Foto – Valdemir Cunha/Greenpeace
POR – O MUNDO QUE QUEREMOS / NEO MONDO
Pesquisadores do Infloresta querem entender como empresas e comunidades sediadas na Amazônia podem competir com sucesso no mercado global de produtos compatíveis com a floresta
Uma nova iniciativa de pesquisa apontará soluções para melhorar o desempenho dos produtos da Amazônia no mercado internacional, um negócio estimado em US$ 176,6 bilhões, mas do qual a Amazônia brasileira participa com apenas 0,17%. A exportação de artigos como cacau, dendê, mel, pimenta do reino e castanha-do-brasil tem potencial para ser cerca de sete vezes maior do que é hoje. Se esses produtos alcançassem a participação média das exportações brasileiras, poderiam render à Amazônia US$ 2,3 bilhões por ano.
“Mergulharemos nas cadeias de produção para entender como essas atividades podem atingir todo seu potencial”, afirma Salo Coslovsky, professor associado da Universidade de Nova York e coordenador do Infloresta, o projeto que estudará como fortalecer negócios sustentáveis na região amazônica.
Desenvolvido por uma equipe de pesquisadores com base em Belém (PA), São Paulo (SP) e Nova York, nos Estados Unidos, o Infloresta é um dos desdobramentos do Amazônia 2030, levantamento científico sem precedentes, conduzido por pesquisadores brasileiros para elaborar um plano de desenvolvimento sustentável para a Amazônia. “O desafio do Amazônia 2030 é traçar caminhos para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. O Infloresta é fundamental para investigar como promover as atividades econômicas compatíveis com a floresta”, afirma Juliano Assunção, coordenador do Amazônia 2030 e diretor do Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio). O Infloresta terá duração de até 18 meses e analisará três cadeias de produtos compatíveis com a floresta.
O projeto é apoiado pelo Plano Amazônia, iniciativa conjunta dos três maiores bancos privados do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander, e também pelo Amazônia 2030, Instituto Arapyaú, Instituto humanize e Kawa Capital Management. “Por meio de uma abordagem científica, o Infloresta tem potencial para gerar novas oportunidades de investimento e negócios que tenham ESG em sua essência”, afirma Cristina Baldim, vice-presidente da Kawa Capital Management. A diretora do Instituto humanize, Georgia Pessoa, destaca a importância do caráter multidisciplinar do projeto. “A colaboração entre especialistas e empreendedores da região, além de um investimento maior em questões como infraestrutura, tecnologia e disseminação de conhecimento sobre boas práticas, são alguns dos elementos que contribuem para fortalecer as cadeias produtivas e que ajudam a dar escala à comercialização de produtos”, afirma Georgia.
Na primeira etapa do projeto, os pesquisadores examinarão a cadeia do cacau, um produto que movimenta mais de US$ 9 bilhões ao ano no mercado global (considerando apenas a venda do cacau inteiro ou partido). O Brasil já foi líder nesse mercado, mas hoje ocupa o sétimo lugar no ranking dos maiores produtores. Os expoentes são Costa do Marfim, com 40% da exportação, e Gana (18%), seguidos por Nigéria (7%) e Equador (7%). Entre 2017 e 2019, a Costa do Marfim exportou cacau para 39 países, enquanto a Amazônia vendeu somente para quatro nações.
“O cacau brasileiro possui impactos sociais e ambientais positivos. Pequenos agricultores são responsáveis por grande parte da produção, feita em sua maioria em sistemas agroflorestais”, afirma Thais Ferraz, diretora do Instituto Arapyaú, um dos apoiadores do Infloresta. “Essas características podem ser usadas para maior valorização do cacau brasileiro, contribuindo para a abertura de novos mercados e melhor remuneração às famílias produtoras.”
Um levantamento conduzido pela equipe de Coslovsky no ano passado, dentro do projeto Amazônia 2030, sugere que há muitas oportunidades para melhorar o desempenho dos produtos compatíveis com a floresta no comércio internacional. Atualmente, os maiores exportadores de produtos sustentáveis são países que enfrentam condições sociais, políticas e econômicas parecidas ou mais desafiadoras do que as do Brasil. O Vietnã detém 42% do comércio global de pimenta do reino, a Bolívia 52% das vendas de castanha-do-brasil descascada. Já a Amazônia tem, respectivamente, 7% e menos de 5% desses mercados.
“Empresas e comunidades da Amazônia têm muito espaço para crescer, antes mesmo que os problemas estruturais da região sejam plenamente resolvidos”, afirma Coslovsky. “O Brasil não está perdendo só a oportunidade de alavancar a economia da região, mas, sobretudo, a chance de produzir e lucrar sem que nenhuma árvore precise ser derrubada.”