Papagaio-de-peito-roxo – Foto: Eliton Rezende
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
“Papagaios de Altitude” é lançada no Dia Mundial das Aves, em 05 de outubro, e tem o apoio e o envolvimento das principais entidades de conservação e proteção de aves do Brasil
A SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental) participa, na companhia de outras oito instituições que trabalham pela conservação e proteção de aves brasileiras, da campanha “Papagaios de Altitude”, lançada no dia 05 de outubro, Dia Mundial Das Aves.
A campanha é uma iniciativa do PAN (Plano de Ação Nacional) Aves da Mata Atlântica, organizada de forma colaborativa com o CEMAVE (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres), ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), Parque das Aves – referência global em projetos de conservação e proteção de aves –, SPVS, Projeto Charão – conduzido pelo Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Passo Fundo (ICB/UPF) –, AZAB (Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil), Fundação Florestal e Lokomotiva, agência de publicidade e produtora audiovisual. Desde 2018, a SPVS integra o grupo do PAN das Aves da Atlântica, no Grupo Assessor Técnico (GAT).
A “Papagaios de Altitude” visa sensibilizar e informar a sociedade sobre a importância do papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) e do papagaio-charão (Amazona petrei) e mobilizar as pessoas na defesa das espécies. Tanto o papagaio-de-peito roxo quanto o charão são nativos do Bioma Mata Atlântica e vivem em seus ecossistemas associados, principalmente, na Floresta com Araucária. No caso do charão, ele também se distribui no Bioma Pampa.
Além de chamar a atenção para a necessidade de proteção das espécies, a campanha busca destacar a importância da Floresta com Araucária, que foi altamente degradada por décadas de exploração irresponsável e hoje, no Brasil, as áreas ainda bem conservadas são raras. No Paraná, ocupam menos de 1% da distribuição original desse estado. Mas não existem dados atuais de monitoramento adequados para se identificar a situação dos remanescentes realmente conservados, o que pode tornar os índices ainda mais preocupantes.
A Floresta com Araucária é uma formação fitogeográfica especial da Mata Atlântica, cujo desenvolvimento se relaciona a altitudes superiores aos 500 metros e tem como uma de suas principais características a presença predominante da árvore araucária (Araucaria angustifolia). Essa floresta desempenha um papel crucial para a fauna, pois fornece abrigo, alimento e condições ideais para a reprodução de papagaios e muitas outras espécies. Os papagaios se alimentam de pinhão, a semente da araucária e de várias outras espécies que compões essa rica Floresta.
Papagaio-de-peito-roxo
É uma espécie que se alimenta, principalmente, de frutos, mas também consome sementes, folhas, flores e seus rebentos. O pinhão, semente da araucária, é um dos principais itens consumidos pelo papagaio-de-peito-roxo no sul do Brasil. A espécie ocorre no Sudeste e Sul do Brasil, oeste do Paraguai e nordeste argentino.Precisam de buracos de árvores (ocos de troncos) e fendas formadas pela decomposição dos troncos para fazer os ninhos e se reproduzir. Com a degradação da Floresta com Araucária, foram perdendo a oferta de alimentação e os locais para a reprodução e abrigo.
Infelizmente, o papagaio-de-peito-roxo é muito capturado para o comércio ilegal. A espécie está na categoria “Vulnerável” na lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção. Estima-se que existam hoje apenas cerca de cinco mil exemplares desta espécie no Brasil.
A SPVS e papagaio-de-peito-roxo
Entre as atividades realizadas pela SPVS para reverter o cenário, estão a busca ativa de locais de nidificação e o monitoramento dos ninhos encontrados com apoio de moradores locais para evitar o roubo de filhotes.
O projeto também realiza atividades de educação para conservação e monitora o deslocamento das populações que vivem em áreas de Floresta com Araucária, entre os estados de São Paulo e do Paraná. Todas as informações obtidas contribuem na identificação de locais prioritários utilizados para abrigo, alimentação ou reprodução como também traz melhor conhecimento sobre o comportamento da espécie. Além disso, é realizado o fortalecimento de parcerias com equipes de gestão de áreas protegidas, órgãos de fiscalização e outros projetos de conservação – como o Programa de Conservação do Papagaio-de-peito-roxo e a iniciativa Papagaios do Brasil.
Desde 2018, a SPVS conduz ações de conservação do papagaio-de-peito-roxo, diretamente apoiadas de forma ininterrupta, pela Fundação Loroparque, instituição internacional sem fins lucrativos criada em 1972 para conservar a natureza e os psitacídeos (grupo de aves com cérebro muito desenvolvido). Desde 2005, a Loroparque apoia o projeto de conservação do papagaio-de-cara-roxa, outra espécie importante e ameaçada com a qual a SPVS trabalha.
Papagaio-charão
O papagaio-charão está intimamente associado às Florestas com Araucária do nordeste do Rio Grande do Sul e sudeste de Santa Catarina durante o período de maturação das sementes do pinheiro-brasileiro, principalmente, entre março e julho, quando os pinhões representam o principal item alimentar dos papagaios. Nos demais meses do ano, o papagaio-charão distribui-se, principalmente no nordeste, centro e sudeste do Rio Grande do Sul.
A derrubada da Floresta com Araucária e a degradação dos Pampas têm diminuído a oferta de locais de nidificação para as aves e é a principal ameaça sofrida pela espécie.
Assim como o papagaio-de-peito-roxo, o charão também está na categoria “Vulnerável” na lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção. Estima-se que existam hoje apenas cerca de 20 mil exemplares da espécie no mundo.
Para Eduardo Araújo Barbosa, analista ambiental do CEMAVE e coordenador do PAN Aves da Mata Atlântica, é preciso unir forças para proteger essas espécies emblemáticas e seus ambientes naturais. “A Floresta com Araucária tem um papel crucial no equilíbrio do nosso ecossistema e na sobrevivência dessas aves. Convidamos, portanto, todas as pessoas para fazerem parte dessa campanha, que reúne importantes parceiros”, destaca.
Elenise Sipinski, coordenadora dos projetos de fauna da SPVS, reforça que a campanha tem a importância de mostrar como cada cidadão tem o poder de fazer a diferença em relação às ameaçadas contra as espécies e a Floresta com Araucária, ameaçada em todo o Brasil. “É nessa floresta que os papagaios vivem, se reproduzem, dormem e se alimentam. Eles também são importantes dispersores das sementes da floresta, ajudando, com isso, na sobrevivência dessas importantes áreas naturais, não somente para eles, como para outras incontáveis espécies”, conclui.