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ARTIGO
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Por- Conrado Santos*, articulista de Neo Mondo
“Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.” Paulo, Romanos 7:19
A citação acima de Paulo de Tarso nos dá uma pista de que essa sensação de dificuldade em fazer o bem não é tão incomum quanto pensamos. Afinal, até o Apóstolo dos Gentios, em toda sua dedicação e transformação, sentia essa dificuldade em sua alma.
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Cada um de nós pode descrever inúmeras situações em nossas vidas em que, de certa forma, desperdiçamos uma oportunidade de fazer o bem. Talvez, ao recordarmos tais acontecimentos, sintamos até mesmo um certo arrependimento. Mas o reconhecimento de algo que necessita de nosso esforço e dedicação para ser conquistado e aprimorado é o que realmente importa. Um fato a ser considerado de forma importantíssima, também expresso na frase de Paulo, é o desejo de fazer o bem. Isso é fundamental: não desistirmos de tentar e, a cada dia, tornar essa distância entre o que queremos e o que fazemos menor.
Por onde começar para que cada vez mais façamos o bem? Um ponto de partida útil é a busca pelo autoconhecimento. Se quisermos mergulhar mais profundamente nesta questão, podemos nos perguntar: Fazer o bem é algo inato em nós? Somos seres inclinados para o bem? Afinal, qual é a nossa verdadeira natureza?
Como reflexão inicial, recorremos ao conceito do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau. Em sua obra “O Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”, ele apresenta a convicção de que o homem é bom por natureza, e são os costumes criados na sociedade que degeneram essa natureza. Rousseau cunha o conceito do “bom selvagem”, ou seja, o homem em seu estado natural é bom, e conforme avança na vida em sociedade, as desigualdades surgem e o corrompem.
Também encontramos uma definição do escritor Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita. Em sua obra “O Livro dos Espíritos”, ele esclarece muito sobre nossa origem, apresentando uma perspectiva real e científica a respeito da imortalidade da alma. Kardec pergunta aos espíritos: “Uns espíritos foram criados bons e outros maus?” A resposta é precisa: “Deus criou todos os espíritos simples e ignorantes, ou seja, sem conhecimento. Deu a cada um deles uma missão, com o fim de esclarecê-los e progressivamente conduzi-los à perfeição, pelo conhecimento da verdade e para aproximá-los Dele.”
O pensamento de uma natureza simples, sem inclinações para o mal, é presente nos dois conceitos. Rousseau afirma essa natureza boa, e na obra de Kardec, vemos explicitamente uma referência a essa bondade ao se afirmar que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Ou seja, essa semelhança, ainda que sejamos ignorantes, não pode ser ruim.
Temos, assim, um caminho a percorrer. Sabemos que não é possível retroceder em conhecimentos adquiridos, ou seja, na nossa aquisição intelectual ao longo de tantas experiências. Ainda, não há como não vivermos em sociedade e cada vez mais integrados em uma grande comunidade global. Nosso caminho deve ser o de resgatar a essência do bem em nossas vidas. Caminharmos a passos largos e acelerados para uma reconexão com a nossa própria realidade existencial, ou seja, fazer o bem nos proporcionará mais harmonia e felicidade. Afinal, não estaremos caminhando contra nossa natureza, mas viveremos em harmonia com as Leis Divinas.
A própria ciência contemporânea já atestou essa afirmação há tempos. Em uma matéria publicada no O Globo, em novembro de 2012, o psicólogo João Ascenso citava uma pesquisa realizada em parceria com o neurocientista Jorge Moll Neto. Essa pesquisa apresentou ativações cerebrais no mecanismo de recompensa (prazer) quando o indivíduo se propõe a fazer o bem. Ascenso explica: “Nos experimentos, ele mostrou que, quando doamos dinheiro para uma instituição de caridade, ativamos nosso sistema cerebral de prazer mais intensamente do que quando recebemos dinheiro.” Isso significa que temos um sistema biológico programado que nos dá mais prazer fisiológico ao doar do que ao receber algo. É uma informação biológica que não tem nada a ver com cultura ou religião e que vira de cabeça para baixo toda a nossa estrutura social.
É possível encontrar muitos mais estudos que não deixam dúvidas: fazer o bem é uma escolha que nos proporcionará saúde e bem-estar. Assim como hoje já compreendemos que o homem não nasceu para ficar parado e precisa da prática regular de exercícios, o mesmo se aplica à prática do bem. Assim como não é fácil para muitos vencer a inércia do comodismo para praticar exercícios físicos, também não é para a prática do bem. É preciso agir, é preciso vencer o comodismo. Só assim, um dia, fazer o bem se tornará um hábito e não mais nos identificaremos tanto com a afirmação de Paulo de Tarso. Afinal, já estaremos fazendo o bem que desejamos, pois teremos compreendido que sem ele não há bem-estar e felicidade. Comecemos o quanto antes: fazer o bem faz bem.
Conrado Santos é um entusiasta na busca pela Espiritualidade na vida e nos negócios. Empresário, profissional de marketing e voluntário no Grupo Espírita Cairbar Schutel, Folha Espírita e AME-SP.