Voluntários retiram petróleo cru na Ilha do França na cidade de Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco – © Kleber de Burgos / WWF Brasil
POR – DOUGLAS SANTOS (WWF) / NEO MONDO
No desespero de proteger a natureza, comerciantes, pescadores, agentes de turismo, moradores locais e amantes da natureza tornam-se voluntários e se arriscam para limpar as praias do litoral do Nordeste com pouco ou quase nenhum equipamento de proteção individual (EPI)
Essas pessoas estão arriscando a própria saúde para tentar minimizar os impactos causados pelo vazamento de óleo que já atinge 80 cidades brasileiras. O contato direto com a substância química é fortemente desaconselhável. Mesmo com os EPIs, o manejo deve ser realizado com cuidado.
Isabel Cristina Pereira, moradora da cidade de Cabo de Santo Agostinho, trabalhou durante todo o dia 21 de outubro na retirada de petróleo cru das praias de Itapoama e Xaréu, que estão próximas ao local onde mora. “No fim do dia senti muita dor de cabeça e náuseas e não consegui retornar ao trabalho de retirada do óleo. É uma pena, pois eu gostaria de estar lá embaixo, ajudando o pessoal”, afirmou a moradora.
O Conselho Federal de Química (CFQ) alerta que as substâncias tóxicas do petróleo bruto são potencialmente carcinogênicas e mutagênicas. O CFQ informou em nota que “Os hidrocarbonetos poliaromáticos (HPA) presentes no petróleo bruto e seus derivados pertencem a um grupo de composto orgânicos semivoláteis que estão entre os compostos mais tóxicos do óleo nesse estado e podem causar problemas sérios de saúde, como câncer”.
Segundo a presidente do CFQ, Sheylane Luz, a intoxicação por HPAs pode ocorrer por diferentes vias, como o contato direto com a pele ou por ingestão. Por isso, o banho de mar, mesmo que para auxílio na limpeza do local é desaconselhado e perigoso em locais onde haja a presença do óleo.
Voluntários fazem limpeza em praia de Pernambuco em outubro de 2019; desastre comec;ou dia 30 de agosto – © Kleber de Burgos/WWF-Brasil
De acordo com a Superintendência de Vigilância em Saúde de Alagoas (SUVISA), em curto prazo, a inalação de vapores advindos do óleo cru pode causar dificuldades de respiração, pneumonite química, dor de cabeça, confusão mental e náusea. No contato direto com a pele pode ocorrer inchaços, queimação, vermelhidão e danos sistêmicos. E a ingestão pode causar dores, vômito e diarreia.
Apesar de não haver nenhuma orientação específica da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA), a SUVISA orienta a população para observar o aspecto/aparência de peixes e crustáceos, sabor alterado ou cheiro forte.
Ainda não se sabe qual é a extensão total dos danos, mas já se sabe que eles terão que ser acompanhados por mais de uma década. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou dia 22 de outubro durante a 20ª Reunião Geral Anual da Rede de Produtores de Vacinas dos Países em Desenvolvimento (DCVMN, na sigla em inglês), que a pasta irá monitorar os efeitos do vazamento provavelmente (no perído) de dez a 20 anos (daqui para frente?). “Vamos monitorar pessoas, peixes, ‘comidas do mar’”, afirmou o ministro.
Riscos à saúde pelo contato com o petróleo cru
Inalação
A inalação dos vapores derivados do petróleo cru podem causar dificuldades de respiração, náuseas, dor de
cabeça e confusão mental.
Ingestão
A ingestão pode causar dores intestinais, diarreia e vômitos.
Contato direto
O contato direto com a pele pode causar dermatite e queimaduras.
*Os efeitos do contato a longo prazo ainda não são totalmente conhecidos.
*Crianças e gestantes devem evitar a proximidade com as áreas impactadas.