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ARTIGO
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POR – MÁRCIO JAPPE*, PARA NEO MONDO
Na biologia, se entende ecossistema como o conjunto de inter(rel)ações entre organismos vivos e elementos químicos e físicos, em um determinado ambiente. O que são, então, ecossistemas de inovação? De forma correlata ao conceito biológico, ecossistemas de inovação são o conjunto de inter(rel)ações de diferentes atores e elementos socioeconômicos envolvidos em processos de inovação, dentro de contextos territoriais, setoriais ou até mesmo intraorganizacionais.
Mesmo que priorizando os seus próprios objetivos, o volume e densidade das interações entre os diferentes atores criam relações que, além de mutuamente benéficas, geram valor compartilhado para o sistema como um todo, ou seja, prosperidade no sentido mais amplo, de geração de bem-estar e riqueza material e imaterial. O ciclo tende a ser virtuoso e gera uma cultura propícia à inovação, atraindo mais atores (pessoas talentosas e organizações), mais investimentos, mais tecnologia e até mesmo políticas públicas potencialmente melhores.
São exemplos de atores de um ecossistema de inovação territorial ou setorial: pessoas empreendedoras (inovadoras e tradicionais), empresas, lideranças territoriais/comunitárias, instituições de ensino e pesquisa, instituições de financiamento e investimento, organizações intermediárias (agências de fomento, aceleradoras, incubadoras e parques tecnológicos, por exemplo) e instituições públicas. Outros elementos importantes em um ecossistema de inovação são o conjunto de competências presente, os recursos disponíveis (financeiros e outros), a cultura e liderança predominantes, entre outros.
Uma breve pesquisa na internet permite ir muito além do que são os ecossistemas de inovação e quem faz parte deles, entendendo quais são os benefícios de se fazer parte deles e até mesmo como desenvolvê-los. Ainda assim, há algumas mensagens-chave que vale a pena salientar para todas as pessoas empreendedoras e inovadoras, estejam elas inseridas em ecossistemas menos ou mais desenvolvidos:
As pessoas que efetivamente estão empreendendo e inovando devem ter uma posição central dentro do ecossistema de inovação. Apesar de parecer ser a mais básica das premissas, esta não é uma unanimidade quando se olha para a realidade de vários ecossistemas, em especial aqueles que são intencionalmente desenvolvidos, que muitas vezes giram em torno das aspirações e necessidade de organizações intermediárias, infraestruturas físicas, investidores, instituições públicas ou até mesmo de pessoas identificadas como empreendedoras, mas que efetivamente ainda não realizaram seus planos, nem mesmo parcialmente.
Os empreendedores e inovadores têm que assumir uma posição de protagonismo no desenvolvimento de suas iniciativas. É sempre bom lembrar, ainda mais em tempos de polarização política, que a vida real é agnóstica. Por mais que quando se empreende e inova tenhamos múltiplas razões para reclamar e nos colocarmos em posição de vítimas das dificuldades (algumas inerentes ao ato de empreender, outras artificialmente criadas por atores mesmo que bem-intencionados), temos que lembrar que o protagonismo na jornada de empreender nossas iniciativas é nosso. (quase) ninguém se importa, e isto importa!
As ações importam muito mais do que as intenções. A prosperidade de qualquer ecossistema de inovação depende do volume e densidade das interações entre seus atores. Mesmo quando friccionando, a ação individual e a interação entre diferentes atores é o que movimenta e gera prosperidade no ecossistema, portanto nosso viés deve sempre pender à ação e realização. Se palavras influenciam, exemplos arrastam.
Assim, explícitos em forma escrita, estes lembretes soam óbvios. Quiçá tão óbvios quanto “ovos de Colombo”. E por isto mesmo vale a pena relembrá-los de tempos em tempos: ecossistemas de inovação devem girar ao redor das dores e necessidades de quem empreende e inova; estas mesmas pessoas devem ser protagonistas de suas iniciativas; e é este protagonismo, com ação constante e interação consistente, que gera prosperidade de verdade para e por meio destes ecossistemas de inovação.
*Márcio Jappe é sócio-fundador da Semente Negócios, mestre em inovação, tecnologia e sustentabilidade pela UFRGS.