POR – ELENI LOPES, DIRETORA DE REDAÇÃO DE NEO MONDO
A proposta de lançamento de um parque temático no Amazonas, com custo de US$ 500 milhões, reacende o debate sobre o potencial devastador do turismo desenfreado, apesar do progresso trazido por ele.
Num bioma cujo equilíbrio é essencial, a exploração turística gera controvérsia e debate entre os que a defendem de forma planejada para uma maior conscientização sobre a importância de sua preservação e os que a criticam pelo potencial de destruição e impacto natural. Por isso, a apresentação do Amazonas Biopark, parque temático a ser construído no Amazonas, no último dia 22 de agosto, tem o potencial de gerar polêmica e dividir opiniões.
Pensado há dez anos pelo Governo do Amazonas, o empreendimento custará cerca de US$ 500 milhões, recurso que deverá ser captado de investidores nacionais e internacionais, ainda sem prazo para inauguração. “As pessoas procuram um destino novo e o Amazonas tem um nome muito forte lá fora. Os turistas são fascinados pela Amazônia e o parque vai oferecer a experiência da fauna, flora e a vida dos povos tradicionais que aqui habitam”, disse, na ocasião de seu lançamento, o presidente do Brazilian Tourism & Hospitality Group, João Gilberto Vaz. O presidente da Associação Mundial de Parques Temáticos e vice-presidente da Walt Disney Company, Greg Hale, também esteve em Manaus (AM), no início do mês, para conhecer o Amazonas Biopark.
O projeto conta com 21 pontos de atração, entre montanha-russa, aquário, tartarugário, lojas, restaurantes, um núcleo indígena, centro de experiência do homem da floresta, borboletário, trilhas com plantas nativas e teleférico. Sua localização ainda não foi definida, mas que já existem 4 possíveis áreas: Puraquequara, Tarumã, Iranduba e uma outra oferecida pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). A presidente da AmazonasTur, Oreni Braga, garantiu aos jornalistas que cobriram o evento que o local a ser escolhido não trará impacto antrópico sobre o ecossistema e contará ainda com água ao entorno. “Ainda não definimos o lugar exato, mas já temos mapeados três locais que podem ser estratégicos para o Biopark”, disse ela.
Um projeto tão gradioso provoca arrepios e temor do seu potencial devastador. É sabido que a atividade turística é benéfica para a economia das regiões pela movimentação social, cultural e econômica. Atualmente na Amazônia, cresce de forma acelerada o número de hotéis de selva flutuantes, como incremento ao turismo ecológico, trazendo considerável aumento da demanda de energia elétrica, alterações no estilo de vida das populações nativas, contaminação dos rios devido ao aumento de esgotos não tratados, entre outros impactos indesejáveis.
Papéis invertidos, os vilões são os humanos.
Outra atividade turística que se expande na região é o turismo de interação. Um exemplo desta atividade é a crescente promoção de convívio com o boto-vermelho – mais conhecido fora da Amazônia como boto-rosa, na localidade do baixo Rio Negro. Por ser um animal bastante curioso, aguça a curiosidade dos turistas por ser extremamente sociável. No entanto, o boto-vermelho aparece na lista do Ministério do Meio Ambiente na categoria “Em perigo”.
Foi pensando nisso que a Associação Amigos do Peixe-boi (AMPA), com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, iniciou uma pesquisa, denominada “Distribuição e estimativa populacional de boto-vermelho (Inia geoffrensis) e tucuxi (Sotalia fluviatilis) no baixo rio Negro, Amazonas”, que estuda aspectos da biologia da duas espécies de golfinhos fluviais.
“Entendemos que a atividade do turismo de interação no local é rentável para a região, mas precisamos visar a conservação desses animais. Não queremos eliminar essa atividade, mas levantar todos os dados possíveis, para que haja melhor embasamento na educação ambiental, tanto para agentes do turismo, quanto para turistas”, analisa a responsável técnica do projeto, Marcele Cunha Ribeiro do Valle.
Segundo Marcele, o Conselho Estadual do Meio Ambiente do Amazonas aprovou recentemente o ordenamento do turismo de interação com botos no estado do Amazonas que, teoricamente, irá aumentar a qualidade da atividade e maior segurança dos animais e do turista. “Precisamos que as pessoas entendam as espécies. Os botos utilizam a ecolocalização e são extremamente sensíveis na região da cabeça, onde fica o melão. Esse local deve ser evitado de ser tocado, mas muitas vezes essa informação não é repassada aos turistas, que acabam apertando e até machucando os animais. Outra ação prejudicial é a alimentação recorrente durante os períodos de visitação, o que pode ocasionar uma ingestão excessiva de peixes”, alerta.
ESPECIAL DIA DA AMAZÔNIA – CONFIRA TAMBÉM:
EXTRAÇÃO DE MINÉRIOS REACENDE DEBATE SOBRE EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS
ENTREVISTA EXCLUSIVA COM CARLOS NOBRE SOBRE O MODELO ECONÔMICO IDEAL PARA A PRESERVAÇÃO DA AMAZÔNIA
ENTREVISTA EXCLUSIVA GREENPEACE
#342AMAZÔNIA