O Oceano nos ensina que ainda é possível voltar para casa – Imagem gerada por IA – Foto: Divulgação
POR – OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
No Dia Mundial dos Oceanos, é tempo de parar, ouvir o mar — e compreender que nossa sobrevivência não depende apenas de proteger a imensidão azul, mas de pertencer a ela
Tudo começou no oceano.
Muito antes dos mapas, das bandeiras, das guerras e das ideias de nação. Antes das palavras e das cidades, o planeta era mar. E dele nasceu a vida — célula por célula, respiração por respiração.
Hoje, 8 de junho, celebramos o Dia Mundial dos Oceanos. Mas essa data vai muito além de uma homenagem. Ela é um espelho, um alerta, um chamado. Um lembrete de que o oceano não é cenário: é origem, sustento e destino.
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O mar nos deu tudo — e está morrendo em silêncio
Mais de 70% da superfície do planeta é oceano. Ele regula o clima global, produz mais da metade do oxigênio que respiramos, absorve cerca de 30% do CO₂ da atmosfera, abriga milhões de espécies e garante alimento e sustento a bilhões de pessoas. E, no entanto, o oceano adoece em silêncio.
Poluição, sobrepesca, acidificação, mineração em águas profundas e o colapso climático empurram os mares para um ponto de não retorno. Os recifes de corais estão branqueando, a vida marinha desaparece, a temperatura da superfície oceânica quebra recordes sucessivos. E tudo isso enquanto, em terra firme, fingimos que o oceano é longe.
Mas ele está aqui. Nas nuvens. Na chuva. No nosso prato. No ar que respiramos.
O oceano não é um “tema ambiental” — é a própria vida em estado líquido.
Do mito à ciência: o mar como espelho da humanidade
De Poseidon a Iemanjá, do leviatã bíblico ao canto das sereias, o oceano sempre simbolizou o mistério, o sagrado, o indomável. Foi temido, venerado, conquistado — mas raramente compreendido como parte do que somos.
A ciência agora confirma o que a sabedoria ancestral já dizia: não há separação entre terra e mar. O oceano influencia o clima, o solo, o ciclo da água, os ventos, a saúde dos biomas. O que acontece nas montanhas reverbera nos mares. O que acontece nos mares redefine o planeta.
Falar de oceano, hoje, é falar de tudo:
política, justiça climática, soberania alimentar, futuro da economia, ciência e cultura.
Proteger o oceano é um ato de civilização
O oceano é berço, biblioteca e oráculo. Ele abriga as memórias da Terra e antecipa seu futuro. Mas está ameaçado de se tornar túmulo — vítima da ganância, da ignorância e do silêncio institucional.
Cada plataforma de petróleo, cada rede de pesca predatória, cada tonelada de plástico despejado é um golpe contra essa inteligência líquida que nos sustenta.
O Dia Mundial dos Oceanos, instituído pela ONU, não é apenas uma data para postagens com paisagens tropicais. É uma tentativa de nos salvar do maior erro humano: esquecer de onde viemos.
Um novo pacto azul: da contemplação à responsabilidade
Não há mais tempo para contemplar o oceano com romantismo ingênuo. O que se exige agora é ação. Um pacto azul, coletivo, corajoso e profundo.
Isso passa por:
- Expandir áreas marinhas protegidas (hoje apenas 8% dos oceanos globais)
- Enfrentar os subsídios à pesca industrial predatória
- Estimular políticas costeiras integradas e baseadas na ciência
- Reconhecer o saber tradicional das comunidades pesqueiras e ribeirinhas
- Inserir educação oceânica nos currículos escolares
- Colocar o oceano no centro da agenda climática internacional
Preservar os oceanos não é salvar “um ecossistema”.
É salvar o sistema que nos permite respirar, viver e existir com dignidade.
A última fronteira é a consciência
O futuro será azul — ou não haverá futuro.
Não se trata de retórica. Trata-se de realidade.
Não haverá civilização possível com oceanos colapsados.
Não haverá democracia, saúde ou justiça com mares mortos.
Hoje, 8 de junho, o mar está falando. Cabe a nós decidir se vamos continuar olhando para ele como um horizonte distante — ou se vamos, enfim, reconhecê-lo como nossa origem e destino.
O oceano está em nós.
Na nossa biologia, na nossa memória, na nossa poesia.
Está pedindo socorro.