A jornalista Eleni Gritzapis e a convidada Marcella Zambardino gravando para o greenTalks – Foto: Produtora Canta
Por – Eleni Gritzapis, especial para Neo Mondo
Nosso mais recente episódio trata do impacto das tecnologias sustentáveis na cadeia de produção e consumo, por meio de um bate-papo com Marcella Zambardino, cofundadora e Chief Impact Officer da Positiv.a.
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Ela é uma empreendedora apaixonada por transformar desafios socioambientais em oportunidades de impacto positivo. Em 2016, cofundou a Positiv.a, empresa B Certificada, líder em produtos de limpeza e autocuidado ecológicos. A companhia foi reconhecida como uma das 10 startups mais conscientes pelo Movimento Capitalismo Consciente Brasil.
Confira os principais trechos da entrevista e não deixe de assisti-la na íntegra abaixo, ou no canal de NEO MONDO ou da Green4T no Youtube.
O GreenTalks é uma iniciativa pioneira entre a Green4T e NEO MONDO para discutir o papel fundamental da tecnologia na promoção de um futuro mais sustentável.
(greenTalks) – Marcella, quais são os maiores desafios enfrentados pelas empresas ao adotar tecnologias sustentáveis em suas operações?
O maior desafio é que ainda vivemos sob a lógica da economia linear, onde os insumos são extraídos, utilizados e descartados. Mudar essa mentalidade exige encontrar fornecedores alinhados com práticas socioambientais, desenvolver formulações seguras e sustentáveis e, por fim, solucionar o desafio das embalagens. Muitas embalagens se dizem recicláveis ou compostáveis, mas nem sempre há garantias ou infraestrutura adequada para isso. Por isso, trabalhamos com universidades para testar e garantir que os materiais realmente atendam a esses critérios.
(greenTalks) – Como as tecnologias sustentáveis estão transformando a cadeia de produção e consumo atualmente? Você pode nos dar exemplos práticos?
Vimos avanços importantes nos últimos anos. Em formulações, por exemplo, conseguimos eliminar o petróleo e priorizar matérias-primas vegetais e minerais, tornando os produtos mais seguros para a saúde e o meio ambiente. Na parte de embalagens, existem tecnologias promissoras, como bioplásticos e materiais compostáveis, mas ainda há desafios em garantir que eles sejam efetivamente recicláveis ou biodegradáveis. O uso de polímeros reciclados também é uma solução eficiente que valorizamos muito.
(greenTalks) – Muitas empresas alegam que sustentabilidade encarece o produto. Como a Positiv.a conseguiu equilibrar custo e impacto ambiental?
Sempre pensamos em como democratizar o consumo sustentável. No início, nossa base de clientes era composta por consumidores dispostos a pagar um valor premium. Mas percebemos que, para escalar e realmente gerar impacto, precisávamos tornar os preços mais acessíveis. A solução foi assumir nossa própria fábrica, aumentando a escala e reduzindo custos. Hoje, conseguimos oferecer produtos sustentáveis a preços até 30% mais competitivos em relação a marcas convencionais, tornando-os viáveis para um público muito maior.
(greenTalks) – A análise de ciclo de vida (ACV) é uma ferramenta fundamental para entender o impacto ambiental de produtos. Como a Positiv.a utiliza essa metodologia?
Criamos uma metodologia própria de ACV, baseada em aprendizados com parceiros e fornecedores. Sempre consultamos cooperativas de reciclagem antes de lançar um produto, garantindo que ele tenha valor na cadeia de reaproveitamento. Além disso, priorizamos matérias-primas de fontes renováveis e embalagens recicladas, garantindo que o impacto ambiental seja reduzido desde a extração até o descarte.
(greenTalks) – Como garantir que práticas sustentáveis, como a análise de ciclo de vida, continuem eficazes ao longo do tempo?
A sustentabilidade exige adaptação contínua. Durante a pandemia, por exemplo, sentimos o impacto na disponibilidade de embalagens. Mais recentemente, tivemos que retirar um produto de linha porque a matéria-prima simplesmente não estava mais disponível. O segredo é manter um time interno focado em inovação, desenvolver alternativas e ter flexibilidade para adaptar processos sempre que necessário.
(greenTalks) – A adoção de tecnologias sustentáveis muitas vezes exige colaboração entre empresas, governos e outros stakeholders. Como você enxerga o papel dessas parcerias?
Parcerias são essenciais. Trabalhamos diretamente com fornecedores para garantir rastreabilidade e qualidade dos insumos. Um exemplo é o algodão orgânico colorido da Paraíba, produzido sem agrotóxicos, em parceria com a Embrapa e o Sebrae. Também temos uma relação próxima com cooperativas de reciclagem para garantir que nossas embalagens realmente tenham um destino sustentável. Essas conexões fortalecem o ecossistema e ampliam o impacto positivo.
(greenTalks) – Como Chief Impact Officer, qual tem sido o seu maior aprendizado promovendo impacto positivo na cadeia de produção e consumo?
Aprendi que comunicação educativa é essencial. O consumidor muitas vezes não tem informações sobre o impacto dos produtos que consome. O varejo tradicional foca na decisão impulsiva, então precisamos reverter esse cenário com informação clara e acessível. Além disso, aprendemos que o consumidor quer fazer parte dessa mudança – tanto que, recentemente, abrimos um modelo de equity crowdfunding e tivemos 188 investidores, 80% deles clientes. Isso mostra o quanto as pessoas acreditam e querem apoiar negócios sustentáveis.