Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF): caminho sem volta
Por – Gabriel Faria, da Embrapa Agrossilvipastoril, com colaboração de Juliana Caldas (Embrapa Cerrados) e Eugênia Ribeiro (Embrapa Meio Norte), especial para NEO MONDO
Uma das vantagens da integração lavoura-pecuária-floresta é a possibilidade de adaptação para qualquer bioma brasileiro e para qualquer perfil de produtor rural.
A Associação Rede ILPF é uma parceria público-privada, formada pela Embrapa, Bradesco, Ceptis, Cocamar, John Deere, Soesp e Syngenta. Tem como objetivo contribuir para a maior adoção dos sistemas integrados de produção agropecuária no país. Para isso, fomenta ações de transferência de tecnologia, pesquisa, capacitação de assistência técnica e a certificação de propriedades como forma de valorização dos produtos da ILPF.
Uma das vantagens da integração lavoura-pecuária-floresta é a possibilidade de adaptação para qualquer bioma brasileiro e para qualquer perfil de produtor rural, sejam eles pequenos sitiantes ou grandes produtores de grãos e carne. As culturas utilizadas variam conforme a região e as condições de mercado e logística. A escolha da configuração também é feita de acordo com a necessidade.
É o caso do produtor de leite Nivaldo Michetti. Ao se mudar para Mato Grosso, precisou melhorar o conforto térmico de suas vacas de sangue europeu trazidas da antiga propriedade no Paraná. A melhor opção em uma região com temperaturas acima de 35°C foi plantar árvores.
“O que a gente percebe é que as pastagens entre as árvores se comportam melhor. As lavouras são protegidas do vento. A árvore tem uma capacidade maravilhosa de reciclar os nutrientes que as outras plantas já perderam pela lixiviação. Fiquei muito curioso, pois aquilo que era uma necessidade exclusiva de sombra, hoje se mostra como uma oportunidade muito maior”.
Devido aos múltiplos usos, maior mercado, melhor domínio tecnológico e crescimento rápido, o eucalipto é a espécie florestal mais usada em sistemas ILPF. Porém espécies como a teca, pinus, seringueira, pequizeiro, coqueiro, castanheira, paricá, acácia mangium, pau-mulato, entre outras, também são opções. No Nordeste, a gliricídia tem sido muito usada em ILPF, uma vez que os galhos e folhas da árvore são triturados e servem de alimento para o gado.
A construção de usinas de etanol de milho no Centro-Oeste representa também uma grande oportunidade de crescimento da ILPF. Além de demandar o milho como matéria prima, as fábricas precisam de biomassa para as caldeiras, abrindo maior mercado para madeiras como eucalipto. Essas usinas produzem ainda o DDG, um farelo seco de milho que é usado na alimentação animal, fechando um ciclo favorável aos sistemas integrados.
“Acreditamos no potencial da pecuária-floresta, principalmente para atender a biomassa demandada do complexo industrial do etanol de milho. Acreditamos que isso pode deslanchar de uma hora para outra. Temos de aguardar mais um ou dois anos para ter uma ideia se isso vai pegar ou não”, analisa o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agrossilvipastoril, Flávio Wruck.