Helen Pedroso na abertura do evento Show Para as Florestas – Imagem: Luís Madaleno
Por – Eleni Gritzapis, especial para Neo Mondo
Em entrevista exclusiva, Helen Pedroso, diretora de Responsabilidade Corporativa e Direitos Humanos do Grupo L’Oréal no Brasil, conta sobre os projetos que apoiam organizações que ajudam mulheres em situações de vulnerabilidade social e lutam contra a violência
Helen Pedroso se declara apaixonada por causas sociais e iniciativas de impacto social. Com atuação em diversas organizações do terceiro setor, ela agora exerce sua paixão e grande experiência em transformação social no cargo de diretora de Responsabilidade Corporativa e Direitos Humanos do Grupo L’Oréal no Brasil, posição que ocupa há mais de um ano em meio.
Nesta entrevista exclusiva ao NEO MONDO, durante o Show Para as Florestas, evento que aconteceu no último domingo (21), no qual o grupo L’Oréal foi apoiador, Helen fala sobre o Fundo L’Oréal para Mulheres, criado em 2020, e que direciona 80 milhões de euros para apoiar organizações que ajudam mulheres em situações de vulnerabilidade social e lutam contra a violência (apoio a mulheres em situações muito precárias, prevenção de violência doméstica e violência sexual e de gênero).
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No Brasil, até 2026, 7 projetos em parceria com ONGs locais visam impactar mais de 13.000 mulheres vulneráveis (de favelas, comunidades indígenas e áreas isoladas), dentre as quais, 850 mulheres indígenas, e mais de 10.000 pessoas indiretamente, em 3 localidades diferentes do Brasil. Um exemplo é a parceria com a Fundação Amazônia Sustentável para ajudar as artesãs indígenas que vivem na floresta amazônica a se tornarem empreendedoras, desenvolvendo suas habilidades e aumentando sua renda.
NEOMONDO – Como o Fundo L’Oréal para Mulheres foi concebido e qual é o seu principal objetivo?
Helen Pedroso – O fundo nasceu a partir de um programa global chamado L’Oréal para o Futuro, em que firmamos mais de 30 compromissos globais alinhados com a Agenda 2030, em que olhamos como transformar o nosso negócio e como empoderar as comunidades que atuamos ao redor.
Em 2020, a L’Oréal fez uma avaliação global e identificou que as mulheres foram as mais impactadas pela pandemia global de coronavírus, foram as que mais sofreram demissão, aumentaram situações de violência doméstica e feminicídio. Por isso, o Grupo L’Oréal desenvolveu um fundo para as mulheres, focado em como contribuímos e investimos para os desafios do mundo contemporâneo. Foram anunciados, inicialmente, 50 milhões de euros para investimentos em projetos em todo o mundo por três anos e hoje já somamos 80 milhões de euros investidos globalmente.
Qual o valor destinado para os projetos no Brasil?
Por política da empresa, não divulgamos os investimentos por país, apenas de forma global.
Então, você pode nos contar um pouco dos projetos do Fundo para o Brasil?
Nos primeiros três anos do Fundo, trabalhamos com 23 projetos, atendendo cerca de 1.500 mulheres por ano. Agora renovamos algumas destas iniciativas e passamos a investir em mais sete projetos. Até 2026, a previsão é termos 31 projetos, somados desde 2020, atendendo 12.700 mulheres.
Quais são os critérios para selecionar as organizações que receberão apoio do Fundo?
Sou correspondente dos direitos humanos da empresa e temos um compromisso ético muito grande. Por isso, as organizações proponentes passam por um processo de due diligence global (procedimento que visa fazer pesquisas e investigações aprofundadas acerca de uma empresa ou instituição). O segundo critério, tão importante quanto, é a relevância dela no tema. Então, se é uma organização que se estipula, por exemplo, a atuar com comunidades indígenas, analisamos seus projetos, parceiros e como ela se estabelece naquela população. E, por fim, uma projeção em relação ao que ela está se propondo para endereçar a vulnerabilidade social.
O fundo é muito focado na questão não só do empoderamento feminino, mas também de buscar ações de fato para a redução da pobreza, de tirar essa mulher de uma situação de violência, ou pelo menos de conscientização, de como garantimos que ela tenha conhecimento e acesso às redes de suporte.
Então, a escolha de investir em projetos de vulnerabilidade social de mulher veio depois da pandemia, certo?
Não, o Grupo L’Oréal já trabalhava com projetos de empoderamento feminino também com o que chamamos de causas de marca. Temos, por exemplo a campanha global Stand Up Contra o Assédio nas Ruas, que nasceu de uma consultoria que identificou o assédio nas ruas como um tema que preocupava mulheres em mais de 90% dos países em que atuamos. No Brasil, nossa parceira é a ONG Cruzando Histórias. O município do Rio de Janeiro, por exemplo, abraçou o programa e treinamos, só no ano passado, mais de 70 mil servidores sobre este tema, entre policiais, servidores e professores públicos. E queremos caminhar para outras parcerias com outras empresas, clientes e fornecedores.
Além disso, nossas marcas também têm programas para mulheres, como a Kérastase e Lancôme. Temos uma grande jornada institucional para empoderamento feminino, está no DNA do Grupo L’Oréal.
Voltando para os projetos destinados ao Brasil do Fundo L’Oréal para Mulheres, o que garante a renovação deles e como vocês ajudam para que eles caminhem depois de forma autônoma, sem investimento do grupo?
Trabalhamos com ciclos de três anos por projeto. Alguns foram renovados, outros não, buscamos olhar a relevância e a capacidade técnica da organização. Quem gerencia nosso fundo é uma fundação que ajuda muito com outros projetos complementares como, por exemplo, ajudar os parceiros a olhar para a sua capacidade técnica de parcerias e de captação de recursos para que possam caminhar sozinhos depois.
Eu vim do terceiro setor há um ano e dez meses e sei que este é um desafio para as ONGs pequenas. Temos muita sorte de já ter algumas parcerias institucionais ao redor da nossa matriz em que a ONG nasceu pequenininha, foi crescendo e hoje não depende mais do Grupo L’Oréal.
Como foi sair do terceiro setor e ir para a organização privada? O que te levou a ir para o outro lado do balcão?
Olha, passei por várias instituições, fui diretora executiva do Instituto Ronald McDonald, coordenadora nacional do Instituto Coca-Cola, passei por ONGs como o CIEDS, fui da Fundação Xuxa, da época que a Xuxa ainda apoiava, e agora sou conselheira, tive a oportunidade de trabalhar numa ONG fora do Brasil, tive uma passagem pelo Pacto Global da ONU e faço parte de alguns grupos de captação de recursos.
Brinco que estou do outro lado do balcão porque, de fato, passei a vida fazendo parceria com empresas e hoje trago uma outra perspectiva de continuar esse propósito de transformação social. No Grupo L’Oréal, o que realmente me impressionou foi a magnitude e a estrutura do programa L’Oréal Futuro, com os compromissos, com os indicadores, em que todas as áreas são responsáveis em fazer a transformação, não apenas a diretoria de responsabilidade social. Meu papel é o de orquestrar a mudança, com o envolvimento de todas as áreas e negócios da empresa. Então, essa forma diferenciada de fazer as coisas reflete no resultado que temos alcançado.
O Grupo L’Oréal diz ter alcançado a neutralidade de carbono nas operações no Brasil. Podemos afirmar que a empresa é neutra em emissões de escopo 1 e 2 sem a compra de créditos? Como estão as ações para neutralizar as emissões de escopo 3?
No Brasil alcançamos a neutralidade de carbono nos escopos 1 e 2 sem a compra de crédito. O Grupo L’Oréal tem como premissa que temos que mudar a nossa operação. Nas nossas unidades onde temos operação, trouxemos inovação, nossas caldeiras são todas abastecidas por biometano, por exemplo. Fomos pioneiros neste processo, em parceria com a Gás Verde. Vamos fazer, inclusive, o lançamento de um posto de biometano para levar para o nosso centro de distribuição. Operamos com energia eólica e usinas solares nas nossas unidades.
O Grupo lançou um movimento interno de net zero para emissões de escopo 3, estamos entendendo quais são os impactos e como vamos atuar para definir um roadmap, um guia para os próximos anos.
Vamos falar de biodiversidade agora. Como a empresa aborda a equidade nos projetos de biodiversidade no Brasil, especialmente em relação à conservação da diversidade biológica, ao uso de recursos genéticos e conhecimentos tradicionais?
O Grupo L’Oréal tem a missão de ciência verde, em que acreditamos que a natureza é o futuro da beleza e nos inspiramos nela para acelerar a nossa inovação. No Rio de Janeiro, temos um centro de pesquisa e inovação e começamos ali com a busca de potenciais biomas e ingredientes. Temos, inclusive, um programa de compras chamado Fornecimento Inclusivo, em que temos critérios de avaliação da capacidade de comunidades, limite planetário estruturado, entre outros. Não chegamos em uma comunidade sem ter uma parceria local que entenda e acompanhe o processo. Um exemplo é o babaçu, que está em um dos nossos produtos de Kérastase. Trabalhamos com as quebradeiras de babaçu, acompanhamos toda a gestão.
Temos ainda uma sólida política de fornecedores de direitos humanos, inclusive lançamos recentemente o nosso Relatório de Direitos Humanos, que destaca alguns projetos do Brasil.
Além do apoio às mulheres, o Grupo L’Oréal também está envolvido em projetos de regeneração da natureza, como os projetos NetZero e ReforesTerra no Brasil. Pode explicar como esses projetos funcionam e seu impacto na mitigação das mudanças climáticas e na preservação ambiental?
Juntamente com o pilar de como contribuir para os desafios do mundo, foram criados os Fundos L´Oréal Para Regeneração da Natureza, com um investimento global de 50 milhões de euros. No Brasil, temos dois projetos, com pilares diferentes.
O primeiro é ReforesTerra, em Rondônia, focado em regeneração do solo e tem como objetivo restaurar 2.000 hectares de terras degradadas na Amazônia, envolvendo agricultores locais no plantio de árvores, na conservação de espécies e na regeneração natural das florestas do Rio Jamari.
E o NetZero tem um pilar muito grande de inovação ligado às questões agrícolas, envolvendo reciclagem e reuso de materiais agrícolas, em que a biomassa resultante é transformada em biocarvão sustentável, que tem uma potência de ser aplicado no solo e garantir sua regeneração.
Como a empresa avalia o sucesso de seus projetos de sustentabilidade no Brasil e qual é o impacto desejado a longo prazo?
Os projetos do Fundo L’Oréal para Mulheres visam impactar mais de 13.000 mulheres vulneráveis (de favelas, comunidades indígenas e áreas isoladas).
No Projeto Mulheres Mebêngokré (Kayapó), beneficiamos 1.600 mulheres indígenas ao atender um pedido delas, que era ter oficina de costura. Trabalhamos com Instituto Kabu, a Associação Projeto Floresta Protegida e o Instituto Raoni, sob a coordenação da Conservação Internacional, uma organização global que tem muita experiência nesses territórios.
Nosso olhar não é apenas para o empoderamento feminino, é autonomia, é protagonismo, é trazer presença para elas nos espaços políticos. São projetos que trazem aprendizado junto. O poder de uma empresa como a L’Oréal de contribuir para a transformação de grupos vulneráveis é muito grande e estamos empenhados nisso.