A jornalista Eleni Gritzapis e o convidado Matti Landi gravando para o greenTalks – Imagem: Divulgação/Canta
Por – Eleni Gritzapis, especial para Neo Mondo
O mais novo episódio do greenTalks entrevista um convidado muito especial para falar de parcerias entre empresas finlandesas e brasileiras: Matti Landi
A Finlândia é considerada o país mais feliz do mundo, porém poucos sabem que ela é referência mundial em sustentabilidade, tecnologia e educação. Foi uma das primeiras nações a desenvolver uma estratégia nacional para a economia circular e planeja ser neutro em carbono até 2035.
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Definitivamente, temos muito o que aprender com as políticas e práticas finlandesas. Por este motivo, o greenTalks realizou uma entrevista exclusiva com Matti Landi, trade commissioner no Brasil para a Business Finland, uma organização governamental para promoção de negócios, financiamento de inovação e investimentos.
Landi tem mais de 20 anos de experiência em fazer negócios em países da América Latina. Atualmente, está focado em criar parcerias entre empresas finlandesas e brasileiras e suas partes interessadas, principalmente em Bioeconomia, Economia Circular e Digitalização da Indústria. Ele também atua como líder global em tecnologia de Bioeconomia Florestal na Business Finland.
Um destaque importante: São Paulo (SP) sediará, nos dias 13 e 14 de maio de 2025, o Fórum Mundial de Economia Circular 2025 (World Circular Economy Forum – WCEF), que dará a oportunidade para as empresas e governo brasileiro de trocar experiências e ter acesso a cases e práticas de um país que definitivamente está na vanguarda da promoção da circularidade na sociedade.
O greenTalks é uma iniciativa pioneira entre a green4T e NEO MONDO para discutir o papel fundamental da tecnologia na promoção de um futuro mais sustentável.
Confira alguns trechos da entrevista e não deixe de assisti-la na íntegra abaixo, ou no canal do Instituto Neo Mondo ou da green4T no Youtube :
A Finlândia é o 30º maior investidor direto no Brasil. Quais são os principais setores de investimento e como essas parcerias têm evoluído?
O principal papel das empresas finlandesas no Brasil é de fornecedor de tecnologias, temos 15 mil brasileiros trabalhando nas empresas finlandesas no País, provendo tecnologias de produção para áreas como papel e celulose, mineração, geração de energia e conectividade digital. O faturamento das filiais finlandesas no Brasil é de pouco mais de 11 bilhões de reais. Alguns exemplos são Metso, Valmet, Nokia, entre muitas outras, são todas de business to business, de tecnologia para empresas.
Nosso orgulho é fazer parte do sucesso das grandes empresas brasileiras, como a Vale, dando a melhor tecnologia para que elas sejam ainda mais competitivas.
(greenTalks) – Vamos falar agora de sustentabilidade. A Finlândia pretende ser neutra em carbono até 2035 e se tornar a primeira sociedade de bem-estar sem combustíveis fósseis do mundo. Quais principais ações o país tem feito para alcançar a meta?
Esta meta é desafiadora, todos entendemos isso. O que o governo finlandês fez para prometer isso? O Ministério da Economia planejou e conversou com os 13 principais setores do país e cada um fez seu planejamento de onde consegue chegar com a tecnologia atual e com as que em breve estarão disponíveis. E os estudos mostram que a meta é possível, porém precisamos de uma condição favorável de investimentos para que seja alcançada.
É uma meta ambiciosa e estamos trabalhando para que se torne realidade, por meio de parcerias entre empresas, governo e sociedade, todos juntos. O governo, de certa maneira, lidera, mas as empresas precisam fazer suas mudanças através de investimentos, tornando-a parte dos seus planos estratégicos.
(greenTalks) – Ainda falando em sustentabilidade, a Finlândia foi também um dos primeiros países a desenvolver uma estratégia nacional para a economia circular. Poucos sabem, mas vocês reaproveitam quase 99% do lixo produzido no país, um número impressionante. Como essa estratégia evoluiu desde 2016 e quais são as metas para 2025?
Realmente, a Finlândia foi o primeiro país que fez uma estratégia de economia circular e creio que também foi o primeiro que teve uma estratégia de bioeconomia, um conectado ao outro. O fato é que realmente hoje menos de 1% dos resíduos vai para o lixo, 99% deles são reciclados e reaproveitados ou vão para aproveitamento energético.
Dentre as metas, temos que dobrar a utilização de matérias-primas de recirculação e reduzir o uso de matérias-primas não renováveis. Uma coisa interessante, e não tão óbvia, é que temos que dobrar até 2035 a taxa de utilização dos recursos, ou seja, máquinas ou carros, por exemplo, têm que estar rodando por duas vezes mais tempo, para que seja preciso comprar menos carros e menos máquinas.
Mas nem tudo é maravilhoso e tão fácil. Este ano percebemos que temos que fazer mais. Temos um programa voluntário de municípios e indústrias de investir em circularidade, temos também um programa de como fazer design e engenharia circular de produtos, para que eles sejam mais facilmente reaproveitados, recondicionados ou remanufaturados.
(greenTalks) – A Finlândia é ainda um importante centro tecnológico europeu e atrai empresas de TI de sucesso, startups de games e serviços financeiros digitais. O país é classificado como um dos ecossistemas de Inteligência Artificial mais importantes da Europa e abriga uma ampla gama de empresas líderes no campo. Como essa jornada tecnológica aconteceu no país?
A Finlândia foi um dos países mais pobres da Europa no início do século passado. Desde a independência, em 1917, se começou a construir a atual Finlândia, investindo primeiro na educação – nosso sistema educacional é universal e gratuito para todos. Além disso, temos, nas últimas décadas, um investimento pesado e crescente em pesquisa e desenvolvimento; queremos chegar a 4% do PIB em 2030.
Hoje, realmente, temos uma capacidade de geração de tecnologia bastante avançada nos colocando entre os cinco países mais bem-sucedidos neste tema. Um outro dado é que temos muita startup finlandesa se conectando com brasileiras, e vice-versa.
(greenTalks) – Conte-nos um pouco dessa colaboração entre esses dois países, que muito dela é incentivada pela Business Finland.
Trabalho há vários anos na Business Finland, nesta interface que eu tanto gosto entre os dois países, algo muito interessante começou a acontecer há dois anos e meio. De repente, as grandes empresas brasileiras, eu diria algumas das melhores, começaram a procurar startups finlandesas, primeiro via Open Innovation, buscando tecnologias disruptivas que possam acelerar a execução da sua estratégia, seja de crescimento, seja de sustentabilidade. E empresas como a Suzano, por exemplo, veio ao público para falar sobre esse trabalho que nós fazemos para eles. Eles hoje são o maior acionista de uma empresa que tem tecnologia para fazer fibra têxtil mais sustentável a partir de celulose de eucalipto.
Temos o exemplo também da Beontag, que é uma empresa brasileira multinacional, que comprou duas empresas da Finlândia de tecnologia de RFID (Radio Frequency Identification Tax) e que vão investir também em um centro de pesquisa.
Existem ainda exemplos de startups brasileiras que estão indo para a Finlândia porque querem crescer globalmente, como a Aquarela AI, entre muitas outras.
Uma outra frente é que estamos providenciando financiamento para a cocriação de novos produtos. As empresas interessadas podem nos procurar.
(greenTalks) – Tem algum segmento específico?
Olha, os segmentos que nós temos certeza que têm muito potencial para trabalhamos juntos são na área de bioeconomia, novos produtos a partir de biomassa, mineração sustentável, digitalização de uma maneira ampla e transição energética.
(greenTalks) – Pela primeira vez, o Fórum Mundial de Economia Circular 2025 será realizado no Brasil, nos dias 13 e 14 de maio, em São Paulo (SP), uma oportunidade única para trocar experiência e aprendermos com as práticas finlandesas. Pode nos dar exemplos de práticas e tecnologias finlandesas que serão compartilhadas no Fórum e como elas podem beneficiar o Brasil?
O Fundo de Inovação da Finlândia Sitra criou o primeiro estudo e estratégia da Finlândia de Economia Circular, se tornando referência mundial. Em seguida, a World Trade Organization chamou-os para organizar estes fóruns mundiais. Ele foi organizado pela primeira vez em 2016 na Finlândia, depois foi para, se não me engano, Toronto, Tóquio, Bruxelas e Ruanda.
Em 2025, pela primeira vez, será organizado na América Latina, em parceria com a FIESP e com apoio de Apex e CNI. Neste evento de dois dias de duração, vamos ter chances de conhecer as melhores práticas em circularidade não só da Finlândia, mas também do Brasil e outras dezenas de países que querem expor suas soluções. Esperamos mais de mil pessoas presencialmente, a maioria executivos de empresas, políticos e executivos do setor financeiro.
(greenTalks) – Para finalizar, qual é a mensagem que você gostaria de deixar para nossos ouvintes sobre o papel da colaboração internacional em sustentabilidade e inovação tecnológica?
O Brasil, na minha visão, tem o momento de ouro e a capacidade de extrair grandes benefícios da transição verde. É provavelmente o país mais competitivo em termos de custo de biomassa, tem uma matriz energética invejável e uma capacidade de gerenciamento na área e agrícola e florestal muito boa, como também a capacidade de desenvolvimento em termos de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Quem juntar isso com as tecnologias de transformação de biomassa para novos bioprodutos finlandeses, por exemplo, tenho certeza que vai prosperar como prosperou a agricultura e a área de celulose brasileira. É um caminho, um canal de crescimento muito grande.
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