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ARTIGO
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POR – MARIANA GIOZZA*, PARA NEO MONDO
Ecossistemas saudáveis geram diversos benefícios para a sociedade, como polinização e solos férteis, conservação de nascentes e maiores estoques de carbono – os chamados serviços ecossistêmicos. Porém, historicamente, o desenvolvimento antrópico desordenado tem gerado um alto desequilíbrio nesses ecossistemas. Atualmente, estima-se que no mundo existam 2 bilhões de hectares de ecossistemas florestais em algum grau de degradação, o que afeta diretamente a saúde da natureza e a prosperidade humana. Preocupada com esse desequilíbrio, as Nações Unidas estabeleceram o período entre 2020 e 2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas: uma chance de reestabelecer o mundo natural que nos sustenta. Além disso, estudos apresentam que os benefícios econômicos de promover a restauração excedem em até nove vezes o custo do investimento. Por exemplo, estima-se que entre agora e 2030, a restauração de 350 milhões de hectares de ecossistemas degradados pode gerar 9 trilhões de dólares em serviços ecossistêmicos, e remover entre 13 e 26 gigatoneladas de gases de efeito estufa da atmosfera.
Os programas de restauração são a nova esperança para o combate às mudanças climáticas e perda da biodiversidade, e nesse desafio, as regiões secas são uma peça-chave, pois representam 40% da superfície terrestre e 30% da população humana. Por isso, a Caatinga merece um olhar especial, sendo a região semiárida mais biodiversa do mundo, e o único bioma exclusivamente brasileiro. A Caatinga é uma das regiões mais secas e quentes do planeta, onde a falta de água restringe a produtividade, e o solo raso e pedregoso desafia o crescimento de plantas mais robustas. Aliado a isso, a exploração deste bioma tem levado seus ecossistemas à desertificação, e os programas de restauração sofrem com a alta mortalidade de plantas.
Para contornar este desafio, desde 2013, o Laboratório de Ecologia da Restauração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte vem desenvolvendo inovações tecnológicas para o manejo da vegetação, com resultados promissores na pega das mudas e no sucesso do processo de restauração florestal em regiões semiáridas. A técnica, premiada pela “Dryland Champions Brazil” da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, consiste em plantar mudas de raízes longas em locais individualmente hidratados, e tem sido a melhor opção para restauração de áreas no semiárido.
Mas restauração é uma tarefa complexa, impossível de ser conduzida sozinha. Para isso, a formalização de parcerias estratégicas que aliem o conhecimento técnico sobre o ecossistema com os recursos necessários para financiar os processos de restauração precisa ser incentivada, e estes virão majoritariamente do setor privado. Uma ação de destaque do setor veio da Celeo Redes, que através do seu projeto Serra de Ibiapaba, localizado na região noroeste do estado do Ceará, buscou otimizar as suas ações de compensação ambiental ao firmar o compromisso voluntário de reflorestar 15% acima do total obrigatório estabelecido em novos processos de concessão de suas licenças ambientais. Em parceria com a VBIO, plataforma de bioeconomia que atua para agregar soluções e ajudar organizações a gerar impacto competitivo através da biodiversidade brasileira, que a empresa
encontrou o parceiro ideal para atingir seu compromisso voluntário. Este parceiro foi a Associação Caatinga – organização com mais de 23 anos de atuação desenvolvendo projetos de conservação e desenvolvimento sustentável de comunidades rurais na Caatinga. Desta união surgiu o Projeto “Restaura Caatinga”, com o objetivo de restaurar 20 hectares de ecossistemas florestais no bioma Caatinga, em uma região hoje conhecida por ser líder de desmatamento no estado do Ceará.
O município de Crateús, localizado na região sudoeste do Ceará, possui a maior quantidade de Unidades de Conservação no estado, e mesmo assim, aparece como campeão de desmatamento. Segundo a Global Forest Watch, no período de 2001 a 2019, foram 5.430 hectares de perda de cobertura arbórea, equivalente a uma diminuição de 18% da cobertura vegetal, responsável pela emissão de 681.000 tCO₂. Esses dados refletem o convívio depredatório do meio ambiente que vem ocorrendo na região, comprometendo, para além do equilíbrio ambiental, os serviços ecossistêmicos que provêm sustento para boa parte da população local.
“A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, e ocupa mais de 90% do território do Ceará. Porém, cerca de 50% da sua cobertura vegetal já foi desmatada, então é importante que iniciativas de recuperação florestal como este projeto, possam ser realizadas para revertermos esse quadro”, explica Daniel Fernandes, coordenador geral da Associação Caatinga.
Com atuação no município, no entorno da Reserva Natural Serra das Almas, Unidade de Conservação mantida pela Associação Caatinga, e reconhecida pela UNESCO como 1º Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Caatinga, o projeto promoverá impactos positivos na conservação da biodiversidade presente na região, envolvendo e beneficiando mais de 40 comunidades rurais circunvizinhas, as quais usufruem dos serviços ecossistêmicos promovidos pela Reserva como, por exemplo, segurança hídrica e mitigação dos efeitos do aquecimento global.
Porém, o grande diferencial do “Restaura Caatinga” é o entendimento de que nenhum processo de restauração se mantém de pé sem a contribuição de quem vive na região. Por isso, todo o conhecimento que permeia esse projeto será disseminado para diversos atores locais, desde a difusão da técnica de restauração, até a capacitação de trabalhadores rurais independentes, quilombolas e comunidades de assentamentos locais em técnicas de coleta, armazenamento e comercialização de sementes nativas, mostrando que é possível gerar renda com a conservação da biodiversidade brasileira.
O grande propósito do projeto “Restaura Caatinga” é o de promover um ciclo positivo em torno da restauração da Caatinga, gerando oportunidades baseadas na conservação do semiárido mais biodiverso do mundo. Após atingir os 20 hectares, tanto a Associação Caatinga, quanto a VBIO tem o objetivo de trabalhar juntos para ampliar as áreas de restauração e trazer muito mais benefícios à região.
*Mariana Giozza – Gestora de Projetos na VBIO.eco.