Foto – © Todd Southgate / Greenpeace
ARTIGO
POR – CAROLINA PASQUALI, DIRETORA EXECUTIVA DO GREENPEACE BRASIL
No último dia 03 de junho, um barco do Greenpeace saiu de Manaus em direção ao sul do Estado do Amazonas. Depois de muito planejamento, a nossa expedição “A Amazônia que Precisamos” estava virando realidade: seríamos, por quase um mês, uma base de trabalho para cientistas que estudam a biodiversidade amazônica e teriam a oportunidade de fazer pesquisa em um lugar ainda bem pouco estudado; e um ponto de contato e aproximação com as comunidades do Rio Manicoré, para apoiá-los em sua luta histórica pela garantia de suas terras e de seus modos de vida.
A expedição mal havia começado quando Bruno e Dom desapareceram. Era exatamente contra o crime que ameaça todos aqueles que trabalham para defender a floresta e seus povos que criamos essa expedição, na esperança de promover uma Amazônia biodiversa, que garante o direito dos povos indígenas e das comunidades tradicionais que nela habitam e que encontra caminhos viáveis de desenvolvimento que são o oposto dessa terra sem lei que o governo brasileiro fomenta e tenta nos fazer engolir.
Desde que a morte de Dom e Bruno foi confirmada, entre a tristeza e a indignação, também nos perguntamos como seguir por aqui, como falar de uma Amazônia possível quando esse fato escancara para o Brasil e o mundo o mais profundo desprezo por parte das autoridades brasileiras a esse projeto de futuro. Desprezo aos povos indígenas que vêm denunciando as violências e ameaças sofridas sistematicamente e nada acontece, desprezo às comunidades tradicionais e as intimidações que sofrem cotidianamente, desprezo pela ciência e inovação, quando mingua o financiamento para pesquisas.
Escolhemos seguir aqui para honrar o legado de Bruno, Dom e tantos que foram mortos antes deles. Vamos, sim, falar da Amazônia que precisamos – como forma de resistência. Vamos falar de luta pelo direito à terra, vamos falar de culturas tradicionais que respeitam a floresta, vamos falar de biodiversidade, de ciência e de tudo o que nos fará avançar. Porque avançaremos.
Enquanto eu escrevia esse texto, soube que o grupo de pesquisadores de aves que está na expedição, localizou no Rio Manicoré o passarinho batizado de Chico Mendes em homenagem ao ativista acreano. O passarinho está muito ao norte de onde ele já havia sido registrado, fazendo desse achado uma novidade sobre o que se sabe dele e de seu habitat. O pesquisador que me contou da descoberta me mostrou também o texto etimológico que justifica a escolha do nome da espécie. Ele termina assim:
Se Mendes estivesse vivo hoje, não podemos deixar de imaginar que o Brasil estaria muito à frente no desenvolvimento de uma Amazônia verdadeiramente sustentável, em harmonia razoável com os povos indígenas e colonos. Ao trazer este passarinho desconhecido à luz da ciência, invocamos o espírito de Chico Mendes para nos ajudar a fazer o certo.
Lutaremos por Justiça – por Dom, por Bruno e por todos aqueles cujas vidas foram tiradas por atos ou omissões de um Estado cada vez mais conivente com o crime. Lutaremos ao lado do povo do Rio Manicoré. Lutaremos por essa floresta e por todas as espécies que conhecemos – e todas aquelas que não conhecemos também. Seguiremos lutando porque o que está em jogo é o futuro de todos nós, e não podemos parar. Nós precisamos fazer o que é certo.
Te convido a vir junto e a manifestar seu apoio a essa causa – cada voz soma e amplifica.
Em breve você vai poder acompanhar a expedição nos nossos canais.
Um abraço e obrigada, Carol Pasquali