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ARTIGO
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Por- Conrado Santos*, articulista de Neo Mondo
Recentemente, fui impactado por um brilhante artigo de Lourenço Bustani e Fritjof Capra, publicado no Valor Econômico de 16 de agosto de 2024. O título do artigo é altamente provocativo: “A palavra de quatro letras que os negócios esqueceram.” Será que você adivinha qual seria essa palavra? Provavelmente, você até tenha pensado em uma que corresponda à quantidade de letras, mas deve ter respondido para si mesmo: “Mas isso não tem nada a ver com negócios…”. Pois é, mas a resposta é bem o oposto: a palavra é AMOR, e tem tudo a ver com os negócios.
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A realidade apresentada no artigo é conhecida e vivida por muitos de nós. Não temos como negar que nosso mundo e as pessoas estão adoecidos, e os autores reforçam: “A vida está se tornando insuportável para um número crescente de pessoas, seja devido às consequências ambientais da nossa produção e consumo excessivos; à prevalência do ódio, intolerância e guerra; ou ao câncer da ganância, que continua a aumentar a lacuna entre aqueles que têm mais do que precisam e aqueles que não têm o suficiente.” Não há como negar essa afirmação.
Eles seguem construindo um pensamento: ao invés de desenvolvermos um potencial de reconhecimento da vida como um bem que nos foi outorgado por uma inteligência suprema, e seguirmos amando-a em todas as suas expressões, desenvolvemos um grande potencial de negação, menosprezando todas as formas de vida que não sejam a nossa própria. Basta ver o que temos feito com a biodiversidade em nosso planeta.
Mesmo sabendo que não é de hoje que essas escolhas irresponsáveis e egoístas nos custariam caro, continuamos a praticar atitudes desmedidas de desrespeito e devastação. E não precisamos nos limitar aos temas ambientais, pois sabemos que tudo está interligado. Esses equívocos, que temos cultivado há séculos, são responsáveis pela miséria em muitos cantos do planeta.
Aqui e ali, vemos brotar acordos e o estabelecimento de metas para a redução de indicadores essenciais à nossa própria sobrevivência. Mas, infelizmente, neste exato momento em que escrevo, nosso país arde em chamas numa sequência de seca e queimadas nunca vistas, muitas causadas por ações criminosas. Mas por que, apesar de tanta consciência e tantos acordos, não evoluímos? Por que não prosperamos enquanto seres inteligentes que agem em favor da própria sobrevivência? Bustani e Capra nos dizem que realmente não prosperaremos enquanto esses acordos e compromissos não estiverem pautados no AMOR. Isso mesmo, no AMOR. Eles afirmam: “Nossa hora da verdade é aqui e agora: ou nos reconectamos com o mais primitivo dos instintos humanos, ou esta pode ser, de fato, nossa última dança.”
Mas por onde começar essa reconexão com o amor? A proposta é clara em todos os momentos de nossas vidas, inclusive, e principalmente, no ambiente profissional. Nossas emoções, sentimentos, espontaneidade e vulnerabilidade tendem a ficar em segundo plano no ambiente de trabalho. Agimos e existimos nesses ambientes com “armaduras”, nos desumanizando e nos tornando seres autômatos, continuidade de uma mecanização herdada da Era Industrial. Assim, ao nos permitirmos uma reconexão conosco mesmos, expressando quem somos, em essência, nos ambientes corporativos, estamos nos reconectando com o amor.
Outra recomendação para esse caminho de reconexão é a busca por uma consciência mais ampla nos negócios, rejeitando totalmente a ideia de que as empresas devem existir apenas para gerar lucro aos seus acionistas e fundadores. É preciso desconstruir essa mentalidade, pois, quando pensamos somente nos lucros — ou seja, em nós mesmos — perdemos nossa capacidade de desenvolver um amor genuíno pelos outros. Afinal, meus interesses estarão sempre em primeiro lugar.
A cultura do imediatismo e da busca por resultados de crescimento permanente nas empresas nos levou a adotar uma postura de curto-prazismo a qualquer custo. E quando dizemos “a qualquer custo”, é isso mesmo. São conhecidos os dados alarmantes que, a cada ano, mostram que, por volta de maio ou junho, já consumimos todos os recursos naturais que a Terra é capaz de nos oferecer. E, a partir daí, continuamos a extrair mais e mais, deixando a conta no vermelho. Essa forma de exploração nos desconecta completamente do amor que deveríamos desenvolver pelas gerações futuras. Vejam o paradoxo: crio uma fortuna com um negócio que não mede as consequências para crescer, a fim de deixar uma grande quantia para meu neto, sem perceber que toda a riqueza do mundo não será suficiente para ele viver com qualidade em um mundo onde os recursos hídricos serão escassos ou insuficientes para sustentar a vida humana.
É preciso termos clareza de que a forma como temos conduzido os negócios no mundo é, sim, responsável por todo o desequilíbrio em que vivemos. A cultura do crescimento infinito das corporações e a adoração pelo consumo irresponsável sustentam essa situação nefasta de tanto sofrimento. Nossa maneira de ver o mundo e de viver intensifica as mudanças climáticas de forma acelerada.
O mais interessante é que, à medida que identificamos esses grandes equívocos de nossa caminhada evolutiva, descobrimos, cada vez mais, que não amar, ou não vivenciarmos esse sentimento que nos trouxe até aqui, é contrariar nossa própria biologia.
É o amor que cura, que nos sustenta, que nos permite ressignificar nosso propósito, que nos dá equilíbrio e faz as coisas terem sentido. Para concluir, reforço o convite dos autores sobre o amor nos negócios: “Na realidade, os negócios estão demasiado doentes, entorpecidos e perdidos em si mesmos para perceber que o amor é, de fato, o ato mais sábio de coragem, compaixão e responsabilidade moral, essencial para nossa sobrevivência e nossa capacidade de prosperar.”
Quero aproveitar e deixar um pequeno spoiler: no próximo artigo, falaremos mais sobre o amor, desta vez através das lentes da brilhante escritora norte-americana Bell Hooks. Aguarde.
Seguiremos firmes, por um mundo com mais amor, menos dor e, com isso, muito mais consciência.
*Conrado Santos é um entusiasta na busca pela Espiritualidade na vida e nos negócios. Empresário, profissional de marketing e voluntário no Grupo Espírita Cairbar Schutel, Folha Espírita e AME-SP.