Um morador avança com sua canoa entre vitórias-régias no rio Croa, em Cruzeiro do Sul, no Acre – Foto: André Dib
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
O Fundo JBS pela Amazônia inaugura o processo de estruturação e de captação de recursos com um aporte inicial de R＄ 1,6 milhão. A meta inicial é arrecadar R＄ 60 milhões até 2027
Em 21 de março, data que marca o Dia Internacional das Florestas, o Instituto Interelos, com o apoio do Fundo JBS pela Amazônia, lança oficialmente o FUTURE – Fundo Territórios Unidos por Recursos para a Educação. Este é o primeiro fundo patrimonial destinado ao financiamento de Escolas Família Agrícolas (EFA) e Casas Familiares Rurais (CFR) na Amazônia. O modelo integra a educação na cadeia produtiva, trazendo a realidade de vida do jovem do campo como elemento de aprendizado para ter um caráter mais contínuo e duradouro. Ele insere-se no contexto em que o Brasil retoma a atenção nacional e internacional para a região e que os investimentos em educação e sustentabilidade voltam a ser prioridade.
O aporte inicial de R＄ 1,6 milhão realizado pelo Fundo JBS pela Amazônia viabilizou a estruturação do FUTURE, e vai contribuir para a sua manutenção para os próximos três anos.
A estimativa é que até 2027 o fundo arrecade R＄ 60 milhões.
Inspiradas em um modelo francês, as Escolas Família Agrícolas (EFAs) e as Casas Familiares Rurais (CFRs) começaram a tomar corpo no Brasil na década de 1980 e hoje fazem parte da realidade de alunos, professores e famílias inteiras nas regiões mais afastadas dos grandes centros e menos populosas do país.
Na Amazônia, e em regiões de baixo adensamento populacional, as longas distâncias dificultam o deslocamento de estudantes para as escolas tradicionais. É nesse contexto que as EFAs e as CFRs se apresentam como um dos modelos de ensino mais adequados, já que são baseadas na pedagogia da alternância – método em que o aluno passa 15 dias na escola e 15 dias em casa, permitindo ao jovem compartilhar os aprendizados com a família, aplicando a técnicas produtivas aprendidas com os professores e colegas. É uma educação diferenciada que dialoga com educação ambiental, utilização dos recursos de forma racional, conservação da biodiversidade e preservação do meio ambiente.
O modelo de educação rural tem sido comprovadamente uma ferramenta eficaz para evitar a evasão escolar e, sobretudo, garantir um aprendizado alinhado às especificidades de cada comunidade, à cultura regional. Porém, hoje o maior desafio é a intermitência financeira, já que nem sempre o repasse de recursos públicos ocorre de forma continuada e é suficiente para a manutenção da estrutura de ensino.
O novo fundo patrimonial FUTURE surge, então, para enfrentar o desafio da continuidade dessas escolas, começando pela EFAM — Escola Família Agroecológica do Macacoari (já em funcionamento) e pela EFAB — Escola Família Agroextrativista do Bailique (em estruturação). Essas duas unidades serão modelos para replicação e ampliação do novo fundo.
“O FUTURE não vai apenas garantir o fluxo financeiro para as escolas, vai também receber projetos para auxiliar na qualidade de gestão com equipes que vão treinar os próprios alunos. Isso será parte fundamental do conhecimento. Estamos dizendo que esse bioma é importante e uma parte fundamental desse bioma são as pessoas, são elas que podem fazer as transformações. O fundo talvez seja uma das contribuições de maior profundidade do processo de preservação, de conservação e de expansão sustentável do bioma amazônico”, avalia Aerton Paiva, antropólogo e fundador do Instituto Interelos.
A iniciativa é um dos desdobramentos do Programa Economias Comunitárias Inclusivas, um dos primeiros projetos apoiados pelo Fundo JBS pela Amazônia. A parceria teve início em 2021 e é executada em atuação conjunta com o Instituto InterElos, Amazonbai, Universidade do Estado do Amapá (UEAP), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e Instituto Terroá. Para Joanita Maestri Karoleski, presidente da organização, os desafios educacionais na Amazônia passam por conteúdos desconexos da realidade das comunidades locais, longos deslocamentos e evasão por conta de trabalho, principalmente no ensino médio. “Muitos adolescentes saem da escola para ajudar as famílias na pesca ou na agricultura. Por isso, a educação deve ser pensada a partir da dinâmica social local, dentro da realidade das famílias. E o FUTURE poderá fomentar modelos educacionais mais adequados à rotina dos jovens e às atividades socioeconômicas locais. É este o impacto esperado pelo Fundo JBS pela Amazônia”, afirma.
Como funciona?
O FUTURE estará aberto para captação institucional e também para doação de pessoas físicas.
A estrutura construída é a dos fundos patrimoniais, também conhecidos como endowment funds ou fundos filantrópicos. No Brasil, a prática foi regulamentada pela Lei nº 13.800, de 4 de janeiro de 2019, que dispõe sobre a constituição de fundos patrimoniais com o objetivo de arrecadar, gerir e destinar doações de pessoas físicas e jurídicas privadas para programas, projetos e demais finalidades de interesse público.
“Não há nada mais transformador do que imaginar que, em 10 anos, os alunos que se formam nas Escolas Família estarão aptos a trabalhar com o manejo, a contribuir para a melhoria da gestão em todas as cadeias produtivas. Começamos com o pescado e o açaí, mas, certamente, os benefícios vão atingir as cadeias da castanha, do cacau e assim por diante. O potencial do conhecimento é ilimitado”, finaliza Paiva.
