A jornalista Eleni Gritzapis e a convidada Suelma Rosa gravando para o greenTalks – Foto: Produtora Canta
Por – Eleni Gritzapis, especial para Neo Mondo
Nosso mais recente episódio trata dos riscos reputacionais ligados à sustentabilidade e do impacto das estratégias empresariais para construir um futuro mais sustentável. Para isso, recebemos uma convidada especial: Suelma Rosa dos Santos, VP de Assuntos Corporativos da Pepsico para a América Latina
Suelma é VP de Assuntos Corporativos da Pepsico para a América Latina. O currículo dela é impressionante: foi eleita pela Bloomberg uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina por três anos consecutivos e há mais de 20 anos cultiva diversas experiências de trabalho em empresas multinacionais, organizações internacionais, ONGs globais, associações comerciais e no governo federal brasileiro, ONU, Apex, Dow e Unilever. É membro das Mulheres em Relações Governamentais, Women Inside Trade, Women in Biodiversity e Elas no Poder, além de lecionar em programas de graduação e pós-graduação na Argentina, Brasil, EUA, França, China, Espanha e Suíça desde 2005.
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Confira os principais trechos da entrevista e não deixe de assisti-la na íntegra abaixo, ou no canal de NEO MONDO ou da Green4T no YouTube.
O greenTalks é uma iniciativa pioneira entre a Green4T e NEO MONDO para discutir o papel fundamental da tecnologia na promoção de um futuro mais sustentável.
(greenTalks) – Suelma, sua trajetória profissional é impressionante. Como sua experiência em empresas multinacionais, organizações internacionais e ONGs moldou sua visão sobre sustentabilidade?
A sustentabilidade deve ser vista por múltiplos ângulos. Minha experiência no governo me mostrou a importância da formulação de políticas públicas, que são fundamentais para criar soluções em larga escala. Mas essas políticas sozinhas não bastam. ONGs e movimentos da sociedade civil desempenham um papel essencial ao identificar grandes desafios e colocá-los em evidência. Já o setor privado, responsável por grande parte do PIB global, tem a força motora para implementar mudanças em larga escala. Quando a sustentabilidade é incorporada ao core business das empresas, o impacto pode ser transformador.
(greenTalks) – Como as empresas podem lidar de forma eficaz com o aumento do escrutínio público e a pressão dos consumidores por práticas mais sustentáveis?
A mudança começa pelo engajamento do consumidor. Hoje, os clientes estão mais atentos e exigem práticas sustentáveis das marcas. No entanto, a ciência por trás dessas decisões é complexa e difícil de ser decodificada no momento da compra. Cabe às empresas traduzirem essas informações de forma clara e responsável, com base em ciência e dados. O desafio é tornar a comunicação acessível e transparente.
(greenTalks) – Quais mudanças significativas você observou no setor varejista em relação à sustentabilidade nos últimos anos?
Três grandes avanços merecem destaque. Primeiro, a sustentabilidade deixou de ser um tema exclusivo das áreas corporativas e passou a influenciar diretamente a decisão do consumidor. Segundo, a discussão sobre sustentabilidade cresceu exponencialmente, e a nova geração de consumidores, especialmente os millennials e a geração Z, está cada vez mais engajada com marcas que possuem propósito. Terceiro, empresas estão avançando em iniciativas concretas de sustentabilidade, transformando a maneira como produzem e operam.
(greenTalks) – Quais os principais obstáculos para conciliar interesses públicos e privados na construção de uma agenda comum de sustentabilidade?
O maior desafio é a polarização. Perdemos a capacidade de manter um diálogo aberto para temas complexos. Muitas discussões estão sendo pautadas por ideologias, dificultando a escuta ativa e a aceitação de evidências científicas. Construir consensos exige reconhecer que diferentes setores da sociedade enxergam fragmentos distintos de um mesmo problema. Precisamos valorizar o dissenso como uma ferramenta para a construção de conhecimento.
(greenTalks) – Você tem um papel muito ativo em direitos humanos, diversidade e inclusão. Quais os principais desafios nesses temas na América Latina?
Direitos humanos não deveriam ser um tema de debate político, mas sim uma base de consenso para a sociedade. A América Latina ainda enfrenta grandes desafios, desde violência contra mulheres até a desigualdade de oportunidades para grupos minorizados. Precisamos garantir que diversidade e inclusão sejam incorporadas às práticas empresariais e políticas públicas, promovendo um ambiente de equidade real.
(greenTalks) – Quais estratégias você utiliza para engajar stakeholders na construção de parcerias estratégicas para um futuro mais sustentável?
Primeiro, é essencial abrir mão do protagonismo e permitir uma construção coletiva. Muitas parcerias falham porque uma parte tenta impor sua visão. Segundo, devemos criar um ambiente favorável ao diálogo, evitando a polarização e promovendo debates construtivos. E, por fim, um objetivo comum deve estar claro para todos os envolvidos. Mesmo que existam discordâncias nos caminhos, a meta precisa ser compartilhada.
(greenTalks) – Você esteve recentemente na Climate Week e na COP de Biodiversidade. É possível ser otimista com os avanços dessas agendas?
Sim. O processo de negociação multilateral é lento, mas já tivemos avanços significativos. Há uma convergência crescente entre as agendas de biodiversidade e clima, e vemos um movimento forte de inovação tecnológica trazendo soluções baseadas na natureza. Mesmo quando as discussões políticas avançam pouco, o setor privado, a ciência e a sociedade civil continuam impulsionando mudanças.
(greenTalks) – Ano que vem teremos a COP no Brasil. Qual sua expectativa para esse evento?
Minha expectativa é que o Brasil possa liderar a integração entre biodiversidade e clima. Somos o país mais diverso do mundo e temos um papel central na economia de baixo carbono. Além disso, precisamos garantir que a floresta seja valorizada em pé, levando em consideração as populações que vivem nela e promovendo soluções que combinem justiça social e sustentabilidade.
(greenTalks) – Quais são suas perspectivas para o futuro da sustentabilidade no setor corporativo?
Além da agenda de descarbonização, outras frentes precisam ser priorizadas, como biodiversidade, circularidade e governança da água. Modelos de negócio baseados em soluções naturais são uma grande oportunidade para o Brasil, que tem um enorme potencial para liderar a economia verde.
(greenTalks) – Para finalizar, quais conselhos você daria para líderes empresariais que querem integrar práticas sustentáveis em suas operações?
Sustentabilidade não precisa ser cara. A agricultura regenerativa, por exemplo, tem mostrado que práticas sustentáveis podem reduzir custos e aumentar a resiliência dos produtores. Existem soluções escaláveis e financeiramente viáveis. O desafio é mudar a mentalidade e entender que sustentabilidade e crescimento econômico podem andar juntos.
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