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ARTIGO
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Por – Marina Lacôrte* e João Gonçalves*, para Neo Mondo
Enquanto o mercado financeiro comemora o sinal verde do órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos para que a JBS ofereça suas ações na Bolsa de Nova York, ambientalistas e cidadãos conscientes sobre os motores da mudança climática lamentam mais esse baque para o planeta.
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Há tempos, inúmeras organizações ambientalistas expõem os riscos associados à expansão do capital da JBS no exterior, tendo em vista que o desmatamento relacionado à pecuária industrial é uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. A carne bovina corresponde a 77,6% das emissões dos sistemas alimentares e é responsável por 57,2% dos gases de efeito estufa do país. As emissões das operações atuais da JBS, sozinhas, já superam as de toda a Espanha.
Com o fôlego financeiro capitalizado em dólar, o cenário promete ser ainda mais devastador com a contínua expansão da empresa para outros mercados. A lógica é simples: cada vez que a JBS abre uma fábrica em locais como o distante Vietnã, o impacto ambiental é sentido aqui, pois os animais são criados e abatidos em solo brasileiro.
O mais alarmante é que, nos últimos 20 anos, o crescimento da JBS foi largamente financiado pelo BNDES, que investiu bilhões para tornar a empresa dos irmãos Batista a maior processadora de carne do mundo. Via BNDESPar, o banco é o maior acionista individual da JBS, com 20,81% das ações da companhia. Isso significa que o dinheiro do contribuinte financia uma empresa cujo principal negócio está ligado à destruição ambiental e ao agravamento da crise climática, evidenciado em consequências como as enchentes no Rio Grande do Sul.
No entanto, o empenho da JBS para solucionar seus problemas ambientais é bastante desproporcional à sua pegada ambiental. Enquanto promete banir o desmatamento da sua cadeia de fornecimento de carne bovina na Amazônia até 2025, na prática, entrega controvérsias. Esse falso discurso, conhecido como greenwashing, levou o Gabinete da Procuradora-Geral do Estado de Nova York a processar a empresa. Já a respeitada Science Based Targets initiative (SBTi) — uma iniciativa colaborativa global que valida metas climáticas empresariais — rebaixou, por falta de evidências, o status da JBS para “compromisso removido”. Para piorar, um executivo da empresa afirmou que a meta de reduzir emissões e zerar o desmatamento ilegal não passa de “meras aspirações”.
Esses fatos colocam em xeque não só as intenções da JBS, mas também a credibilidade de todo o agronegócio brasileiro, além de descredenciar o Brasil perante o mundo, colocando em dúvida a capacidade do país de honrar seus compromissos climáticos.
Acionistas possuem um papel central e devem direcionar seus investimentos para empresas éticas e comprometidas ou para alternativas agroecológicas e familiares. Em um momento em que é urgente transformar o modelo agrícola para alimentar as pessoas — sem deixar de garantir a sustentabilidade e o futuro do planeta —, investir na JBS é uma aposta no colapso climático.
*Marina Lacôrte – Gerente da Campanha de Sistemas Alimentares da Proteção Animal Mundial.
*João Gonçalves – Diretor Global da Mighty Earth.