Da esquerda para a direita: Cathrine Barth (Nordic Circular Hotspot); Ladeja Godina (Circular Change); Victória Santos (Instituto Clima e Sociedade); Danilo Nogueira (SEMAS-PE); Beatriz Luz (Ibec); Kari Herlevi (Sitra); Ilja Donkervoort (Ministério da Infraestrutura e Gestão da Água da Holanda); Jan Thomas Odagard (Natural State AS) – Imagem: Divulgação
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Evento colocou Pernambuco no foco do debate mundial sobre circularidade, com assinatura de memorando entre o Governo do Estado e a Finlândia
O Brazilian Circular Hotspot reuniu, em Recife (PE), mais de 50 autoridades, pesquisadores e líderes empresariais para debater a transição para uma economia circular, contando com um público de mais de 700 pessoas ao longo dos três dias. O evento terminou já celebrando a preparação para o Fórum Mundial de Economia Circular, que acontece em São Paulo em 2025.
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No Centro Cultural Cais do Sertão, representantes de Pernambuco e de diversos lugares do Brasil, além de países como Noruega, Eslovênia, Holanda, Finlândia, Áustria, Bélgica e França, participaram de painéis e reuniões multilaterais para conversar sobre novas formas de produzir, consumir, fazer negócios, pensar as cidades e estruturar relações comerciais, a fim de enfrentar as crises das mudanças climáticas e de perda de biodiversidade.
Em sua primeira edição brasileira, o Brazilian Circular Hotspot foi organizado pelo Instituto Brasileiro de Economia Circular (Ibec), com o apoio da Exchange 4 Change Brasil em parceria com o Instituto Intercidadania. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Complexo Portuário de Suape patrocinaram a conferência. O objetivo foi promover trocas de conhecimento e estimular o engajamento para a elaboração de planos de ação regionais e empresariais, para, assim, impulsionar o desenvolvimento de negócios circulares adaptados à realidade brasileira.
– Estamos muito realizados com a concretização do Brazilian Circular Hotspot e o compromisso assumido por todos os que estiveram conosco, destacando a importância das pessoas e da cooperação para viabilizar a transição para um novo modelo econômico, mais justo, sustentável e duradouro. Esperamos que as conversas e negociações iniciadas em Recife tenham desdobramentos positivos em diversas regiões do Brasil e criem pontes fortalecidas entre atores do Norte e do Sul Globo. Não se faz economia circular sozinho e precisamos, urgentemente, de novas medidas de valor para os nossos negócios e nossa vida em sociedade – destaca a presidente do Ibec, Beatriz Luz.
O Brazilian Circular Hotspot foi um evento paralelo oficial do Fórum Mundial de Economia Circular, evento global que acontecerá de forma inédita na América Latina no próximo ano. Kari Herlevi, Diretor de Projetos da Sitra, que é a organização responsável pelo fórum, esteve em Recife e falou sobre a iniciativa:
– Trazer o Fórum Mundial de Economia Circular para a América Latina pela primeira vez representa uma oportunidade única de impulsionar as melhores práticas de economia circular na região. O Brasil deve servir como um holofote para os seus vizinhos, destacando o poder da inovação local. O evento também reforça a preparação para a COP30, que será sediada em Belém, ressaltando o papel de liderança do Brasil em pautas globais. O Brazilian Circular Hotspot foi um ponto estratégico de inovação e sustentabilidade, destacando as soluções brasileiras e tropicais que podem inspirar o mundo – disse Herlevi.
Mudanças de valores e comportamentos
No primeiro dia, os palestrantes conversaram sobre a necessidade de transformação dos processos produtivos, tendo como ponto de partida a visão da realidade global e das cadeias produtivas brasileiras. Os painéis seguintes tiveram como foco a Nova Indústria Brasil, a relação da economia circular com a bioeconomia e a transição energética, e os meios de financiar este novo modelo econômico. Durante o evento, o Governo de Pernambuco e o Governo da Finlândia assinaram um Memorando de Entendimento, que registra a intenção de desenvolver ações focadas nos seguintes eixos: educação; transição energética e sustentabilidade; digitalização e integração de serviços; meio ambiente; acordos comerciais; e equidade de gênero.
O segundo dia de evento trouxe como destaque a cultura da economia circular, incluindo as novas formas de produção e consumo, diretrizes técnicas e legais, e o papel das políticas públicas na mudança do modelo econômico. O keynote speaker Arno Behrens, economista ambiental do Banco Mundial, destacou que é papel dos bancos multilaterais financiar ações de circularidade e que políticas de economia circular são complementares às políticas de combate às mudanças climáticas.
– Não faz sentido que o tema das mudanças climáticas esteja na mente de todos, mas o da economia circular nem tanto. Políticas de economia circular são essenciais para atingir metas climáticas. Elas podem contribuir para reduções adicionais das emissões de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis em mais de 7% até 2030 – declarou Behrens.
Para o especialista, que é o coautor do relatório ‘Squaring the Circle: Policies from Europe’s Circular Economy Transition’, do Banco Mundial, também é preciso reduzir a taxação sobre produtos circulares e incentivar a economia circular em países emergentes. Ele defendeu que, por mais que o conceito da economia circular seja bom e decisivo, é algo que não está sendo implementado em larga escala ainda, o que se deve à complexidade e aos custos envolvidos no processo, demandando investimentos massivos e geração de novos postos de trabalho na cadeia.
A secretária executiva de Relações Internacionais de Pernambuco, Rayane Nunes, participou de uma mesa sobre “Governança Circular”, ao lado da especialista norueguesa Cathrine Barth (Nordic Circular Hotspot) e do professor José Fernandes, da Universidade Federal do Pará. Durante a conversa, mediada por Thiago Rodrigues, do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), os participantes conversaram sobre estruturas de governança e diretrizes necessárias à transição circular, como a recém-publicada Norma ISO de Economia Circular. Segundo eles, é um modo de garantir entendimentos comuns a níveis global, nacional e regional.
– Não adianta só uma indústria, uma empresa, um setor ou um governo tentar fazer essa mudança. Essa mudança é sistêmica, de modelo mental, de cultura, dos vários sistemas e de como eles interagem. Estamos tendo conversas com a Holanda, a Noruega e a Finlândia aqui. Estou animada para fortalecer essa rede não só em Pernambuco, mas no Nordeste e no Brasil. Financiamento é extremamente necessário, não só de dentro para dentro. Se a gente quiser enfrentar as inúmeras desigualdades, o caminho é ter interação entre os diversos governos – disse Rayane Nunes.
Neste sentido, outra discussão foi sobre Políticas Públicas e Ecossistemas de Colaboração, que reuniu a consultora do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Carla Tennenbaum; a especialista Gabriella Waibel, da EU Circular Economy Strategy; Daniel Ghiringhello, diretor de Vendas da TOMRA; e Cesar Patricio, diretor da FibeCycle.
Ghiringhello falou sobre a experiência da TOMRA no Hub de Economia Circular Brasil, primeiro ecossistema criado na América Latina para reunir empresas de diversos setores e portes em negócios circulares. Ele destacou que não adianta uma companhia achar que vai ter respostas sobre economia circular de forma rápida, sem primeiro engajar com vários atores e soluções a fim de gerar escala.
Redesenhando produtos e serviços
Ao todo, o Brazilian Circular Hotspot promoveu seis reuniões multilaterais com especialistas de diversos segmentos, que se juntaram para conversar sobre: ações conjuntas entre Brasil e países da Europa; financiamento para a transição circular; educação circular; a importância da infraestrutura para fazer a circularidade acontecer; circularidade no setor têxtil; e o papel das mulheres na transição para a economia circular.
O último dia do Brazilian Circular Hotspot abordou como o design e a inovação em produtos e serviços podem ser reinventados para atender aos princípios da economia circular. Além disso, os participantes conversaram sobre o papel das cidades na promoção da circularidade, com uma fala do arquiteto Roberto Montezuma, da INCITI, sobre o Plano Recife 500 Anos, que apresenta um desenho coletivo de uma visão de futuro para a cidade. Neste plano, ficou evidente a contribuição da economia circular para o desenvolvimento de longo prazo do Recife, contribuindo para a redução das desigualdades e para a resiliência ambiental frente às mudanças climáticas.
Maíra Pereira, Diretora da Ambipar Environment, também destacou a necessidade de colocar as pessoas no centro das estratégias:
– A tecnologia é fundamental para a escala, mas só faz sentido numa economia que realmente traga a inclusão social dentro de um novo modelo de negócios. A economia circular é, sim, o único caminho que a gente tem. Precisamos recriar a forma como a gente pensa, descarta e trabalha as novas economias, repensar o design das embalagens. Também precisamos pensar nos catadores, nas pessoas que fazem o material voltar para a indústria.
Representantes de organizações e companhias como Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, Instituto Clima e Sociedade, Fiosgood, Avvale Brasil e Gastronomia Periférica participaram dos painéis.