Caranguejo-uçá – Foto: Elimarcos Sacramento/Redemar Brasil
POR – OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
Iniciativa da Redemar Brasil alia tecnologia, conhecimento científico e engajamento comunitário para proteger ecossistemas essenciais e garantir a segurança alimentar das populações pesqueiras
Os manguezais são berçários naturais de uma rica biodiversidade marinha e desempenham papel crucial na manutenção do equilíbrio ecológico e econômico das comunidades costeiras. Entre seus habitantes mais emblemáticos, o caranguejo-uçá ( Ucides cordatus) tem enorme relevância para o ecossistema e para a subsistência de milhares de pescadores artesanais. No entanto, a exploração desordenada e a degradação ambiental ameaçam essa espécie e a própria segurança alimentar das populações ribeirinhas. Diante desse cenário, a Redemar Brasil lança, pela primeira vez no Amapá, o ‘Projeto Costamar’, um programa inovador que monitora as andadas reprodutivas do caranguejo-uçá e aperfeiçoa a definição dos períodos de defeso sem comprometer a renda dos catadores.
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Ciência e tecnologia aliadas à preservação
A iniciativa promove o mapeamento das andadas reprodutivas do caranguejo-uçá por meio de observação de campo e do aplicativo ‘Remar Cidadão’, que permite a participação ativa da população no monitoramento da espécie. A ferramenta digital possibilita que pescadores, gestores ambientais e cidadãos registrem informações sobre o comportamento dos caranguejos, como intensidade e período das andadas, contribuindo para um banco de dados essencial para a formulação de políticas de manejo sustentável.
Para Thiago Couto, biólogo marinho da Redemar Brasil, o diferencial do projeto está na interseção entre tecnologia, ciência participativa e gestão pesqueira. “Nosso objetivo é tornar a previsão do período de defeso mais precisa, garantindo que os caranguejos tenham o tempo necessário para se reproduzir, sem prejudicar a principal fonte de renda dos catadores. Ao cruzarmos dados científicos com os registros da própria comunidade, conseguimos maior assertividade na proteção da espécie e na manutenção da atividade pesqueira”, explica Couto.
O valor inestimável dos manguezais
Os manguezais são ecossistemas costeiros de extrema importância ambiental, funcionando como barreiras naturais contra erosão, estoques de carbono e habitats essenciais para diversas espécies marinhas e terrestres. Sua conservação está diretamente ligada à manutenção da pesca artesanal, à estabilidade climática e ao equilíbrio da vida marinha. No entanto, esses ambientes vêm sendo impactados pelo desmatamento, poluição e mudanças climáticas, colocando em risco a biodiversidade e os meios de vida das comunidades que deles dependem.
Ao monitorar a reprodução do caranguejo-uçá e promover a ciência cidadã, o ‘Projeto Costamar’ fortalece a pesca sustentável, assegura a continuidade da espécie e fomenta o desenvolvimento de estratégias de conservação ambiental baseadas em dados concretos. A implementação do programa no Amapá reforça o compromisso do Instituto Redemar com a proteção dos ecossistemas costeiros e a valorização do conhecimento tradicional das populações locais.
Engajamento comunitário e capacitação
Para que o projeto alcance seu potencial máximo, três oficinas serão realizadas junto às comunidades pesqueiras beneficiadas, capacitando pescadores e catadores de caranguejo no uso do aplicativo ‘Remar Cidadão’ e na interpretação de dados ambientais. Além disso, unidades de conservação como a Estação Ecológica de Maracá-Jipioca e o Parque Nacional do Cabo Orange estão sendo envolvidas no processo, promovendo a integração entre ciência, políticas públicas e comunidades tradicionais.
A expectativa dos pesquisadores é que o modelo de monitoramento participativo contribua para um manejo pesqueiro mais eficiente, adaptado às particularidades locais e menos sujeito a impactos econômicos negativos decorrentes de defesos mal calibrados. “Estamos observando mudanças no padrão das andadas reprodutivas do caranguejo. Com os dados coletados, poderemos ajustar as políticas de preservação de maneira precisa e justa, equilibrando conservação e desenvolvimento sustentável”, finaliza Couto.
O ‘Projeto Costamar’ representa um marco na gestão dos recursos naturais no Amapá, unindo inovação, participação popular e compromisso ambiental para garantir um futuro mais sustentável para os manguezais e as comunidades que deles dependem.