Áthila Bertoncini
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Novas parcerias do Projeto Meros do Brasil transcendem fronteiras da ciência para promover conservação dos meros
Há 10 anos, a equipe do Projeto Meros do Brasil, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, atua no estado de São Paulo em uma experiência pioneira no Brasil e ainda desafiadora para a ciência: a reprodução dos meros em ambientes artificiais.
De acordo com o professor, pesquisador do Instituto de Pesca, Dr. Eduardo Gomes Sanches, que é coordenador do Meros em São Paulo e responsável por esta pesquisa , “apesar do grande conhecimento e das expressivas conquistas acumuladas em todos estes anos de esforços de pesquisa, um dos grandes desafios que enfrentamos ainda, é a formação de um plantel, ou seja, de um cardume de reprodutores”. À vista disso, para avançar nas pesquisas, recentemente o Projeto Meros ganhou dois grandes aliados: no Brasil, o Aquário de São Paulo e na Colômbia e o Oceanario Islas del Rosario.
Inaugurado em 2006, o Aquário de São Paulo é o primeiro aquário temático da América Latina. Com um total de 15 mil metros quadrados e 4 milhões de litros de água, o espaço abriga milhares de animais de centenas de espécies, mantendo-se como referência em tratamento, bem estar e manejo de animais. A parceria vai permitir o acompanhamento do crescimento e a manifestação dos comportamentos reprodutivos dos meros. O tanque Oceanário conta com um volume de aproximadamente 160 mil litros, o que proporcionará condições ideais para a manutenção de um grupo de matrizes com seis meros.
“O Oceanário fica no circuito de visitação e desta forma temos a chance de ampliar as ações em parceria com o Aquário para além da ciência, potencializando também atividades de educação e sensibilização ambiental, já que mais pessoas poderão ver um mero, conhecê-lo e possivelmente compreender a importância da conservação desta espécie ameaçada”, destaca Sanches. Anualmente, o Aquário recebe mais de 550 mil visitantes.
Já, a cooperação internacional com o Oceanario Islas del Rosario, na Colômbia possibilita um novo intercâmbio de informações técnico-científicas e contribui para o fortalecimento da rede de conservação da espécie Epinephelus itajara integrando conhecimentos em uma área distinta de sua ocorrência.
“O mero é uma espécie com ampla distribuição, ultrapassando fronteiras. Em cada local suas populações enfrentam realidades distintas, e conhecer essas diferentes realidades de conservação, políticas e pesquisas, pode auxiliar na definição dos rumos futuros quanto à conservação e estudo da espécie no Brasil”, explica o professor Sanches.
O Oceanario Islas del Rosario está instalado em uma ilha que faz parte do arquipélago de Barú, localizado a cerca de 50 quilômetros da cidade de Cartagena. A instituição é pioneira na pesquisa de aquicultura de peixes marinhos na Colômbia, e é a única em todo o mundo que conseguiu reproduzir e manter larvas, juvenis e agora adultos de mero.
Para Sanches, conhecer a estrutura de trabalho do Oceanário nos mostrou que o Laboratório de Piscicultura Marinha do Instituto de Pesca, em parceria com o Projeto Meros do Brasil, está no caminho certo. “Nosso conhecimento em inversão sexual e criopreservação de sêmen de meros e outras garoupas surpreendeu a equipe do Oceanário que ficou muito interessada em utilizar estas técnicas em futuras ações. Além disso, o domínio da ferramenta da hematologia (estudo de componentes sanguíneos) aqui no Brasil, referência para identificação do estado sanitário, nutricional e reprodutivo dos meros, foi alvo de grande admiração, visto que o Oceanário nunca havia cogitado sua utilização”, destaca.
Seguindo essa linha de novas possibilidades com o avanço das pesquisas, espera-se, enfim, responder a uma série de perguntas ainda em aberto na ciência para a espécie, tais como: de que forma ocorre a formação do plantel em cativeiro num ambiente artificial? Os meros poderão se reproduzir neste ambiente? Uma vez respondidas essas questões, será possível desenvolver outros estudos complementares para trazer novas informações acerca de práticas de bem-estar animal, do comportamento reprodutivo dos meros e de outros aspectos que ampliarão o conhecimento de todos sobre esses gigantes do mar.
É importante destacar que para a formação do plantel do Aquário de São Paulo, as coletas dos exemplares estão sendo realizadas com o auxílio de pescadores artesanais parceiros, o que permite envolver a comunidade pesqueira nas ações de pesquisa, ampliando o acesso ao conhecimento local “O conhecimento científico precisa ser disponibilizado para as comunidades tradicionais, assim como os saberes destas comunidades precisam integrar as ações de conservação. Somente assim poderemos garantir a presença dos meros nos estuários e oceanos para as próximas gerações” conclui Sanches.
Todas as etapas do componente de aquacultura desde 2012 até aqui, assim comoa coleta dos meros, são realizadas mediante a licença concedida pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por se tratar de espécie ameaçada e que possui portaria específica que proíbe a captura, transporte e comercialização.
Os estudos de reprodução sob cuidados humanos, conduzidos pelo Projeto Meros em parceria com o Laboratório de Piscicultura Marinha do Instituto de Pesca de São Paulo e o Aquário de São Paulo, são realizados exclusivamente com a intenção de responder às questões que seguem em aberto na ciência para a espécie e não de repovoamento em ambiente natural, visto que esta é uma prática não permitida por lei no Brasil.