Foto – Beptemeti Kayapó-Acervo Associação Floresta Protegida (AFP)
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Projeto promove a construção de casas de costura para produção de vestidos com objetivo de estimular maior representatividade e protagonismo feminino local
Feita de algodão, muitas vezes mesclando diferentes estampas, e debruada por fitas de cores fortes, um vestido serve como pano de fundo de uma transformação que acontece em 59 aldeias localizadas no Sul do Pará e no Norte de Mato Grosso. A pedido das mulheres Mebêngokré (Kayapó), a Conservação Internacional (CI-Brasil) e L’Oréal Groupe se uniram para criar espaços de costura onde essas peças de uso tradicional são confeccionadas. O projeto é parte do Fundo L’Oréal para Mulheres, através do qual o Grupo está investindo 50 milhões de euros em programas que promovam a integração social e profissional de mulheres, e que previnam a violência.
O projeto é desenvolvido em parceria com a Associação Floresta Protegida, Instituto Kabu e Instituto Raoni e atende cerca de 1,8 mil mulheres Mebêngokré direta e indiretamente. Mais do que produzir roupas, no entanto, essas casas ajudarão a fomentar algo ainda mais importante: autonomia.
“As mulheres Mebêngôkré vêm pedindo apoio para suas iniciativas e projetos há bastante tempo. Algumas delas já haviam participado de oficinas de costura e elas gostaram tanto da ideia de produzir seus próprios vestidos que pleitearam um projeto para dar escala e envolver mais mulheres. Atenta às demandas, juntamente das associações kayapó, enxergamos nessa parceria com a L’Oréal através do Fundo para Mulheres a possibilidade de realizar o desejo das mulheres Mebêngôkré. Nasceu assim essa parceria inovadora que além de fomentar a produção dos vestidos e incentivar a criatividade local, cria um espaço de trocas exclusivo das mulheres, num momento em que elas reivindicam uma maior participação política em suas comunidades”, explica Renata S. Pinheiro, Diretora do Programa de Povos Indígenas e Comunidades Locais da CI-Brasil
Ao todo, 39 casas de costura, em 39 aldeias, serão entregues ao final do projeto, algumas delas fortalecendo os saberes já presentes nas aldeias. Além dos espaços, o projeto contempla a compra de mais de 100 máquinas de costura, de tecidos e de aviamentos necessários para a confecção de vestidos e bolsas e cursos de costura.
O projeto diminui a dependência da compra dos vestidos de costureiras das cidades que rodeiam os territórios e aumenta a autonomia econômica das aldeias. Além disso, também constitui uma oportunidade para que as mulheres Kayapó fortaleçam sua organização comunitária e política, aumentando a participação na tomada de decisões e na defesa de direitos. A construção das casas de costura cria um espaço produtivo, de aprendizado e trocas, mas também um local para reuniões e atividades que estimulam a representatividade e o protagonismo feminino local.
“O nosso propósito na L’Oréal é criar a Beleza que Move o Mundo, uma beleza mais diversa, inclusiva e sustentável. Com o Fundo L’Oréal para mulheres, estamos empoderando mulheres em todo o mundo a terem autonomia por meio da educação e da empregabilidade. É uma honra contribuir com o enriquecimento cultural e social destas mulheres, que além de tudo também estão contribuindo com a proteção da nossa biodiversidade”, diz Helen Pedroso, Diretora de Responsabilidade Corporativa e Direitos Humanos da L’Oréal Groupe no Brasil.
A iniciativa começou a ser desenvolvida há cerca de um ano em parceria com representantes das três organizações indígenas. O primeiro passo foi a realização de um diagnóstico com reuniões em todas as aldeias contempladas com o objetivo de pensar coletivamente como seria a construção das casas de costura. As mulheres foram ouvidas e diferentes espaços foram idealizados de acordo com as necessidades de cada comunidade.
“Nosso vestido é a nossa identidade há muito tempo, nós gostamos muito dele. As professoras nos ensinaram a usar nossa pintura e as folhas no tecido, além dos cortes e de como tirar as medidas da maneira certa. Elas nos passam seu conhecimento com paciência e nós aprendemos com felicidade”, diz Panh-ô, líder entre as mulheres na aldeia Ngôjamroty. Irepragraty. “Quero que tenham respeito pelos povos, pelas terras, com a natureza. Esses projetos são bons para nós mulheres, uma ótima oportunidade”, complementa. A iniciativa contribui ainda para a conservação da natureza. Os povos indígenas e seus territórios desempenham importante barreira contra o avanço do desmatamento e de outras ameaças. Fortalecer a autonomia e a cultura desses povos, notadamente das mulheres que cuidam da terra e das futuras gerações, é fortalecer a conservação das florestas e rios, de sua biodiversidade.
