POR – ANSELMO BONSERVIZZI*, PARA NEO MONDO
A sustentabilidade deixou de ser restrita à área de responsabilidade corporativa para se tornar uma verdadeira demanda de mercado. Ganham as organizações que souberem integrar essas iniciativas às suas estratégias, alavancando um diferencial competitivo.
Ao falarmos em sustentabilidade, a maioria das pessoas imediatamente associa ao meio ambiente. Entretanto, em se tratando de negócios, sustentabilidade é uma área muito mais ampla, que aborda outras esferas. E, embora ainda existam diversas considerações na busca para definição do tema, as mais famosas contemplam o chamado “triple bottom line” (ou tripé da sustentabilidade), que envolve pessoas (socialmente justo), lucro (economicamente viável) e planeta (ambientalmente correto). A sustentabilidade, de acordo com o triple bottom line, é o que está na intersecção dessas três esferas.
Nos últimos anos, é nítido o aumento da preocupação com o tema nas organizações, o que pode ser comprovado na 14ª edição do “Global risks report”, relatório lançado pelo Fórum Econômico Mundial em janeiro de 2019. Pelo terceiro ano consecutivo, riscos relacionados à sustentabilidade aparecem entre os cinco principais, tanto em probabilidade quanto em impacto.
Evolução do cenário de riscos
Se, por um lado, a preocupação com sustentabilidade tem sido recorrente, como atesta o estudo, por outro ela ainda não aparece como prioridade quando o assunto é competitividade corporativa – embora o tema ganhe relevância nas agendas das diretorias. Gradualmente, os conselhos tomam consciência de que – por abranger tópicos tão variados quanto desastres ambientais, relações de trabalho, cadeia de fornecedores ou incidentes de segurança – a sustentabilidade afeta todos os setores de uma organização e é decisiva para a sua habilidade em continuar a operar.
De um ponto de vista estratégico, dentro das organizações, a área de sustentabilidade deve englobar, além de assuntos ambientais, questões sociais e de governança. Dessa forma, em todo o mundo, com a crescente atenção dos investimentos em sustentabilidade, os investidores têm buscado uma maior transparência no modo em que as empresas abordam tendências sociais e ambientais, incluindo mudanças nas expectativas dos públicos de interesse, em suas estratégias de negócio, governança, análise de risco e mensuração e divulgação das práticas. Tratar da sustentabilidade na gestão corporativa de riscos pode ajudar na estratégia e tomada de decisão, tornando as empresas mais resilientes e competitivas, além de habilitar a gestão e a diretoria a alocar capital mais eficientemente.
Outra tendência observada em grandes empresas é a preocupação com temas de sustentabilidade não apenas internamente, mas também em sua cadeia de fornecimento. Há um cuidado para que os insumos e serviços utilizados estejam dentro dos padrões estabelecidos. Além de questionários, algumas empresas realizam auditoria em seus fornecedores e, dependendo do que for levantado, elas podem deixar de fazer negócios caso o prestador não atenda aos requisitos. Tudo isso com o objetivo de prevenir e mitigar riscos, garantindo que a sustentabilidade esteja em toda a cadeia.
Embora alguns segmentos no Brasil estejam melhor desenvolvidos, como o de instituições financeiras – que desde 2014 precisam atender a uma resolução que estabelece o risco socioambiental como um componente das diversas modalidades de risco aos quais estão expostas –, no geral, ainda existe um longo caminho a ser percorrido. A questão econômica é o principal impedimento, pois nem todas as empresas enxergam o valor de investir em sustentabilidade. Entretanto, grandes investidores sabem que organizações que investem em sustentabilidade são menos suscetíveis à instabilidade do mercado de capitais e, além do retorno financeiro, essas empresas agregam valor à sua imagem. Por esse motivo, têm exigido que os conselhos e a diretoria estejam engajados na integração da sustentabilidade nas estratégias de longo prazo.
Ao inserir questões de sustentabilidade em sua gestão de riscos corporativos, a diretoria desempenha um papel crucial na mudança das práticas da empresa, conectando a sustentabilidade com o propósito corporativo e estratégico. Essas ações oferecem, portanto, uma oportunidade única às empresas: usar a transparência para promover estratégias de engajamento com os investidores por meio de relatórios de sustentabilidade, uma importante ferramenta de comunicação com seus públicos.
À medida que o assunto evolui, as empresas entendem que é necessário endereçar a sustentabilidade de forma transversal – as organizações conseguem obter uma vantagem competitiva importante quando tratam essa temática de forma proativa e integrada, e não apenas reativa e como uma obrigação às demandas de mercado. Essa mudança de mentalidade é fundamental para alavancar a sustentabilidade como um verdadeiro diferencial competitivo.
*Anselmo Bonservizzi é sócio da área de Risk Advisory e líder de Risco Estratégico e Reputação da Deloitte.