Brasil aumenta a adoção de sistemas de produção sustentáveis no campo
Por – Gabriel Faria, da Embrapa Agrossilvipastoril, com colaboração de Juliana Caldas (Embrapa Cerrados) e Eugênia Ribeiro (Embrapa Meio Norte), especial para NEO MONDO
A Embrapa já desenvolveu a marca-conceito Carne Carbono Neutro, para a carne produzida em sistemas silvipastoris, e está trabalhando na marca Carne de Baixo Carbono para os sistemas ILP.
Uma tecnologia que reduz a pressão sobre o desmatamento, utiliza melhor as áreas já abertas e emite menos gases causadores do efeito estufa por produto produzido está sendo cada vez mais adotada pelos produtores rurais brasileiros. Os sistemas integrados de produção agropecuária, também conhecidos como integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), já chegam a cerca de 16 milhões de hectares, ou seja, cerca de 8% de toda a área sob uso agropecuário no País.
O número representa um salto em relação aos 1,87 milhões de hectares utilizando esses sistemas em 2005, conforme pesquisa encomendada pela Associação Rede ILPF, uma parceria formada pela Embrapa e instituições privadas, que visa ampliar a adoção dos sistemas integrados no Brasil.
A maior contribuição para esse aumento é da integração lavoura-pecuária, estratégia que proporciona a rotação entre culturas agrícolas com pastagem. Cerca de 83% da área com sistemas ILPF utiliza a estratégia ILP.
Nesse sistema, o capim absorve os nutrientes que as raízes da lavoura não alcançam, aproveitando melhor o adubo usado. Além disso, o capim descompacta e aumenta o teor de matéria orgânica no solo, deixando-o mais fértil, com maior atividade microbiana e protegido contra erosão. Tudo isso resulta em maior produtividade de grãos, menor uso de insumos e defensivos agrícolas e em disponibilidade de forrageira de melhor qualidade para o gado. Nesse caso, pode-se aumentar a taxa de lotação por hectare e reduzir o tempo necessário para o ganho de peso dos animais.
Os outros 17% de áreas com sistemas integrados utilizam árvores na integração. Além de produzir madeira, frutos ou essências, a sombra reduz a temperatura no ambiente, melhorando o conforto térmico para os animais. As árvores ainda contribuem para a ciclagem de nutrientes, para a manutenção da umidade no solo e para a mitigação das emissões de gases causadores do efeito estufa.
Caminho sem volta
O crescimento da adoção da ILPF em todo o País é consequência de décadas de pesquisas realizadas pela Embrapa, universidades e outras instituições de pesquisa.
“A rotação lavoura pastagem como alternativa para minimizar riscos e maximizar resultados sempre fez parte da filosofia programática da Embrapa. Penso que a adoção da ILPF nos diversos arranjos propostos hoje é um caminho sem volta. Com a tecnologia é possível produzir o ano todo, mesmo sem irrigação. Essa otimização do uso da terra, além de aumento da produtividade, também diminui os riscos de produção”, enfatiza o pesquisador da Embrapa Cerrados e um dos pioneiros no estudo de sistemas integrados Lourival Vilela.
O produtor rural Antônio Antoniolli viu na ILP uma opção para melhorar a produtividade e o lucro de sua fazenda em Santa Carmem (MT), há mais de dez anos. Começou em uma área pequena, usando a lavoura para custear a renovação da pastagem. Gostou do resultado e daí foi expandindo até chegar a 100% da área produtiva da fazenda Platina.
“Hoje não faríamos mais pecuária sem agricultura e nem agricultura sem pecuária”, afirma Antoniolli.
Opinião semelhante tem o produtor Oswaldo Massao, da Agropecuária Santa Luzia, em São Raimundo das Mangabeiras (MA). Hoje ele utiliza o solo o ano todo, colhendo soja na safra, milho na segunda safra e produzindo carne no que antes era chamado de entressafra.
“A ILPF é uma tecnologia que deve ser usada em todo o Cerrado. Para se ter uma ideia, na década de 90, o solo ficava exposto às intempéries. A gente plantava a soja e colhia e o solo ficava exposto e surgiam muitas ervas daninhas e pragas. Hoje isso não acontece mais, pois aproveitamos toda a área, contribuindo para a melhoria nas condições do meio ambiente”, afirma Massao.
Diferencial de mercado
Além dos benefícios agronômicos para as propriedades e de diversificar as fontes de renda para os produtores, a ILPF pode ser um diferencial de mercado para produtores e para o Brasil. A Embrapa já desenvolveu a marca-conceito Carne Carbono Neutro, para a carne produzida em sistemas silvipastoris, e está trabalhando na marca Carne de Baixo Carbono para os sistemas ILP. Agora, a Associação Rede ILPF, uma parceria entre a Embrapa e instituições privadas está lançando uma certificação de propriedades que utilizam a ILPF.
“Será uma certificação baseada no nível de sustentabilidade da fazenda. Vamos atestar a sustentabilidade da propriedade e mostrar onde o produtor pode melhorar para subir no nível. Isso por si só já é uma certificação que vai possibilitar buscar um mercado diferenciado, mas também tem benefícios indiretos, como todos os serviços ambientais, benefícios sociais e, principalmente, os econômicos que a tecnologia já traz para o produtor”, explica o pesquisador da Embrapa Solos e CEO da Associação Rede ILPF, Renato Rodrigues.
Para o consumidor, tanto a certificação quanto as marca-conceito, são uma forma de saber no momento da compra a procedência do alimento que consome, garantindo que veio de uma produção sustentável.
Além disso, a diferenciação dos produtos possibilita a abertura de mercados internacionais diferenciados, agregando valor à produção nacional.