Somente em 2005, os estudos encontraram apoio no Departamento de Pesquisa da empresa Vitopel, produtora de filme de polipropileno biorientado (BOPP), película usada em embalagens para contato com alimentícios. O financiamento da FAPESP para o desenvolvimento da pesquisa e o depósito de patente fecharam o ciclo necessário.
Em março de 2006, foram realizados os últimos testes. “A pesquisa específica demorou bastante, mas agora já temos o produto pronto, a tecnologia desenvolvida para ser industrializado. Já foram feitos testes em planta piloto, está na fase de licenciar”, revelou a professora Satie.
O papel é produzido à base de uma mistura que pode ter composição variada (poliolefinas, copolímeros de poliolefinas), mas em geral são utilizadas embalagens plásticas descartáveis, garrafas de água, potes de alimentos e embalagens de material de limpeza. Uma vez pronto o papel pode ser empregado em outdoors, cartilhas, manuais, catálogos de visitas, menus, entre outros artigos.
“A utilização é bem variada. Sua resistência mecânica e à umidade são bem maiores do que o papel comum. Algumas impressões ficam bem melhores e em algumas composições ele se assemelha ao papel couchê (comum em revistas). Somente impressões à base de água como jatos de tinta e caneta hidrográfica é que não ficam boas, para elas é preciso mais uma etapa no tratamento do papel, mas a caneta esferográfica, por exemplo, escreve muito bem”, disse a pesquisadora.
E as vantagens do novo papel não param por aí. Os equipamentos utilizados na produção são os mesmos do filme plástico, uma infra-estrutura industrial comum, não sendo necessários equipamentos específicos.
“Estamos aguardando a definição da Vitopel que tem preferência no licenciamento da tecnologia. Se a empresa concordar, ainda este ano poderá ter início a comercialização”, comentou a professora Satie.
Segundo ela, outros estudos na área de reaproveitamento de plástico estão sendo desenvolvidos na Universidade.
“Minha proposta é tentar dar um destino melhor para os resíduos plásticos urbanos pós-consumo. Existe outro estudo que está sendo desenvolvido para criação de um processo mais econômico de descontaminação de garrafas PET, para retorno em embalagens que tenham contato direto com os alimentos. Isso ainda está em escala de laboratório, muitas empresas mostraram interesse, mas preferem esperar a patente. Este é um dos pontos mais importantes para agregar valor”, disse. Atualmente, existem opções de papel sintético sendo comercializadas, mas estas são produzidas com derivados de petróleo.
O pioneirismo da pesquisa desenvolvida em São Carlos é exatamente partir do plástico reciclado, material que seria destinado a aterros sanitários ou lixões.
Vale a pena
• Para produzir 1 tonelada de papel sintético são necessários 850 kg de plástico reciclado. Com essa quantidade, pelo menos 30 árvores deixam de ser cortadas.
• O lixo brasileiro contém de 5 a 10% de plásticos, conforme o local. São materiais que, como o vidro, ocupam um considerável espaço no meio ambiente. Plásticos são derivados do petróleo, produto importado (60% do total no Brasil). A reciclagem do plástico exige cerca de 10% da energia utilizada no processo primário.
• Do total de plásticos produzidos no Brasil, só 15% é reciclado. Os plásticos recicláveis são: potes de todos os tipos, sacos de supermercados, embalagens para alimentos, vasilhas, recipientes e artigos domésticos, tubulações e garrafas de PET, que convertida em grânulos é usada para a fabricação de cordas, fios de costura, cerdas de vassouras e escovas.
Fonte: www.ambientebrasil.com.br